
Por Juan Grings, Leonardo Pereira e Letícia Wacholz*
Na quarta-feira, 9, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que, a partir do dia 1º de agosto, todos os produtos brasileiros exportados ao país americano serão submetidos a uma taxa de 50%. Na carta enviada ao chefe do Executivo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o estadunidense citou razões políticas, como a investigação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, fez críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e classificou a relação comercial entre as duas nações como “muito injusta” para os EUA.
Embora a nova tarifa ainda não esteja em operação – e haja tempo para que o Governo Federal faça movimentos em direção a uma solução diplomática –, a possibilidade já é vista com muita preocupação por empresários, entidades e políticos. Em Venâncio Aires, o principal impacto deve ser observado no setor do tabaco. No primeiro semestre deste ano, o país norte-americano foi o terceiro maior destino em volume e valor de negócios internacionais. A líder China e a Bélgica são os únicos destinos que aparecem na frente.
“Acompanhamos com muita preocupação, pois essa taxação vai influenciar o Brasil, o Rio Grande do Sul e também Venâncio Aires. Nós obtivemos em 2024 um valor significativo a partir de exportações para os Estados Unidos. Grande parte deste montante no setor do tabaco e também de refrigeração. […] É um momento de negociação, que é necessário calma, tranquilidade e diplomacia”, avalia o prefeito Jarbas da Rosa.
Para o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Valmor Thesing, o momento exige responsabilidade e equilíbrio. “A taxação cria uma situação bastante complexa, mas acreditamos no diálogo e em uma saída diplomática, porque ninguém está ganhando com isso, nem os Estados Unidos, nem o Brasil”, afirma.
Em manifestação recente, Trump reconheceu que deve conversar com Lula “em algum momento, mas não agora.” Já Lula expressou desejo de abrir negociação com o norte-americano, no entanto, disse que não abrirá mão de prezar pela soberania brasileira: “Esse país não baixará a cabeça para ninguém. Ninguém porá medo nesse país com discurso e com bravata.”
Competitividade em risco
No início do ano, o tabaco brasileiro pagava uma tarifa média de US$ 0,375 por quilo para entrar nos EUA. Esse valor foi acrescido em 10% em abril, no primeiro anúncio feito pelo presidente Donald Trump. Agora, com o adicional de 50%, a competitividade do produto brasileiro no mercado norte-americano fica ameaçada. “Se mantida, possivelmente, o Brasil não será mais competitivo para o mercado norte-americano”, alerta Thesing.
Vice-presidente e diretor de Operações da Tabacos Marasca, Maciel Marasca entende que a medida praticamente inviabiliza as exportações para os Estados Unidos, clientes há cerca de 20 anos. “A gente está vendo um movimento de tentativa de antecipação de alguns embarques para dentro dos Estados Unidos, para que eles se realizem ainda neste mês. Só que é um período muito curto, não dá tempo de organizar logisticamente”, lamenta.
*Com informações de AI SindiTabaco
Outros setores demonstram preocupação
O impacto em Venâncio Aires, no entanto, não deve ser sentido apenas nas empresas tabacaleiras. A Madrugada Alimentos é outro empreendimento com sede na Capital do Chimarrão que também tem, nos Estados Unidos, um mercado. São exportados chá, erva-mate e gelatina para os norte-americanos. Conforme o diretor Lúcio Metzdorf, é preciso aguardar os próximos passos, esperar uma possível negociação e observar se haverá a implementação na prática dessas tarifas. “Não podemos falar nada agora. Também não sabemos como será a reação do consumidor interno dos Estados Unidos”, explica.
No contexto estadual, o cenário é semelhante. O presidente Sistema Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, vai na mesma direção de Metzdorf e defende que negociação e mediação são os principais caminhos.
Os Estados Unidos representam o segundo maior destino das exportações gaúchas (8,22% do total exportado em 2024) e o terceiro país nas importações do Rio Grande do Sul (10,7%). “A importância dos Estados Unidos é gigantesca para nós. Exportamos muito tabaco, madeira, calçados, celulose. Essas tarifas nos atingem diretamente. Por isso, nossa posição é pela mediação para a solução do impasse comercial”, destaca Bier.
Desde o anúncio das tarifas, o presidente da Fiergs segue em contato com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e dirigentes das demais federações industriais para que juntem esforços em favor da negociação. “Temos de intermediar essa relação, porque se ficar como está, será muito ruim para todo o Brasil, para todas as indústrias e para todo o comércio. É hora de ter calma e negociar, com toda a força da indústria brasileira unida, para superarmos o impasse que está criado”, reforça.
Assim como a CNI, o Sistema Fiergs entende que não há fato econômico que justifique a elevação das tarifas, que ameaça a competitividade das aproximadamente 10 mil empresas brasileiras que exportam para os EUA.
Na visão de Bier, se mantida, a mudança ameaça empregos e a operação de muitas indústrias. “Acredito que o presidente Trump não venha a exercer esses 50% anunciados. Em casos parecidos com outros países, ele acabou negociando. Por isso, o caminho é a mediação, a conciliação.”
*Com informações de AI Fiergs
Em números
- No primeiro semestre de 2025, os Estados Unidos foram o terceiro maior país a receber exportações de Venâncio Aires, com US$ 35.920.768 (aproximadamente R$ 200 milhões na cotação atual), atrás de Bélgica e da China (esta responsável por US$ 234.246.587, R$ 1,3 bilhão).
- Em 2024, os norte-americanos foram o segundo maior importador de produtos da Capital do Chimarrão. Foram US$ 111.111.873 (R$ 617 milhões), atrás apenas da China, com US$ 470.450.917 (R$ 2,6 bilhões).
- O setor mais impactado é o do tabaco, que equivaleu a aproximadamente 95% das exportações em 2024.
* Fonte: Site Comex, do Governo Federal
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio mostram que, de janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou 19 mil toneladas de tabaco aos Estados Unidos, gerando US$ 129 milhões em receita. No acumulado de 2024, foram 39,8 mil toneladas e US$ 255 milhões em vendas externas para o país. Isso representa cerca de 9% das exportações totais brasileiras do setor, que alcançam, em média, 500 mil toneladas por ano para mais de 100 países.
Alternativas
- Presidente do SindiTabaco, Valmor Thesing pondera que, considerando a grande demanda mundial por tabaco, “é muito provável que o produto seja remanejado para outros destinos.
- No mesmo sentido, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse, em pronunciamento nas redes sociais, que o Governo Federal vai buscar explorar novos mercados para minimizar o impacto das taxas impostas por Donald Trump.
- “Vou reforçar essas ações, buscando os mercados mais importantes do Oriente Médio, do Sul Asiático e do Sul Global, que têm grande potencial consumidor e podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras”, afirmou.
US$ 1,7 bilhão
Foi o déficit brasileiro no comércio com os Estados Unidos no primeiro semestre de 2025, segundo dados da Amcham Brasil.