No último fim de semana, bem primaveril aqui na região báltica, aproveitamos para nos aventurarmos pelo interior da Letônia. Este pequeno país com menos de dois milhões de habitantes faz fronteira com a Lituânia, Estônia, Bielorrússia e Rússia e é quatro vezes menor que o estado do Rio Grande do Sul em extensão. Ou seja, pode-se facilmente recortar regiões do país com passeios rápidos, de um dia. Nossa viagem foi de carro, pelas estradas retilíneas do oeste da Letônia, costeando o mar Báltico e atravessando densas florestas e planícies que formam a paisagem típica desta região no norte da Europa. Pelo caminho contemplamos campos dourados de canola, povoados característicos e muitas propriedades rurais. Durante nossa única parada visitamos uma das igrejas luteranas mais antigas da Letônia, Zemite, com construção de pedra que remonta a 1567.
Situada a 130km da capital Riga, Kuldiga é um daqueles lugares que impressiona os visitantes logo na chegada pois antes mesmo de entrar na cidadezinha de pouco mais de 10 mil habitantes somos acolhidos pela cascata mais larga da Europa, com 270 metros de extensão nesta época do ano. A queda da água não passa de dois metros no entanto o efeito da correnteza e largura da cachoeira Venta criam um espetáculo incrível, um verdadeiro cartão postal de boas vindas à cidade. Durante algumas semanas da primavera pode-se contemplar os peixes saltando de volta ao rio.
O acesso principal à cidadezinha se dá através de uma ponte de tijolo à vista construída em 1874 e com vista espetacular para a cascata. Passear por Kuldiga significa voltar vários séculos, pois o vilarejo remonta ao século XIII. Neste pequeno emaranhado de casinhas medievais viajamos no tempo. Se muitas cidades da Letônia são caracterizadas pela arquitetura brutalista do regime soviético por aqui não existem os tradicionais blocos pré-fabricados dos tempos da URSS. Na verdade, a impressão é de estar caminhando por um vilarejo no sul da França, no meio do verde e palacetes antigos, pois Kuldiga tem ares medievais e esbanja charme.
A arquitetura antiga e por vezes dilapidada seduz os olhos de quem aprecia história e detalhes imperfeitos. Kuldiga é uma relíquia da Letônia de outros tempos, perfeitamente conservada como uma cápsula do tempo, recheada de telhadinhos vermelhos contornando canais com uma comunidade bem unida. A cada esquina, uma nova surpresa seja pelas ruazinhas ou na praça principal, emoldurada por casarios de séculos atrás e as calçadas lotadas de mesinhas dos restaurantes e cafés. Aliás, a gastronomia variada de Kuldiga nos surpreendeu pois sendo uma cidade pequena não esperávamos encontrar tantos locais oferecendo pratos deliciosos e atendimento excelente em três línguas: letão, inglês ou russo. Seja no comércio ou cafés a língua inglesa é bem difundida facilitando o passeio dos turistas estrangeiros (como nós!).
Kuldiga é a cidadezinha mais charmosa da Letônia, mantendo viva várias tradições folclóricas, organizada e despretensiosa no seu jeito de ser. Durante o verão o vilarejo acolhe inúmeros visitantes que vêm se refrescar na cascata ou participar dos inúmeros festivais que a cidade organiza entre eles a feira de artesanato e tecelagem.