São em linhas de cadernos que ela faz rima e dá vida as palavras. Sem hora ou dia específico, dona Olinda Fagundes de Freitas, 83 anos, encontra inspiração na família, em especial nos netos e bisnetos, e na natureza, para escrever seus poemaspoesias. Natural de Venâncio Aires e descendente de portugueses, ela passou a infância e adolescência na localidade de Linha Bem Feita, onde vivia com os pais, Antônio José Fagundes e Eliza Medeiros Fagundes e os irmãos Jaci, Hilda, Antônia, João Paulo e Idalino.
Mãe de três filhos – a Ivete, a Rejane e o Renato (já falecido) – dona Olinda casou-se aos 19 anos com Percival Nunes de Freitas, (in memorian), conhecido na comunidade como ‘seu Cici’. “Conheci o amor da minha vida aos 16 anos e fomos casados durante 61 anos”, recorda. Atualmente, a família ainda é composta por sete netos e oito bisnetos. Para cada um deles, há um poema escrito por ela. Inclusive, a primeira vez que redigiu um poema foi em 1981, quando a primeira neta nasceu.
INSPIRAÇÕES
Braço direito do marido na abertura da primeira autoescola de Venâncio Aires, Olinda preza pela família e gosta de aproveitar os momentos para estar com os familiares. Além disso, ela ressalta que os pais deixaram muitas mensagens de fé e coragem, ensinamentos que segue ainda hoje. “Agradeço a vida que eu tive com a minha família. Porque cada dia a gente escreve uma página. E de todas as que eu já escrevi, fui muito feliz”, compartilha.
Apaixonada pela natureza, em especial pelas rosas – que podem ser vistas no pátio ou como enfeites internos da casa e da cuia do chimarrão – dona Olinda procura refletir também sobre esse tema quando faz os versos. Ela conta que não tem um horário específico para escrever.
Dias desses, estava deitada quando a inspiração para escrever surgiu. Na ocasião, ela levantou, sentou à mesa da cozinha – seu local preferido para escrever e receber as amigas em momentos de confraternização – ‘puxou’ o caderno e a caneta e externou o que estava sentindo. “Isso de levantar da cama para escrever acontece com muita frequência”, relata. Segundo ela, a veia artística é de família. Inclusive, dona Olinda também interpreta ao violão algumas de suas obras.
“Hoje, com 83 anos posso olhar para trás e dizer que, mesmo com os percalços, fui muito feliz.”
OLINDA FAGUNDES DE FREITAS
PÁGINAS ESCRITAS
Em uma pasta preta, ela guarda as cópias digitadas de quase todas as poesias já escritas, nestas quase três décadas. Para a organização, conta com a ajuda da filha Ivete Schwingel. Os escritos à mão recentemente ainda estão no caderno, mas em breve farão parte do ‘Álbum de ensaios poéticos’ – um acervo das obras da dona Olinda. Em meio a esses arquivos, também estão poemas feitos a partir de pedidos da comunidade, como a letra do hino da Escola Estadual de Ensino Médio Monte das Tabocas. “É uma satisfação e uma alegria olhar para essas páginas. Sinto muita emoção quando as folheio”, destaca.
Além de Venâncio Aires, Olinda viveu quatro anos em Santa Clara do Sul e um ano em Lajeado. Com o marido, conheceu diferentes lugares, como o Rio de Janeiro, Brasília e Foz do Iguaçu.
Atualmente, além de escrever poemas, a venâncio-airense usa o tempo livre para receber as vizinhas, que são consideradas da família, jogos de caça-palavras, fazer pilates e para ler. Além disso, desde 2010 ela participa da Associação Amigos do Cemuc, hoje, Núcleo Luso-Açoriano de Venâncio Aires.
Olinda relata que integrar o Departamento Cultural ‘Os portugueses’ é algo que lhe faz muito bem. “Temos reunião mensal, trabalhamos pela cultura portuguesa, fizemos passeios culturais. É um grupo de amigos muito bacana.” Recentemente, ela teve quatro poesias publicadas no livro “Autores Luso-Brasileiros 2019”, lançado neste ano. Outra publicação, de seus poemas está registrado no livro ‘Venâncio buscando raízes’, lançado por Maria Zulmira Portella de Moura, do AACemuc.