Foto: Divulgação / Silvana Rodrigues
“Enfrento caras e bocas só pela minha presença nos lugares, pelo meu cabelo, pelo meu turbante…” – Manu Miranda

Hoje é Dia da Liberdade de Pensamento, data mais do que apropriada para apresentar a vocês a mais nova colunista da sessão RespeitAme, do Tudo & Todas, a atriz e professora de teatro Manuela da Fonseca Miranda, 22 anos.

Manu cursa Licenciatura em Teatro, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, e é uma das mulheres que ergue a cabeça e segue em frente, na luta por seus ideais. Há alguns anos, mais do que nunca, ela assumiu sua negritude. Um das marcas disso é a mudança nos cabelos, que, de alisados, voltaram a ser crespos.

Entre os assuntos que ela deseja abordar aqui no T&T, estão empoderamento feminino, cultura e resistência negra. Para que vocês a conheçam, Manu nos conta em entrevista um pouco da sua história. Já dá para ver que virá muita coisa boa pela frente, garotas!

Como foi assumir sua negritude?

Meu processo começou em 2011, quando entrei na Universidade e tive contato com mais pessoas negras. Morei boa parte da minha vida em Caxias do Sul e Venâncio Aires. Ambas as cidades tem uma maioria de pessoas brancas com origens europeias. Sou fruto de uma relação inter-racial.Sempre tive uma educação voltada para os moldes eurocêntricos.

Ao chegar na capital gaúcha e ter um contato com muitas pessoas negras, comecei a vivenciar essa cultura que esteve ausente ou muito pouco presente na minha vida. Nesse mesmo ano comecei a militar em coletivos políticos estudantis.

Quando decidiu libertar os crespos?

Ainda usava o cabelo liso e então, no final de 2013, fiz o big chop, procedimento em que se corta toda parte com química do cabelo. Na época eu nem sabia que existia esse procedimento, apenas decidi muito convictamente que queria usar meu cabelo em sua textura natural e assumir minha raiz, gostando as pessoas disso ou não. Como gosto muito de mudar o cabelo, uso e abuso das cores e cortes, mas nunca de produtos químicos relaxantes e alisantes. O processo de me empoderar das minhas raízes começou em 2011, mas é uma construção diária. 

Foto: Divulgação / Arquivo PessoalDos lisos aos crespos coloridos
Algumas imagens que mostram três fases das madeixas de Manu, dos lisos aos crespos coloridos

Em 2014, junto com outros poucos estudantes negros de teatro, decidimos montar uma peça chamada ‘Qual a diferença entre o charme e o Funk?’ apenas com atores negro em cena e um diretor negro. Revolucionamos o curso de teatro onde ainda existem poucos estudantes negros, bem como em toda a UFRGS. Nesse espetáculo contamos nossas histórias e falar sobre nós é falar de negritude. 

Foto: Divulgação / Andre Reali OlmosEspetáculo
Espetáculo “Qual a diferença entre o charme e o funk”
Foto: Divulgação / Andre Reali OlmosElenco foi formado com atores e diretor de etnia negra
Elenco é formado por diretor e atores negros

Você se considera uma das defensoras da etnia negra na sociedade?

Sim. Já fiz parte de movimentos organizados e ainda participo de encontros e grupos de discussão sobre a negritude. Apesar disso, acredito que a minha militância maior está no meu cotidiano e no meu fazer artístico. Toda vez que coloco o pé pra fora de casa estou fazendo um ato político. Enfrento caras e bocas só pela minha presença nos lugares, pelo meu cabelo, pelo meu turbante… No palco dou voz às minhas angústias, enquanto uma mulher jovem negra, e, em sala de aula, sempre procuro trazer o recorte racial nas discussões com meus alunos.

Ser negra, jovem e viva é ser sobrevivente num país onde, a cada duas horas, sete jovens negros são mortos violentamente. Segundo dados da Anistia Internacional Brasil e sua campanha #jovemnegrovivo, ‘o Brasil é o país onde mais se mata no mundo. Mais da metade dos homicídios tem como alvo jovens entre 15 e 29 anos, destes, 77% são negros’.

Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal
“Hoje não consigo mais ficar quieta diante de situações de opressão, não só de racismo, mas de machismo, homofobia, transfobia e quaisquer outras opressões” – Manu Miranda

Como uma das colunistas do Tudo & Todas, sobretudo na sessão RespeitAme, o que os leitores podem aguardar?

Empoderamento feminino e cultura e resistência negra. Acredito neste espaço como um porta voz das minhas lutas e um espaço aberto de reflexão e diálogo. As minhas reflexões sobre o racismo, a cultura negra, resistência e o empoderamento da mulher negra são reflexos do meu cansaço e indignação por tanto preconceito racial que vivemos. 

 

*** Bem-vinda ao Tudo & Todas, Manu! Estamos com você na busca por mais respeito nesta sociedade tão cheia de desigualdades.

E, aos leitores, aguardem! No sábado, 18 de julho, sairá o primeiro post quentindo da Manu, especial sobre seu envolvimento com a arte.