Pra contar histórias: Natal e virada para o Ano-Novo na estrada

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*Por Jaqueline Caríssimi

As recordações do motorista de ônibus Silvano Gilberto Loebens são a realidade deste Natal e da virada para o Ano -Novo de muitos motoristas. Hoje, Puff como Silvano é conhecido, à espera da aposentadoria em 2020, tem a oportunidade de felicitar os amigos e motoristas que estão, longe da família, nas estradas. “Muitos, com certeza, comendo marmita dentro do ônibus, sem poder estar com a família no fim do ano, ou passando o Natal, ou mesmo o aniversário dos filhos porque estão trabalhando, longe daqui, nas estradas”. A fala é de quem já viveu esta experiência durante três décadas de profissão, tem 55 anos, é pai de Thais e de Thales. Morador do bairro São Francisco Xavier é irmão do Álvaro Loebens e o filho mais velho da dona Irani Maria Loebens, de 74 anos.

“Minha vida se transformou quando conheci a Silvana, minha primeira esposa, a quem eu agradeço pela compreensão das minhas viagens. Eu fui um pai ausente e não tenho vergonha de dizer isso. Eu estava sempre na estrada e não vi o Thales e a Thais crescerem. Hoje são jovens, bonitos, mas a gente se dá muito bem, eles trabalham, têm a semana cheia e eu viajando, mas a gente tenta organizar para continuar com a nossa união”, conta Silvano e deixa um conselho aos pais: “Eu diria: cara aproveita bem os teus filhos, a alegria deles no dia a dia, porque quando a gente vai ficando mais velho e eles vão tomando o seu caminho são como os pássaros que voam”, conclui o motorista.

Silvano pretende cursar a faculdade de Educação Física. O gosto veio dos jogos de futebol quando era titular dos times Matriz, de Linha Brasil e do time de Arroio Grande.

A trajetória profissional de Silvano se iniciou em 1983, no atendimento da loja Comercial Mahle. No mesmo período começou a atividade na empresa de ônibus Expresso Albatroz, onde atuou por dez anos. Na época, fazia o roteiro dos alunos para a Faculdade de Santa Cruz do Sul (Fisc), hoje Unisc. “Foi onde fiz muitos amigos, tenho muitas histórias e lembranças de boas risadas”, diz.

Com o passar dos anos, Silvano conta que foi convidado para atuar na empresa Auto Viação Venâncio Aires, Viasul, onde trabalhou durante 20 anos como motorista no fretamento de turismo e linhas longas. A mais distante foi de ônibus para Salvador, na Bahia.

Tenho muito a agradecer: “O Clécio Buchner e o Diego da Viasul me colocavam na escala de boas viagens, foram pessoas legais comigo, assim como todo quadro de funcionários da Viasul, foram 20 anos de uma convivência especial”, salienta.

Atualmente, Silvano dirige a linha de turismo dos ônibus da empresa Trans Spress de Passo do Sobrado. “Eu acredito que mais de 60% da população de Venâncio já viajou comigo”, diz ele que sente-se feliz em ser reconhecido pelos passageiros. “ É muito bom poder ouvir que a viagem foi boa e de poder oportunizar a estas pessoas conhecerem novos lugares, de saírem, de serem alegres, com companhia e amizades. Isso tudo não tem preço”. Silvano carrega a honra de nunca ter se envolvido em acidente grave ou ter sido vítima de assalto nas estradas.

Além de motorista, Puff dá uma arriscada na música e se diz aprendiz de teclado (Foto: Jaqueline Caríssimi/Folha do Mate)

MOTORA DA ASSOEVA

Durante cinco anos Silvano foi o motorista do transporte dos jogadores da Assoeva. Inclusive no sábado, 14, foi ele quem transportou a equipe no jogo em Seberi. “Pra mim foi um orgulho e tenho amigos até hoje, jogadores que estão na China e aqui mesmo no Brasil, a gente se fala até hoje, sem falar da oportunidade que tive de viver a emoção de assistir aos jogos ao vivo”, ressalta.

Uma das histórias foi quando levou um tapa de uma dos ícones do futsal, o jogador Falcão. Silvano recorda que o jogo foi em Sorocaba. A Assoeva ganhava de cinco a quatro e no finalzinho do jogo a torcida adversária invadiu o campo. Na tentativa de puxar o jogador Zico (Assoeva na época) do meio de campo, Silvano conta que acabou levando um tapa no rosto do Falcão. No jogo seguinte encontrou Falcão e contou o ocorrido. Acabou ganhando autógrafo, camiseta e fotografia com o ídolo. “Mas depois deste tapa veio a alegria”. (risos)

O QUE MARCOU

Há uns quatro anos, estava na linha de Joiville, na ponte Ascua quando deparou-se com um caminhão na contramão do sentido da rodovia. “Dei sinal de luz e ele continuou na contramão e quando chegou uns dez metros passou e puxou do lado do ônibus. Quando passei da ponte, encostei ônibus e chorei muito lembrando dos meus filhos e da família” recorda Silvano como sendo este um momento marcante. “Outra marca que carrego comigo é do meu amigo Elemar Novotny. A gente era companheiro de viagens e fazia tanta coisa legal. Ele teve câncer, lutou muito por isso, retornou ao trabalho e com o tempo o câncer voltou e ele faleceu. Este foi cara que me marcou pra caramba, peço que ele esteja bem lá em cima”, conta emocionado.

Outro fato marcante foi a perda da irmã mais velha Silvana, em agosto deste ano. Depois de uma cirurgia de risco ela faleceu na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). “Minha mãe sofre muito com isso. Não é certo a mãe enterrar um filho”,diz.

Lembranças da infância com os irmãos: Silvana, Silvano e Álvaro (Foto: Jaqueline Caríssimi/Folha do Mate)

O APELIDO

Quando criança tinha um urso de nome de Puff. Como sempre estava com o urso, acabou virando apelido que Silvano diz que acha carinhoso: “ É legal, eu gosto e não me importo que me chamem de Puff, afinal é nome de ursinho”.

A MÚSICA

Além de motorista, Puff conta uma peculiaridade: É compositor e cantor. Arranha alguns dedos no teclado, mas na parceria do amigo Evandro Dicken – que é músico profissional – resolveu compor uma música que rendeu mais de seis mil visualizações na internet. Os amigos da Banda Porto do Som também deram uma ‘forcinha’, como se refere Silvano. “Regis me ajudou um pouco e a música está aí”.

    

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