Reiki, barras de access, auriculoterapia, reflexologia. Os nomes podem ser até soar estranhos para algumas pessoas, mas, têm sido cada vez mais conhecidos nos últimos tempos, na promoção de bem-estar, alívio de dores, ansiedade e sintomas de saúde mental, e contribuído até mesmo na redução do uso de medicação.
As terapias citadas no início deste texto estão entre Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs), terapias não convencionais reconhecidas pelo Ministério da Saúde e disponibilizadas pela rede pública. Elas não substituem o tratamento tradicional, mas, cada vez mais, têm sido utilizadas como complemento à medicina tradicional, em uma abordagem holística, que trata a pessoa de forma integral, considerando aspectos físicos, mentais, emocionais e sociais.
“Muitas questões, especialmente emocionais, podem ser sanadas por meio dessas práticas. Elas contribuem para a qualidade de vida, como forma de prevenção e também como um tratamento complementar”, destaca o coordenador de Saúde de Venâncio Aires, Jonas Caríssimi. As práticas são disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2022. Neste ano, a forma de atendimento mudou e os terapeutas credenciados deixaram de atuar dentro das unidades de saúde – para adequação a uma exigência legal.
Agora, a partir de um encaminhamento do posto de saúde, que pode ser feito por médico, enfermeiro ou dentista, o paciente procura um dos profissionais credenciados e o procedimento é feito no consultório particular, a exemplo do que ocorre com outros serviços, como fisioterapia.
Atualmente, são cinco profissionais credenciadas à Secretaria Municipal da Saúde: Claudete da Luz, Édna Perosso Luviza, Elaine Ferreira Heissler, Gheísa Marques e Isabel Landim. Por mês, são disponibilizadas 160 cotas, limitadas a 20 por procedimento, para cada profissional.
O custeio é feito por meio de recursos de emendas impositivas da Câmara de Vereadores. Para o segundo semestre deste ano, estão disponíveis R$ 83 mil. “Há uma procura acentuada das práticas e vemos os bons resultados que elas têm gerado. Esperamos que para o próximo ano mais vereadores auxiliem no direcionamento desse recurso para que possamos seguir com essa política pública em benefício da população”, ressalta o coordenador Jonas Caríssimi.
Além das terapeutas credenciadas, há profissionais da própria rede de saúde – como médicos, enfermeiros e dentistas –, que possuem formação nas terapias e oferecem os atendimentos nos postos onde atuam.
Terapias integrativas para a família toda
Moradora de Vila Palanque, no interior do município, Raquel Azevedo Nilson, 41 anos, é uma das venâncio-airenses beneficiadas com as terapias integrativas. Ela destaca o bem-estar após as sessões de reiki e o quanto elas contribuem para o alívio da ansiedade.
A satisfação com o resultado foi tão grande que ela levou a família toda para atendimento com a terapeuta Elaine Heissler: o pai Akiles Nilson, 72 anos, a mãe Edy de Azevedo Nilson, 73, e os filhos Bernado, 8, e Milena, 6. “Só falta meu marido, que só não veio ainda porque não encaixam os horários de trabalho”, afirma Raquel, que é produtora rural e também atua com entrega de extintores de incêndio.
Ela ressalta, especialmente, o quanto o atendimento foi positivo para os filhos. Depois de ter recebido reiki pela primeira vez, a pequena Milena incentivou o irmão: “O reiki é uma coisa muito boa. Tu vai adorar”, definiu a menina. De fato, o garoto gostou.
A avó, dona Edy, é só sorrisos ao falar do resultado positivo com a reflexologia podal – técnica que trata dores e desequilíbrios a partir de pontos nos pés. Raquel tem realizado um tratamento de auriculoterapia – aplicação de sementes em pontos da orelha – para tratar uma dor no ombro e a ansiedade. “Faz muito efeito. Nossa família está muito feliz de ter acesso a esse atendimento excelente que o Município oferece. Queremos continuar.” Ela lamenta, apenas, que muitos idosos não têm a possibilidade de se locomover até o Centro da cidade para os atendimentos. “No posto mais gente poderia participar”, considera.
“Abordagem holística que cuida da saúde do paciente”, avalia médica
As práticas integrativas fazem parte do trabalho da médica Dayana Navarro Ramírez, que atua na unidade de saúde de Centro Linha Brasil, no interior de Venâncio Aires. Natural de Cuba, onde se formou, ela está no Brasil desde 2013 e atua no município desde julho daquele ano, pelo programa Mais Médicos. Além de médica, é terapeuta com diversas formações e integra a Associação Brasileira dos Terapeutas Holísticos (Abrath).
