Estradinhas estreitas recortando campos de plantações de canola e ovelhas pastando, nesta época do ano, entrelaçados por arroios e córregos de água cristalina formam a paisagem bucólica do interior do Reino Unido. Engana-se quem acredita que ao visitar a capital Londres já conhece a Inglaterra pois a verdadeira essência britânica encontra-se justamente pelos vilarejos pitorescos do interior com panoramas verdejantes de tirar o fôlego.
A Inglaterra é o país mais populoso do Reino Unido com cerca de 57 milhões de habitantes apresentando alta densidade demográfica (434 habitantes/km2) e bem menor em extensão que maioria dos estados brasileiros. As regiões rurais no país, entretanto, são muito bem preservadas. Graças ao planejamento urbano nacional, implantado há décadas o crescimento das zonas urbanas é controlado pelas autoridades governamentais seja a nível municipal quanto nacional. Através de um plano diretor arrojado, o desenvolvimento habitacional na Inglaterra se dá de maneira uniforme passando por vários processos de avaliação levando em consideração inúmeros fatores, desde o estrutura de serviços básicos, como educação e saúde até a infraestrutura de transporte e rodovias. Aqui não se pode comprar um pedaço de terra e construir a mansão dos sonhos. Aliás, na Inglaterra a venda de lotes e terrenos não existe. No interior, o mesmo plano diretor estabelece exatamente onde é permitido construir até mesmo nas fazendas e propriedades rurais. Possuir terra não cria o direito automático de edificar nela. Pelo contrário, grande parte dos campos nas zonas rurais faz parte de áreas de conservação ambiental e restrito à agricultura.
A indústria da construção civil, por outro lado, é uma das mais desenvolvidas no país. As habitações são planejadas em condomínios predeterminados, seguindo normas restritas e específicas em cada região. A grande maioria das casas segue um padrão nacional. Os ingleses detestam blocos de apartamentos residenciais em arranha-céus que praticamente não existem nas cidades do interior. O plano diretor especifica a construção, desde o tipo de tijolo, cor da porta e janelas até o tamanho das habitações. Nada de mansões pelos condomínios, tudo segue o padrão bem inglês. Em todos loteamentos é obrigatória a construção de moradia social. E assim, ao passear pela Inglaterra, em qualquer região, percebe-se a harmonia arquitetônica dos loteamentos residenciais caracterizados por pequenos imóveis padronizados. Quanto mais próximo de Londres mais caro o imóvel, comercializado pronto com cozinha completa e eletrodomésticos, como fogão, geladeira, máquina de lavar louça. A grande vantagem deste controle do plano diretor está na conservação de espaços verdes onde é proibida a construção. Aqui na Inglaterra não existe separação entre colônia e cidade. Os vilarejos no interior da Inglaterra nunca estão muito distantes de centros urbanos devido ao pequeno tamanho do país. O crescimento habitacional é muito bem controlado, restringindo-se a determinadas áreas, pré-estabelecidas pela autoridade local. As novas construções são bem vindas desde que complementem as antigas, sem criar contrastes no estilo arquitetônico. Por vezes é difícil de identificar o que é novo ou velho. Ou seja, por aqui dificilmente você verá um barraco caindo aos pedaços ao lado de um casarão.
Em qualquer parte da Inglaterra, seja lá na pontinha da costa oeste da Cornualha ou pelas regiões próximas de Londres, a paisagem bucólica do interior do país é encantadora e muito bem preservada. Entre uma cidade e outra os rincões ingleses formam paisagens charmosas e que inspiraram durante séculos artistas e escritores. São cenários de pura nostalgia, idílicos, entrelaçando prados, riachos e casarios centenários e que remetem aos romances de Jane Austen, C.S. Lewis, Agatha Christie, Emily Bronte e tantos outros escritores ingleses famosos. A Inglaterra é muito mais que Londres. Vale à pena se aventurar pelo interior, dirigindo do outro lado da estrada, recortando campos e cidadezinhas, a fim de conhecer a essência britânica.