A Luma, a Lua e a Magui eram cadelas de raças distintas, porém ocupavam um espaço significativo no meio em que viviam. Independentemente do histórico e da importância ‘catiorínea’ de cada uma, as três foram vítimas de ataque cardíaco por conta de fogos de artifício. E isso, que nem era época de réveillon. A primeira, sem raça definida (SRD), com dez anos, chegou à casa de seus tutores, em Venâncio Aires, ainda bebezinha. A segunda era da raça policial, de quatro anos, uma cadela farejadora que pertencia à Polícia Rodoviária Federal, do Espírito Santo (PRF). A terceira era uma boxer adulta, residente na Argentina.
Luma era muito serelepe, mas ‘adorava’ um colo e vivia feliz ao lado de seu filho ‘Guri’, há oito anos, sempre muito carinhosa com ele e com sua família humana. No entanto, quando ouvia o primeiro estampido de um foguete se desesperava e precisava sentir-se amparada. Ainda muito jovem sofreu convulsões por conta de foguetes. Porém, no dia 8 de novembro, ela não resistiu. Após uma carreata com ‘foguetórios’, que passou pelo bairro Gressler, ela convulsionou e se despediu, deixando órfão seu filhote e a impotência de seus tutores diante da rapidez que partiu.
“Na minha opinião, não se deveria fazer necessário uma lei para isso [fogos], bastaria que as pessoas se conscientizassem que podemos evitar o uso. Shows com fogos sem ruídos também fazem um espetáculo lindo e calmo para nossos amiguinhos.”
LUCAS LORENZOM – Médico Veterinário
Outra morte por parada cardiorrespiratória, conforme amplamente divulgado na imprensa, foi da cadela Lua. Ela morreu dia 23 de novembro, por conta dos fogos de artifício soltos após a vitória do Flamengo sobre o River Plate. Em nota à imprensa, a PRF disse que a cadela policial “deixa saudade”. O terceiro caso, que viralizou nas redes sociais foi da Magui que morreu abraçada ao seu tutor, enquanto este tentava acalmá-la.
ALERTAS
O médico veterinário da Clínica Quatro Patas, Lucas Lorenzom, alerta que os cães se incomodam com os barulhos, justamente, por ter uma capacidade auditiva muito maior que a dos humanos. “Cada vez se torna mais comum os relatos de casos onde cães sofrem paradas cardiorrespiratórias em função dos fogos”, declara. O profissional alerta que ao perceber um aumento na frequência cardíaca e respiratória, inquietação, língua arroxeada, vômitos e crises de tosse aguda, o animalzinho pode estar entrando em um quadro cardíaco grave. Procurar recurso imediatamente é o caminho, isso quando der tempo (grifo da repórter). Lorenzom destaca também que se tem relatos e, inclusive, muitos atendidos por ele que se machucam em telas, muros ou cercas, por tentarem fugir em momento de desespero por conta dos fogos.
- A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou, recentemente, uma lei que proíbe fogos com ruído, no estado. Medida prevê multa de R$ 2 a R$ 10 mil. O texto original foi modificado por uma emenda que também estipula a proibição dos fogos com ruídos acima de 100 decibéis.
OLHAR DA REPÓRTER
Para contar a história das nossas fontes sobre suas dores em relação aos ‘filhos de quatro patas’ – assim como em qualquer matéria – precisamos, sem dúvida, o compromisso com a verdade, imparcialidade, mas acima de tudo, respeito aos seus sentimentos. No entanto, somente vamos entender – de fato – o que se passa com o outro, quando sentimos ‘na pele’ a dor da partida. Por isso, afirmo, que perder a Luma nesta situação me deixou muito entristecida e por isso, apelo: no Natal, no réveillon, ou em qualquer comemoração, respeitem as pessoas doentes, as crianças autistas e também os animais.