“Passei a utilizar as terapias aliadas à medicina porque são abordagens que ajudam a promover a saúde. Elas previnem doenças, auxiliam na recuperação e possibilitam avaliar o indivíduo como um todo, no seu estado físico, mental, emocional e social. É uma abordagem mais completa, holística e que cuida da saúde do paciente”, comenta.
Na rotina diária de atendimentos no posto de saúde, a médica informa os pacientes sobre alimentação saudável, atividades físicas regulares e práticas como yoga e meditação, que promovem equilíbrio e autoconhecimento. Além disso, orienta sobre tratamentos não farmacológicos. “Sempre com base em evidências científicas e esclarecendo que não substituem o tratamento convencional”, reforça.
A médica comenta que, além da ansiedade e do estresse, queixas de dor são constantes entre as pessoas atendidas no posto de Centro Linha Brasil. “A maioria de meus pacientes são agricultores, trabalham incansavelmente de domingo a domingo, faça chuva ou sol, e sempre oriento que precisam um tempo para cuidar deles”, observa.
De acordo com ela, como muitos não gostam de tomar medicamentos, as terapias complementares, com reiki e reflexoterapia, têm uma boa adesão. “Os pacientes relatam melhora da dor, redução do estresse e ansiedade, também da circulação sanguínea e um relaxamento geral”, cita.
Além da formação em diversas práticas terapêuticas, como reiki, biorressonância quântica magnética, fitoterapia, terapia ortomolecular e naturopatia, Dayana é formada em Suplementação Avançada de Saúde Integrativa. A suplementação é a terapia alternativa mais utilizada por ela no consultório. Entre os casos mais comuns estão o da prescrição de vitaminas D e B12, junto de orientações para a absorção adequada e, inclusive, sobre o uso de ervas e chás conhecidos pela população.
“As pessoas estão rodeadas de chás, de natureza, mas é um hábito que foi se perdendo, porque fica mais fácil ir à farmácia e comprar uma medicação para digestão. Busco mostrar isso e sempre explicar as reações adversas e que nada pode ser em excesso”, comenta Dayana.
“Terapias complementares são sinônimo de promoção e prevenção de saúde. A população está feliz pela adesão do Município e cada dia mais pacientes são beneficiados com esses serviços, que têm como principal objetivo promover saúde de forma integral e humanizada.”
DAYANA NAVARRO RAMÍREZ – Médica
“É preciso valorizar o trabalho do terapeuta holístico”
A ampliação das terapias integrativas na rede pública é defendida por profissionais que atuam na área, como uma estratégia de prevenção. “É preciso valorizar o trabalho do terapeuta holístico, de olhar para a prevenção”, considera a terapeuta e enfermeira Elaine Teresinha Ferreira Heissler, 59 anos.
“Quanto mais atendimentos terapêuticos, mais se consegue reduzir a demanda de consultas nos postos, de medicação, exames e internações hospitalares. As terapias auxiliam o paciente para tratar seu emocional, o que vai refletir no corpo e possibilitar que ele compreenda, ressignifique muitas coisas”, acrescenta Claudete da Luz, 43 anos. A também terapeuta Édna Perosso Luviza, 42, reforça que toda doença tem um fundo emocional. As terapias buscam reequilibrar as energias para que o corpo possa se reconstituir. “Todos nós temos capacidade de instaurar e tirar problemas do nosso corpo”, complementa Claudete.
As profissionais, que prestam serviços de práticas integrativas via Secretaria de Saúde, reforçam o quanto as práticas como reiki (canalização da energia nos chakras), auriculoterapia e reflexologia, entre outras, se complementam. “Acabamos utilizando um pouco de cada terapia”, observa Édna. As terapeutas reforçam que as práticas não se tratam de misticismo e que há comprovações científicas sobre os resultados.
Outro aspecto destacado por elas é que em todos os atendimentos, há acolhimento e escuta dos pacientes. Essa conversa contribui para que a pessoa compreenda a origem dos problemas e possa modificar seus hábitos e padrões. “Terapia é autoconhecimento. É aprender a se gerir, se entender, resolver os problemas. Ter isso no SUS é fantástico”, considera Claudete.