Ipês colorem as ruas de Venâncio Aires (Foto: Júnior Posselt/Folha do Mate)
Ipês colorem as ruas de Venâncio Aires (Foto: Júnior Posselt/Folha do Mate)

Já é tempo do perfume suave das flores exalando no ar. Iniciou oficialmente nesta segunda-feira, dia 22 de setembro, às 15h19min, a primavera. A estação das flores já predomina em Venâncio Aires, com o colorido tomando conta das ruas e dos pátios das residências, desde as orquídeas e as rosas até os imponentes ipês. A chamada estação de transição, entre o inverno e o verão, vai durar até o dia 21 de dezembro, às 12h03min, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Mudanças climáticas antecipam a estação das flores

Com a chegada da primavera, a floração de árvores como ipês e patas-de-vaca em toda a região chama a atenção e encanta a comunidade. Porém, conforme análise do biólogo, professor e especialista em Entomologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Andreas Kohler, está ocorrendo a antecipação do florescimento.

“Nosso clima está mudando, e não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o mundo. Estamos observando que a primavera, e consequentemente a floração, tem começado cada vez mais cedo”, afirma. Ele aponta que, a cada ano, o início da floração se adianta em quase uma semana.

“Com base em dados que tabulamos e analisamos na universidade, nos últimos 20 a 25 anos, observamos que, na média, a floração começa progressivamente mais cedo”, reforça o professor. A causa, segundo ele, está ligada ao aquecimento global. “O espaço entre o inverno e o verão, que antes era uma primavera gradual, agora acontece de forma muito mais rápida. Temos algumas semanas de frio e, de repente, o calor chega com intensidade. As plantas e os animais sentem essa mudança e iniciam seus ciclos mais cedo”, esclarece.

O grande problema dessa antecipação é a dessincronização entre as plantas e os animais. “As plantas se adaptam mais rápido aos efeitos climáticos. Já os animais precisam de mais tempo”, alerta. Essa condição significa que muitas flores abrem quando seus polinizadores, como abelhas e pássaros, ainda não estão em atividade.

“Em um estudo que realizamos com os pés de pera plantadas nas ruas de Santa Cruz do Sul, observamos que a quantidade de frutos formados é muito menor hoje. Antigamente, moradores relatavam colher cinco ou seis baldes de frutas. Hoje, conseguem apenas um ou dois, pois não ocorre polinização”, detalha.

Flores apresentam novo cenário para a Igreja Matriz (Foto: Júnior Posselt/Folha do Mate)

Chuva acima da média e retorno do La Niña

Para detalhar a previsão do tempo para o período e projetar o cenário climático para a nova estação, a Folha do Mate conversou com a meteorologista do Núcleo de Informações Hidrometeorológicas (NIH) da Univates, Maria Angélica Cardoso.

Segundo a profissional, a primavera tem como principal característica o aumento gradativo das temperaturas, com maior frequência de dias de calor. Neste ano, a estação começará sob um cenário de neutralidade climática, ou seja, sem a atuação dos fenômenos El Niño ou La Niña.

Contudo, os modelos climáticos projetam uma possibilidade de retorno do La Niña entre os meses de outubro e dezembro. “Conforme o último boletim divulgado pela NOAA [Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos], o fenômeno pode se configurar nos próximos meses”, alerta a meteorologista.

O que é

O La Niña é caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Para que seja oficialmente decretado, a temperatura da superfície do mar precisa se manter abaixo de -0,5°C por um período consecutivo. “Já temos observado temperaturas com anomalias negativas, mas o fenômeno ainda não foi decretado”, afirma.

Para o Rio Grande do Sul, a atuação do La Niña geralmente reflete em uma diminuição e irregularidade das chuvas. “É muito comum termos semanas de tempo seco e firme, e, de repente, uma chuva intensa em um curto período, que não é suficiente para repor as perdas nos mananciais”, detalha.

Além disso, o fenômeno aumenta a frequência de frentes frias, que podem provocar frio tardio e, até mesmo, geadas nos pontos mais elevados do estado entre outubro e o início de novembro.

Previsão para a primavera

  • A tendência para os próximos três meses é de que a chuva fique ligeiramente acima da média climatológica. A previsão indica um setembro com volumes mais expressivos de chuva, outubro em torno da normalidade, e novembro e dezembro com chuvas um pouco abaixo do esperado.
  • As temperaturas devem ficar ligeiramente acima do normal, com grande amplitude térmica. “Não se preveem períodos de calor muito prolongados no começo da primavera. Além disso, passagens de frentes frias aumentam a chance de termos aquele frio tardio”, afirma.
  • A primavera também é um período com maior incidência de eventos extremos, como chuvas fortes com totais elevados em curtos intervalos, temporais com forte atividade elétrica, granizo e rajadas de vento.

A formação de nevoeiros, que reduzem a visibilidade durante as noites, madrugadas e início das manhãs, também é comum na primavera.

Ipê-amarelo

A chegada da primavera é anunciada pelos ipês, especialmente o amarelo, que predomina em grande número em Venâncio Aires. A árvore é símbolo do município de Lajeado. O ipê-amarelo também é a árvore símbolo do Brasil, já que não são encontrados em outros países do mundo, além da América do Sul.

Júnior Posselt

Repórter

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