Foto: Divulgação / Tudo & TodasNicki Minaj não teve seu clipe Ananconda e assuntou gerou polêmica envolvendo Taylor Swift
Nicki Minaj não teve seu clipe Ananconda indicado na premiação e assunto gerou polêmica envolvendo Taylor Swift

Em tempos de ‘taylorswiftização’ do feminismo e das tentativas de calar mulheres com a desculpa da sororidade, eu me peguei pensando profundamente sobre o real significado dessa palavra, que quer dizer um ‘pacto entre as mulheres e um reconhecimento de irmãs entre elas’, mas esse significado é amplo, duvidoso e, ultimamente, cada vez mais mentiroso.

Pensei em começar o texto comentando sobre a polêmica que envolveu Nicki Minaj. E é sobre isso que quero falar, mas em um contexto ressignificado das minhas angústias e de outras meninas, negras.

Para resumir a polêmica: Nicki Minaj não teve seu clipe Ananconda indicado para a categoria de vídeo do ano na premiação VMA (Video Music Awards da MTV). A rapper logo postou em sua conta no twitter a seguinte declaração: “se eu fosse um tipo ‘diferente’ de artista, Anaconda teria sido indicado por Melhor Coreografia e Vídeo do Ano”. E ainda disse mais: “seu vídeo celebra mulheres magras, você será indicada a vídeo do Ano”.

Agora repare nas frases que eu citei e veja se você encontra as seguintes palavras nas declarações de Nicki: Taylor Swift.

Achou? Não? Nem eu, nem muita gente, mas a garota achou. Disse que “não era do seu feitio (NM) colocar as mulheres umas contra as outras”. Aqui, na frase e pensamento de Taylor, a cantora usa da sororidade para calar Nicki. Silvana Rodrigues, negra, artista diz que “Se a gente pensar na sororidade como é colocada pra nós, negras, geralmente é pra nos silenciar, não é ofertando um apoio com um recorte de classe e raça, geralmente é pra não dividir o movimento”.

Quando o feminismo tradicional entra em ação com altos índices de sororidade seletiva, ele nivela todas as mulheres e convence de que todas são irmãs que lutam pelo mesmo ideal. E aí está o erro, ao meu ver.

 

Do alto de seus privilégios, como uma menina branca que sempre teve tudo na vida, inclusive as melhores chances em relação a mim, pelo simples fato da sua cor pode dizer a forma que eu tenho que lutar e me acusar de rachar as irmãs quando eu denuncio um sistema racista que envolve não só homens, mas também mulheres? Como uma mulher branca me oferece sororidade e me julga quando eu digo que contratar empregadas domésticas negras é perpetuação do racismo? Cade a sororidade dela com a negra que limpa o seu banheiro?

“Pra mim, sororidade é mais um termo criado pra que a gente não reivindique o nosso lugar” – Kyndze Rodrigues, negra, atriz e psicóloga.

Eu compreendo a luta das mulheres brancas contra o patriarcado, mas não esqueço que o racismo não é algo exclusivo aos homens. 

 

Mesmo a feminista branca que luta contra o patriarcado tem uma vida privilegiada pelo sistema racista. E como ela pode me implorar por sororidade e pedir que eu me cale para não ‘enfraquecer a luta’, dizer que somos irmãs se ela não sofre as mesmas coisas que eu?!

“Cada vez mais eu percebo que não sou feminista, não compactuo com um movimento onde pessoas que me oprimiram, humilharam e silenciaram durante toda a minha vida foram mulheres brancas” –  Camila Falcão, negra, atriz e cantora.

Concordo com a Camila. Há algum tempo venho refletindo e tendo cada dia mais certeza de que não acredito no feminismo como a melhor ferramenta de luta das mulheres. Não esse feminismo seletivo, burguês, umbigal e “taylorswiftzado” que me cala quando eu digo que o machismo não é a minha única luta. Por isso, irmãs e não irmãs, sigamos com empatia, com humildade e com reflexão. Existe muita luta pela frente, contra várias opressões. Façamos a nossa parte, fiquemos atentas e prontas para ouvir umas as outras. Mais empatia, por favor.