Os remédios para emagrecer, também chamados de anorexígenos, atuam no sistema nervoso central causando diminuição do apetite. Porém, também interferem em outros órgãos importantes do corpo humano, provocando inúmeras reações indesejadas.
Lá em 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) baniu das farmácias três medicamentos inibidores de apetite muito populares no nosso país: mazindol, femproporex e anfepramona. Os motivos foram a baixa eficácia destes remédios e a ocorrência de efeitos colaterais graves, como arritmia cardíaca, palpitação, ansiedade, insônia, psicose e outros transtornos mentais e desvios de comportamento. Os dados que embasaram a decisão da Anvisa foram obtidos após revisão de mais de 170 estudos científicos que analisaram os efeitos destes medicamentos.
Há cerca de dois meses, o Congresso Nacional aprovou uma lei que permite a comercialização e consumo dos inibidores de apetite citados. Questiono que capacidades técnicas os políticos possuem para ir de encontro ao órgão nacional que regula e fiscaliza a venda de medicamentos no país, ferindo sua autonomia. Houve pressão da indústria farmacêutica? Imagino que interesses econômicos pesaram na balança.
Pelo lado científico da questão, estudos mostram que estes anorexígenos apresentam algum efeito no curto prazo, mas no médio e longo prazo, são ineficazes para tratar a obesidade. Mesmo aqueles pacientes que efetivamente emagrecem, ao suspender o uso do medicamento, recuperam o peso novamente. Em resumo: não são tão eficazes, não são seguros, não é todo mundo que pode usá-los, podem causar dependência, e os riscos se sobrepõem aos benefícios.
Quilos a menos, problemas a mais.
No exterior, o mazindol não é vendido nos Estados Unidos, nem na Europa desde 1999. A anfepramona até é permitida nos Estados Unidos, mas não é aprovada na Europa. E o femproporex nunca foi aprovado nos Estados Unidos e foi proibido na Europa em 1999.
Existem outros medicamentos que ajudam no emagrecimento registrados pela Anvisa, e que atendem às exigências de qualidade, segurança e eficácia. Eles estão disponíveis para que os médicos os prescrevam a quem necessite. Um exemplo é a Sibutramina que, apesar de também apresentar reações colaterais, apresenta benefício maior que o risco, quando utilizada adequadamente e para determinados perfis de pacientes.
Com a Lei sancionada no Brasil, o retorno efetivo dos inibidores de apetite banidos às prateleiras das farmácias depende de providências sanitárias da Anvisa, que precisará registrá-los novamente. Neste meio tempo, instigo que pensem se vale tudo na busca pelo corpo perfeito.
Existem estratégias eficazes para o emagrecimento, como a prática de exercícios físicos e a alimentação saudável. A perda de peso duradoura só será possível com a adoção de hábitos permanentes. É preciso que o emagrecimento seja atingido de uma maneira saudável, e quando necessário, com apoio multiprofissional: médico, nutricionista, psicólogo, educador físico.
A pílula milagrosa não existe. Infelizmente.
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Greice Dettenborn é farmacêutica, mestre em Ciências Farmacêuticas, e trabalha há 10 anos no SUS. Atualmente, é farmacêutica dos municípios de Mato Leitão e Passo do Sobrado.
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