Quando comecei a contar para as pessoas que iríamos nos mudar para a Suíça, devido ao trabalho do Cássio, meu marido, ouvi muitas vezes a mesma pergunta:
– Mas você também vai trabalhar lá?
– Não! Eu não vou trabalhar lá, por vários motivos, mas o principal é porque eu quero ser mãe em tempo integral.
Há dez anos fui mãe pela primeira vez. Sou fisioterapeuta, trabalhava pela manhã e à tarde, e fazia plantões periódicos em finais de semana e feriados. Mesmo sendo autônoma, com o apoio do meu marido, fiquei quatro meses de licença maternidade e me planejei para retornar ao trabalho somente no período da tarde e sem plantões. Mas o desejo era de permanecer em casa sendo ‘apenas mãe’.



Seis anos se passaram e tive meu segundo filho. Quando ele estava com três anos e meio, eu e minha sócia abrimos uma clínica de fisioterapia e passei a trabalhar o dia inteiro. Aquela vontade de ser mãe em tempo integral não desapareceu, apenas ficou guardada no fundo da gaveta. Quem sabe um dia…

E esse dia chegou, em fevereiro de 2017, como um presente, uma surpresa. Seria na Suíça, longe de meus familiares e amigos, com data para começar e terminar.
Bem, ser mãe na Suíça em tempo integral é quase uma necessidade. Não há creches públicas, apenas particulares e comunais (do tipo comunitárias, onde o valor pago é uma porcentagem dos salários dos pais). O ensino só se torna público e gratuito a partir dos quatro anos, quando é obrigatório.
O horário das aula também é outra dificuldade. O Henrique, com 4 anos, está no Ciclo 1, e as aulas iniciam as 8h15min e terminam às 11h40min, sendo que na quinta-feira não há aula. A Júlia, com 10 anos, está no Ciclo 2, sendo o horário de aula da 8h20min às 11h45min. Volta para casa para almoçar e retorna ao colégio as 13h45min, tendo aula até 15h20min ou 16h20min, dependendo do dia; e nas quartas à tarde não tem aula.
Os dois estão em escolas diferentes, pois aqui geralmente são por ciclos, e não há transporte escolar. É responsabilidade dos pais levar e buscar os filhos na escola. Como a Júlia já está com 10 anos, e o transporte público daqui é muito eficiente e seguro, ela irá de ônibus para a escola. Existem algumas opções para as crianças frequentarem a escola após a aula, mas todas pagas e caras.
Porém, o sistema de trabalho aqui também é diferente. É possível trabalhar com carteira assinada apenas uma vez por semana, no sábado, por exemplo, ou apenas em um turno, recebendo o equivalente as horas trabalhadas. Para que eu pudesse trabalhar como fisioterapeuta, teria que validar meu diploma e fazer várias provas, sendo que todo o processo pode levar até um ano. Restariam apenas seis meses para trabalhar. Então, sim, eu vou ser ‘do lar’.
Nesses três meses que as crianças estiveram de férias, aproveitamos muito para explorar Neuchâtel. Fizemos inúmeras caminhadas na beira do lago, passeamos várias vezes pelo Centro Histórico, sempre descobrindo uma nova ruazinha charmosa e mais uma ‘chocolatier’, e várias trilhas nas florestas, descobrindo lugares incríveis que nos proporcionaram outros ângulos de vista da cidade que estamos aprendendo a amar como se fosse nossa. Sem contar os inúmeros parquinhos, para alegria do Henrique! E aos finais de semana, os passeios em família, nós quatro, enchendo os olhos com as belas e indescritíveis paisagens da Suíça.
Durante todo esse tempo fui exclusivamente deles, e eles meus. Agora começou a escola, mas eu continuo aqui, à disposição para apoiá-los e auxiliá-los nessa nova etapa e para continuarmos com nossas aventuras nas horas vagas!
À BIENTÔT!
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