Mais um daqueles casos que acontecem o tempo todo, mas que felizmente (não sei se essa palavra está adequada) algumas vezes ganham projeção nacional da mídia e nas redes sociais. O fato é horrível, e nenhum ser humano deveria passar por isso, mas ao menos a projeção nos dá a oportunidade de discutir o assunto – e quem sabe, mudar um pouco do senso comum.

Dessa vez, uma criança de 11 anos, moradora de Brasília, foi vítima de estupro coletivo. Na última terça-feira, uma menina, que foi até a residência do namorado para fumar narguilé, foi obrigada a ter relações sexuais com quatro adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos. Um quinto jovem, de 20 anos, também é acusado de estuprá-la, e de gravar toda a violência.

E se ao ler o resumo, você automaticamente pensou: ‘Uma menina de 11 anos tem um namorado? E vai até a casa dele fumar narguilé? Bom então ela provocou o estupro’, vamos reformular as perguntas.

Sabemos que o Brasil é um país de grande desigualdade social, em que muitas crianças crescem sem qualquer assistência física, psicológica e material, em núcleos familiares doentes. Sabendo disso, poderíamos nos perguntar onde estavam os pais dessa criança, que não estavam zelando pela sua integridade e segurança? Podemos perguntar também, onde estavam os pais destes adolescentes, que não estavam zelando pela educação, formação moral e dignidade de seus filhos? E que tipo de formação cidadã teve esse rapaz de 20 anos, que mesmo sendo um adulto, achou normal – e até mesmo prazeiroso e divertido – estuprar e gravar o estupro de uma criança? E onde está o Estado, que deveria aplicar nossos impostos em escolas, centros de acompanhamento de crianças e adolescentes e assistência social à famílias em vulnerabilidade?

Infelizmente, vivemos em uma sociedade doente, em que a cultura do machismo ainda acha aceitável violentar meninas e mulheres, e que permite que as ‘pessoas de bem’ apontem os dedos para a vítima e digam que a culpa é dela.

NãO!

Uma criança de 11 anos não pode, em hipótese alguma, ser culpada por um estupro. Assim como uma mulher de 20, 30, 40, 50, 60 anos também não pode. Não existe short curto, caminhada sozinha, bebida alcoólica ou encontro que justifique a violência que outra pessoa (o agressor) decidiu praticar.

Felizmente, esse discurso tem sido reforçado, e aos poucos, ganha mais adeptos. No Twiiter, o assunto esteve em evidência, e muitas pessoas rebateram a culpabilidade da vítima:

Menina de 11 anos foi estuprada por 4 meninos e tem gente querendo julgar ela pq namorava com um de 17, eu nunca tive fé na humanidade mesmo

— Victor Neves (@IVictorNeves) January 14, 2017

Uma menina de 11 anos foi VíTIMA de um estupro coletivo… entendeu? Vítima, isso mesmo vítima.

— Mimada (@sarrapalacio) January 14, 2017

O pessoal se indigna mais com o fato da menina de 11 anos ter um namorado, do que com o estupro coletivo em si. 😪

— 🎀Milly🎀 (@milenalymma) January 14, 2017

Menina de 11 sofreu estupro coletivo, mas só 1 irá ter uma pena pesada, os outros são menores de idades e em pouco tempo estarão livres

— Eric Cartman Silva (@jonvictarion) January 14, 2017

Enquanto uma cultura de desrespeito a mulher prevalecer estupros coletivos como da Menina de 11 anos continuaram acontecendo.

— Letícia Tilli (@LeTilli) January 14, 2017

Que esta menina de 11 anos receba muito amor e atenção nesta vida, que ela consiga ser feliz e transformar esta dor em algo positivo. 🙏

— Catarina_K. (@digit_ando) January 14, 2017

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A Polícia Civil está investigando o caso, e o rapaz de 20 anos foi preso de forma preventiva.