A rotina dos motoristas que carregam na caçamba do caminhão-pipa, cargas de alívio e esperança

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A estiagem que castigou o Rio Grande do Sul no fim do ano passado e nos primeiros meses de 2023 fez com que um recurso indispensável para viver se tornasse escasso para muitas famílias. Para muitos venâncio-airenses, a única forma de ter água para consumo humano e animal foi por meio do abastecimento realizado pela Prefeitura, no trabalho coordenado pela Patrulha Agrícola.

Desde o dia 6 de setembro de 2022, foram em torno de seis milhões de litros levados a mais de 50 localidades de todos os distritos de Venâncio Aires, nos mais de 773 quilômetros quadrados do território do município.

Foto: Divulgação

O transporte dessas cargas de alívio e esperança foi feito por servidores da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisp). Entre eles, estão o motorista Ismael Roni Müller, 32 anos, e o operário Carlos André Rodrigues Padilha, o Bah, de 41 anos. Os dois formaram uma das quatro duplas que atuaram no transporte de água.

Durante os meses de maior impacto da estiagem, especialmente entre setembro e o fim de abril, eles se dedicaram integralmente ao trabalho, inclusive aos fins de semana. Por dia, chegavam a transportar de cinco a seis cargas, no veículo que tem capacidade para oito mil litros de água.

Entre os principais destinos estava Paredão Pires, na divisa com Boqueirão do Leão, a 60 quilômetros da cidade. Ismael comenta que, especialmente nesses dias, a rotina era bastante exaustiva. A saída ocorria às 6h da Sisp e, depois de levar água para algumas famílias com a primeira carga, o caminhão-pipa era reabastecido mais algumas vezes em Boqueirão do Leão, para viabilizar mais entregas de água na localidade. “Nesses dias, rodávamos mais de 200 quilômetros”, comenta.

Saiba mais

  • 6 milhões de litros de água foram entregues em Venâncio Aires, desde setembro do ano passado. O abastecimento dos caminhões ocorria no quartel do Corpo de Bombeiros Militar e também foi usada água da Corsan de Vila Mariante. Nos períodos que não há situação de emergência, é utilizado um poço no Parque do Chimarrão.
  • 300 famílias precisaram de água nos últimos meses e foram atendidas pela Patrulha Agrícola.

Rotina e belezas do interior

Apesar da rotina intensa e cansativa nas entregas de água pelo interior de Venâncio Aires, o motorista Ismael Roni Müller e o operário Carlos André Rodrigues Padilha ressaltam as belezas naturais que formam o cenário de trabalho deles. Nas andanças pelos distritos do município, conheceram uma série de paisagens, incluindo várias cascatas, muitas praticamente desconhecidas, por conta do difícil acesso.

“Ao mesmo tempo que fizemos a mesma coisa todos os dias, é sempre diferente a rotina, sempre em um outro canto do município. Às vezes, num mesmo dia, em pontas diferentes”, ressalta Ismael. “Conhecemos lugares e muitas pessoas diferentes”, completa o colega.

Atualmente, Ismael segue nas entregas de água esporádicas e atua como motorista do caminhão-caçamba. Já Carlos trabalha na capatazia de Estância Nova.

Motivações e desafios pelas estradas do interior

Foto: Divulgação

Entre os desafios da estrada, o motorista Ismael cita os acessos às propriedades, muitos trechos estreitos e tortuosos e ‘peraus’ por onde o caminhão precisava passar. Houve situações, inclusive, que a viagem precisou ser interrompida. Num desses casos, em Linha Monte Belo, o veículo teve que ser abandonado no local, para que a estrada passasse por serviços de manutenção, primeiro, e foi necessário auxílio de um trator esteira.

A rotina cansativa, no entanto, não desanimava os servidores da Prefeitura, cientes da importância do trabalho. “Acima de tudo sempre tivemos o pensamento de poder ajudar as pessoas”, ressalta Bah. Os colegas ressaltam a gratidão das pessoas como um dos aspectos mais marcantes no serviço de entrega de água.

Em muitos casos, as pessoas não continham as lágrimas ao ver a água chegando na propriedade. “Não tem como não se emocionar vendo a realidade das pessoas e o quanto esse trabalho é fundamental para elas”, observa o coordenador da Patrulha Agrícola, Rodrigo Antonio Vieira Garin, o Rodrigo VT, 39 anos.

De acordo com ele, ainda hoje, o caminhão-pipa segue com entregas de água no interior, de duas a três vezes por semana. Durante o período de maior demanda, além desse veículo, outros três caminhões carregados com tanques de cinco mil litros também operaram.



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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