Neca, Sandrinha, Debrinha, Ju Miranda e Teca integram as Baobás, um grupo formado por, ao todo, 17 mulheres (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)
Neca, Sandrinha, Debrinha, Ju Miranda e Teca integram as Baobás, um grupo formado por, ao todo, 17 mulheres (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Para marcar o dia 20 de julho, Dia do Amigo, conheça a história das Baobás, um grupo de mulheres de Venâncio Aires.

Existe na África, especificamente em Madagascar, uma árvore tão especial que é conhecida como ‘árvore da vida’. Trata-se do baobá, uma espécie gigante que pode viver por mais de mil anos, é capaz de armazenar água no tronco para sobreviver durante períodos de seca e é considerada sagrada em algumas culturas. Não à toa que tanto simbolismo coube, como uma roupa feita sob medida, para a história de amizade de um grupo de mulheres de Venâncio Aires que também carrega longevidade, força e capacidade de armazenar e propagar companheirismo e fé. Por isso, esse grupo virou as Baobás.

Mas o nome, aqui, é coisa recente (de quando surgiu o WhatsApp) se considerarmos uma trajetória que começou há mais de 40 anos, passou pelos corredores e bancos da Escola Zilda de Brito Pereira, no bairro Gressler; pelas noites de fim de semana de lanches e conversas no Ilgo (Cachorrão do Magrão); nos encontros na casa de uma ou de outra para tomar chimarrão e fazer o cabelo; e por bailes do Négo. Uma amizade que segue até hoje, firme e forte, como o baobá africano.

Baobás tem 17 integrantes

Atualmente, são 17 integrantes. As idades são apenas um detalhe, mas se sabe que entre elas há mães, avós e até bisavós. Algumas são irmãs de sangue e outras comadres, que batizaram filhos e filhas umas das outras. A reportagem teve oportunidade de conversar com cinco delas: Neca, Ju Miranda, Sandrinha, Teca e Debrinha. É assim que se apresentaram para esta repórter, na casa da artesã Laídes dos Nascimento, 59 anos, a Neca. Na entrevista, com chimarrão e bolo, lembraram de algumas das tantas histórias que comprovam: é uma amizade mais do que especial. “Nos encontramos quase toda semana e nos nossos encontros, na casa de uma ou de outra, não é para reclamar. Se existe algum problema, procuramos nos ajudar, nos apoiar, sempre com muita fé e rezando uma pela outra”, relata a agente penitenciária aposentada, Loni Lopes Silva, 71 anos, a Teca. A fé das amigas, aliás, ela destaca como fundamental para um momento difícil, quando um dos filhos, Luiz Felipe, enfrentou um grave problema de saúde.

Em junho, as Baobás apresentaram o projeto ‘Histórias de Resistência do Négo Foot Ball Club’, com galerias dos ex-presidentes e das Mulatas Café (Foto: Arquivo pessoal)

Parceria entre as Baobás

“Naquele momento fizemos um terço, para ajudar rezando”, revela a comerciante Débora Elisa da Silva, 57 anos, a Debrinha, contando sobre a importância da fé no problema de saúde de Luiz Felipe. Foi Debrinha, aliás, a protagonista de uma outra história muito bacana.

Em 1986, quando Teca passou no concurso público do Estado, precisava fazer um curso de seis meses em Porto Alegre. Com dois filhos, sendo um pequeno, foi Débora quem cuidou dos meninos. “O pai da Debrinha já era falecido e eram entre sete irmãos. Ela já estava em vias de começar a trabalhar numa fábrica, para ajudar na casa, mas a mãe dela, a Gessy, que era minha vizinha, disse: ‘pode fazer teu curso, Teca, a Débora ainda não vai trabalhar e vai ajudar a cuidar dos teus filhos’. Isso me emociona, porque eu não tinha condições de pagar. É um ato de amizade”, relata Teca.

Quatro dias na Cidade Alta

Em 2024, ano da maior enchente da história do Rio Grande do Sul, a água invadiu mais de um metro dentro da casa de Neca, moradora do bairro Morsch. Assim, durante quatro dias, ela, o marido, o filho e a cachorrinha Sol se mudaram para o bairro Cidade Alta, na casa de Teca. “Onde eu sempre fui para confraternizar com minhas amigas, ano passado fui acolhida num momento muito triste”, conta a artesã. Além disso, todas as Baobás se revezaram para ajudar na limpeza da casa e lavar as roupas.

As amigas revezam os encontros nas casas e também gostam de fazer passeios para cidades históricas (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Amor pelo Négo e pelo Carnaval

Outro amor em comum das amigas está a Associação Négo Futebol Clube. “O bonito da nossa amizade também está dentro do Négo, onde sempre frequentamos, e porque nossos pais também têm uma história lá dentro e de amizade”, conta a costureira Sandra Maria da Silva, 61 anos, a Sandrinha. O pai dela ajudou a construir a sede da sociedade e ela foi Mulata Café em 1983.

A partir do Négo, o Carnaval também é um sentimento dividido pelas amigas. A aposentada Jussara da Silva, 63 anos, sempre saiu como destaque nos desfiles da Acadêmicos do Samba Négo. E foi num Carnaval, no fim da década de 1980, que ela desfilou como Carmen Miranda na ala das baianas. Pela caracterização inconfundível como da cantora luso-brasileira do ‘O que é que a baiana tem?’, Jussara ficou conhecida como Ju Miranda.

O que significa a amizade do grupo?

Neca: “A amizade do nosso grupo, para mim, é como uma medicação para qualquer problema. É fé, ombro e ouvido. Nunca estamos sozinhas.”

Ju Miranda: É um acalento para a alma. Estamos sempre juntas, nos bons e maus momentos. É gratificante fazer parte há tantos anos.”

Sandrinha: “Baobá, como o significado do nome, para mim é um grupo de resistência, resiliência, companheirismo e fé.”

Teca: “Um carinho na minha alma. E nós sabemos o quanto cada uma de nós é importante na vida da outra. É coisa de irmandade também.”

Debrinha: “Estamos tão acostumas a estar juntas, mas nossa amizade sempre foi baseada na compreensão e no respeito às peculiaridades de cada uma.”