A história de Batoré, o ganso sinaleiro que é o xodó do Renato

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A história de amizade entre um ganso sinaleiro e um policial aposentado de Venâncio Aires.

Todo mundo, quando criança, deve ter ouvido sobre a história de um cisne chocado no ninho de uma pata e que, por ser diferente dos outros filhotes, foi perseguido e maltratado pelos animais. Sim, é o ‘Patinho feio’, escrito por um dinamarquês há mais de 150 anos. Em Venâncio Aires, a Folha do Mate soube de uma história que também remete às dificuldades de uma ave após o nascimento. Mas, diferente da fábula do século XIX, o enredo envolve um ganso sinaleiro, que nasceu com problemas numa asa e numa pata, e que ainda assim foi acolhido e virou o xodó de um policial aposentado. Essa é a história de como Batoré virou o bichinho de estimação de Renato Dreissig.

Foto: Débora Kist/Folha do Mate

Ajudinha para quebrar a casca

É numa chácara em Travessa São José, interior de Venâncio Aires, que essa história começou, há quatro anos. Lá, moram a professora Joice Dreissig, o marido, o eletricista André Leuckert, ambos com 38 anos, e os filhos, Otávio, 10, e Joana, 5. Na propriedade, comprada em parceria com o pai de Joice, o policial militar aposentado Renato Dreissig, 65, já havia alguns gansos e, certo dia, uma fêmea chocou apenas um entre outros que ela pôs.

Renato mora na área urbana de Venâncio, mas vai todos os dias para a chácara. Tem no local um passatempo e gosta de estar entre a natureza e os animais. Acaba, também, sendo uma lembrança dos tempos de infância, em Linha Chaves, interior de Santa Cruz do Sul, onde cresceu e gostava de criar passarinhos. Por isso, foi ele quem observou que aquele ovo chocado tinha algum problema.

“Eu olhava todo dia e tinha uma rachadura, mas não dava jeito de quebrar a casca. Então ajudei no ‘parto’ do ovo”, conta, entre risos, o aposentado. “Ele nasceu com a asa direita um pouco torta e a perna esquerda manca. Achei que não ia sobreviver, mas no dia seguinte já estava correndo por aí.”

Sem irmãos, afinal foi o único ovo chocado, o pequeno ganso ficou sozinho. “Ele era um bichinho muito carente, até apanhava dos outros. Foi rejeitado. Então comecei a cuidar dele. Dava ração na boca e pegava no colo. Ele ficava embaixo de uma lâmpada, para ganhar um calorzinho, igual a um pintinho de galinha. Aí virou meu xodó.”

Renato com o neto Otávio, parceiro do avô no trato com Batoré. O ganso também convive bem com as fêmeas de Labrador da família (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

O ganso sinaleiro que recebeu o nome de um personagem

Como todo animal que vai sendo domesticado, naturalmente precisava de um nome. E foi devido às características físicas do ganso sinaleiro, a asa torta e a pata manca, que a comparação com uma figura muito conhecida dos brasileiros veio na lembrança de Renato: Batoré, personagem eternizado pelo comediante Ivanildo Gomes Nogueira (1960-2022), no programa do SBT ‘A praça é nossa’ e que, além do bordão ‘Ah, pára ô!’, também chamava atenção pelo jeito ‘torto’ de andar.

O ganso gosta de carinho e de ficar no colo do aposentado (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Uma recepção feliz e barulhenta do ganso sinaleiro

Ao ouvir o ronco da motocicleta de Renato em todo fim de tarde, Batoré vai ao encontro do aposentado. Corre atrás do veículo, faceiro, abrindo as asas num recepção calorosa e fazendo muito barulho. Também carinhoso, Renato pega a ave no colo, conversa com ela e o animal até muda o ‘tom’ do grasnar. É com ele que a ave se acalma, já que, com pessoas estranhas, ainda é um pouco desconfiada para se aproximar.

Batoré cresceu solto, come milho quebrado e grama. Também adora ficar no açude, mas às vezes precisa dividir o espaço aquático com Sky, Jade e Cacau, as três fêmeas de labrador da família. O ciúme entre ganso e cachorras já foi maior, mas hoje em dia, eles convivem bem.

Joice, André e Otávio sempre se aproximaram tranquilamente do ganso sinaleiro. O menino, inclusive, também dá colo ao animal e é um grande parceiro do avô no trato com Batoré. Como o ganso é um pouco afoito no jeito de dar carinho, às vezes vem ‘desgovernado’, o que ainda assusta Joana, a caçula. “Mas ele é muito dócil. É o verdadeiro xodó do meu pai, que até beija o Batoré. Minha mãe até tem um pouco de ciúme”, entrega Joice, entre risos, se referindo à Antônia, 55 anos.

Para Renato, que para chamar o ganso se refere a ele como ‘meu querido’, Batoré é um exemplo de como a relação com animais de estimação é saudável. “Todo animal que tu dá atenção, carinho e vai amansando, ele deixa se aproximar. É bom para as crianças também, se cria uma amizade. É algo especial”, conclui o aposentado.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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