DIA DAS MÃES
O segundo domingo do mês de maio é dedicado às mães. Para marcar a data, comemorada neste 10 de maio, a redação da Folha do Mate fez um convite especial para a jornalista Débora Kist. A repórter da Folha vive um dos momentos mais especiais da sua vida: a maternidade.
Em licença-maternidade, a mãe do Rafael dedicou um momento entre uma mamada e outra, na tarde desta sexta-feira, 8, para uma outra paixão, a escrita.
Nesta página, ela compartilha conosco a experiência como mãe de ‘primeira viagem’ e, claro, a expectativa pelo primeiro Dia das Mães.
Com muita sensibilidade e carinho, Débora falou dos primeiros meses do filho – na quarta-feira, 6, ele completou dois meses – e da “era vírus”, que trouxe mais do que o isolamento social, mas também angústia e saudade. São 3.278 caracteres que valem (e muito) a leitura.
Para a Débora e todas as mamães, um feliz, saudável e abençoado Dia das Mães.
Que em 2021 a data seja marcada por muitos abraços apertados.
Letícia Wacholz – Editora
Meu primeiro maio
Rafa. Este apelido foi a palavra que mais pronunciei nos últimos dois meses. O nome todo, Rafael, sai às vezes, quando, ‘involuntariamente mandona’, quero chamar atenção desse rapazinho de pouco mais de quatro quilos e quase 60 centímetros. Meu filho, a razão do meu primeiro maio como mãe.
Ainda estou assimilando essa nova realidade, mesmo já passados dois meses. Por isso não tenho certeza se sou ‘mãe mesmo’ desde o dia 6 de março, quando vi, ainda todo enrugadinho e com aquelas coisas viscosas da placenta, essa pessoinha que, literalmente, virou meu mundo. Meu mundo, mesmo que ‘tudo’ seja do pai. “Ele é a cara do Sérgio!”, exclamaram as poucas pessoas que o viram, restritas em tempos de pandemia, dizendo que é uma miniatura do meu marido. Reconheço, sem frustração alguma, mas não abro mão de reivindicar o formato das unhas.
Rafael é saudável e cresce lindamente. Entre mamadas, fraldas, sonecas, sorrisos banguelas, chorinhos e vacinas, a tentativa de mãe aqui vai crescendo junto. Todo dia. E vou crescendo como o Rafa, com conquistas, mas também receio. Isso faz parte do tal puerpério, que não sei se funciona pelas coisas do coração ou dos hormônios, mas que dói, em muitos aspectos.
Primeiro, aquela sensação de vazio imenso no peito, quase um luto. Mas também a dor física, porque amamentar não foi fácil nas primeiras semanas. Nenhum manual de instrução seria útil, porque cada mulher passará de uma forma. Para mim foi sofrido, mas tudo superado, felizmente.
E, vejam como é a vida, que o tempo de superação nessa lida materna já tenha me proporcionado um segundo domingo de maio para comemorar. Agora não apenas como filha, mas como mãe.
Claro que são só dois meses e por isso não ousaria nunca me comparar a tantas mães que amanhã terão um dia só para elas. Nem sei qual será minha reação ao ouvir um ‘parabéns’ porque estou longe de ser digna de tal.
Digna como minha mãe é. Essa avó querida que, na última semana, depois de muito tempo, segurou o neto nos braços. Depois de seis semanas, pegou o Rafael no colo de novo. Mas estava de banho tomado, roupa limpa, mãos lavadas em álcool gel e máscara. Enrolou ele bem e fez dormir, após uma crise de cólica.
Então chorei. Chorei de angústia por essa ‘era vírus’ que parece longe de acabar. Chorei por não ter coragem de dizer para minha mãe (!), ao natural, “pega ele”. Mas também chorei, emocionada, por ter a oportunidade de vê-la segurando meu filho e fazendo algo simples e de direito de qualquer vó.
Eu e o Rafa chorando, cada um com suas dores e medos, e a dona Gessí ali, firme, só com os olhos de fora da máscara e os quais me diziam que tudo vai passar. Naquele silêncio que ‘diz’ tudo, ela consolou filha e neto.
Será que um dia vou ser forte assim? Forte como tantas mães que provavelmente estarão sozinhas neste domingo ou sem abraços e, ainda assim, irão aguentar e seguir?
E quando penso nessa força, talvez eu tenha dimensão, na minha total inexperiência, de que ser mãe vai além de uma comida saborosa e de um ‘não esquece o casaco’. É uma prova de vida diária. É um zelo constante. É um colo de vários formatos. É doação e agradecimento. É um amor sem fim.
Obrigada, Rafael, pela oportunidade de te dar tudo isso. E obrigada, mãe, por a vida toda me dar tudo isso.