Talvez ao ler essa reportagem você se lembre da sua avó, da sua mãe ou até de algum familiar ou amigo que ainda cultive esse hábito antigo que passa de geração para geração. O preparo da schmier, um doce artesanal, processado a partir da polpa da fruta e açúcar é algo tradicional e que perpassa gerações de inúmeras famílias, e esse hábito é ainda mais forte e presente no interior.
A família Hendges concilia as atividades da propriedade e nessa época costuma preparar schmier de vários sabores. Na quinta-feira, 4, a reportagem foi até a casa da família em Rincão de Souza para conhecer essa cultura e os segredos do preparo. Rejane Ruwer Hendges, 55 anos, natural de Vila Palanque, conta que aprendeu os segredos do preparo com a sogra e por meio de testes na cozinha. “Na minha família isso não era muito tradicional. Mas a mãe do meu marido, com mais de 80 anos, faz até hoje”, reforça Rejane, que é casada há 27 anos com Selomar André Hendges, 52 anos.
O casal tem três filhos, Luciane, Andreia e André e uma neta, a Letícia. A schmier preferida de toda a família, segundo ela, é a colonial, mas a regra é que no café da manhã não pode faltar o pão feito no forno à lenha (backofen), o queijo colonial e uma schmier preparada em casa.
Essa semana, o casal preparou a schmier de pera com o casal de vizinhos e familiares, Cleci Rodrigues, 54 anos, e Juarez Wilges, 55 anos. Na casa da família Hendges, o processo iniciou cedinho, por volta das 7h30min e encerrou depois das 16h. “A gente precisa aproveitar as frutas da época. Esse ano deu muita pera”, comenta Rejane.
Antigamente, Selomar lembra que a mãe dele e a mãe de Juarez faziam a schmier juntas também. “A mãe sempre conta que um dia foram fazer rapadura no tacho. Chegou uma hora e elas não tinham mais lugar para guardar tanta rapadura”, recorda, aos risos.
Além de prepararem a schmier para a família, o casal costuma fazer com amigos e vizinhos. “Hoje [quinta-feira], por exemplo, a gente entra com a mão de obra e açúcar e o Juarez com as frutas, pois lá tem bastante ainda”, cita Selomar.
Processo de preparo da schmier
Como a quantidade era maior, o casal – que produz tabaco e diversos itens para agregar renda e alimentos para subsistência -, fez ela em tacho e fogo de chão. “A gente descasca a fruta, ferve, deixa esfriar, coloca na máquina de moer carne e cozinha essa massa com açúcar e fogo bem baixinho”, detalha Rejane.
A produtora comenta que o processo é relativamente simples e o segredo é utilizar o açúcar ou melado que serve de conservante. A quantidade ela cita que varia conforme o gosto e fruta.“Não tem segredo para fazer a schmier, ou qualquer produto com a fruta. A gente precisa colocar vontade e fazer.”
Na quinta-feira, o casal utilizou mais de 50 quilos de fruta que renderam 50 quilos de massa de pera. Eles adicionaram 15 quilos de açúcar e prepararam 52 quilos de schmier. A armazenagem, conforme Rejane, é feita no freezer. “Não estraga, dura bastante tempo. A gente congela e vai tirando conforme precisa.”
Para a moradora de Rincão de Souza, a fruta é um item que o produtor precisa saber aproveitar. “A gente faz suco, geleia, schmier, compota, usa em recheio de cuca ou bolo, faz goiabada e ainda come ela direto no pé, in natura.”
A família prepara anualmente schmier de uva, pêssego, acerola, ameixa, figo, colonial (melado e frutas), mamão, pera, goiaba e morango. Além disso, aproveita as frutas para congelar sucos, compotas, doces e geleias.
Tradição de preparo da schmier
- Para a extensionista rural social da Emater de Venâncio Aires, Viviane Röhrs, o preparo da schmier é uma tradição de muitas famílias. “Além de ocupar a fruta da época, traz uma memória afetiva muito grande, é algo que passa de geração para geração.”
- Ela destaca que a produção está voltando em tempos de pandemia. “As pessoas estão optando por comidas saudáveis e se reaproximando das coisas que os antepassados faziam.”
- Viviane cita que a fruta pode ser aproveitada de forma integral para produção de diversos produtos.
- A Emater realiza oficinas e uma das metas é retomá-las, quando possível. “As oficinas são fundamentais para resgatar essa memória e promover a segurança e soberania alimentar das famílias rurais e ensinar o aproveitamento integral de alimentos e frutas da época.”
Leia mais: Emater divulga série de vídeos com mulheres agricultoras