s 50 anos que tem, mais de 20 Vilnei José Ferreira já dedicou à profissão de narrador de rodeios. Natural de Rio Pardo, desde os 2 anos ele vive em Venâncio Aires. Atualmente, a residência está localizada em Linha Hansel, interior da Capital Nacional de Chimarrão. Apaixonado por cavalos desde criança, Ferreira recorda que o vínculo com o animal começou, ainda na infância, pelo estímulo do avô paterno. “Foi com ele que aprendi a andar a cavalo. Meu pai também sempre gostou muito disso. É algo que vem de família”, ressalta.
Antes de se dedicar à vida de narrador, entretanto, Ferreira era ginete e também laçador. Segundo ele, o dom para a função que desempenha há, pelo menos 20 anos, foi descoberto pelo grande parceiro de profissão e amigo de longa data Ênio Flores (in memorian) em um evento promovido em Venâncio Aires. “Durante o rodeio ele tinha me pedido para narrar alguns momentos. No fim, ele me chamou e disse: ‘Vilnei, estou parando de narrar e tu tem potencial para isso, tem voz boa e um certo conhecimento de campo, por que tu não segue nisso?”, recorda.
Na época, Ferreira ainda não tinha interesse em seguir no ramo. No entanto, no mês seguinte ele foi convidado por Flores para auxiliar em um rodeio do CTG Sentinela dos Pampas, em Candelária. “Fui para laçar, porque narrar, até então, não passava pela minha cabeça. Quando cheguei lá [em Candelária], ele me pediu para ajudar e eu comecei a narrar. A partir desse dia eu entrei para o mundo dos rodeios. Ênio Flores é o nome que fica e faz parte da minha história”, conta, emocionado.
EXPERIÊNCIA
Para Ferreira, que é credenciado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) para realizar narrações de rodeios em municípios que integram a 24ª Região Tradicionalista (24ª RT), a humildade é a característica mais importante para quem deseja iniciar uma carreira nessa área. “Todo fim de semana tu vai para uma cidade diferente e precisa ser humilde para saber tratar bem as pessoas e para adquirir conhecimento”, observa.
Quando questionado sobre o que ser narrador representa, Ferreira não tem dúvida ao responder: “O microfone me deu muitas coisas. Me deu amizades, me deu conhecimento. A estrada ensina a gente. Coisa boa chegar em uma cidade diferente e o pessoal te receber com carinho. Tu crias um vínculo com esse povo e adquire conhecimento. Eu sou um filho da estrada”, compartilha.
Para ele, a experiência também é um ponto muito importante. “Tem rodeios que eu narro há 17 anos. Tu precisas ter conhecimento sobre as regras dos eventos, sobre raças de cavalo e de gados, sobre o tipo de pelagem dos bois, sobre quais são as exigências da pilcha e precisa saber o que está acontecendo na prova. Nós só vemos a imagem, é como uma televisão no mudo, por isso trabalhamos sobre pressão. Além disso, a voz tem que ser de ferro”, comenta.
Para ser credenciado como narrador do MTG, Ferreira passou por testes que envolviam aspectos de dicção, de conhecimento e de desenvoltura dentro do rodeio. Atualmente, ele participa, anualmente, de aproximadamente 30 rodeios, tendo folga em apenas dois meses do ano. Além da profissão de narrador, o morador de Linha Hansel, é produtor rural.
Entre os momentos marcantes no tempo em que atua como locutor de rodeio, Ferreira destaca o dia em que narrou a filha, Camila Ferreira, 25 anos, laçando e ela foi campeã do evento. Ele também salienta que hoje o foco do rodeio é as crianças. “Dentro da nossa região temos muitos destaques. Eles são pequenos e estão aí, laçando muito bem junto de adultos”, avalia.
*Colaborou Jaqueline Carissimi