Surpresa em dose dupla: a adoção de gêmeos adolescentes

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As obras de ampliação da casa ainda não foram concluídas para aguardar a chegada dos irmãos gêmeos Luiz e Tony, de 16 anos ao novo lar, no bairro Coronel Brito. Na verdade, a mãe, Talita Backes, 39 anos e o pai, Joceli Alves Vieira, 46 anos, não imaginavam que este sonho estaria tão próximo de se tornar realidade e que viria ‘em dose dupla’.

Quando jovem, Talita não pensava em ser mãe, mas este conceito foi mudando no decorrer dos anos, desde que se casou com Joceli, há 10 anos. O casal já havia separado os documentos para entrar com pedido de adoção, há cinco anos, mas resolveram aguardar mais um tempo. “Parece que foi o destino, isto é a prova de que tudo tem a sua hora”, comenta Talita.

Em janeiro deste ano, o casal deu início ao procedimento de adoção. Ao preencher o documento inicial, eles não tinham preferência quanto à idade do filho. “A nossa ideia era ter um filho até oito anos, mas isso não era uma prioridade”, comenta.

Desde o início, o casal sabia que o processo não seria fácil e que a adoção duraria em torno de cinco anos. Porém, o destino falou mais alto e três meses depois, eles já estavam habilitados para serem pais. “Não foi muito simples, passamos por várias entrevistas, mas hoje temos a certeza de que tudo valeu a pena”, comenta o pai emocionado diante dos documentos na mesa da cozinha.

Em maio, o casal participou do ‘dia do encontro’, uma das ações da campanha ‘Deixa o amor te surpreender’ proposto pelo Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, em parceria com a Corregedoria-Geral da Justiça e Coordenadoria da Infância e Juventude do Rio Grande do Sul (CIJRS).

No dia 26 de maio de 2019, o casal teve a oportunidade de estar mais perto das crianças e jovens que estão em busca de um lar. Desde este dia, a vida de Talita e Joceli passou a ter um outro sentido, eles estavam a um passo da conquista. Enfim, a família estaria completa.

O ENCONTRO

Talita e Joceli faziam parte dos 24 pretendentes que foram ao encontro das 87 crianças e adolescentes que participaram da ação promovida pelo Poder Judiciário. Durante o evento, cada pretendente recebeu uma camiseta com um nome de uma criança para que pudessem se conhecer melhor. “Eu peguei a camiseta do Tony e quando sai a procura do garoto me chamou a atenção o sorriso de um outro menino que estava lutando taekwondo – uma das atividades realizadas no dia do encontro. Por coincidência, quando encontrei o Tony, descobri que os dois eram irmãos gêmeos”, relembra. “Na hora que vi os meninos já tive a certeza que seriam eles”, comenta sorrindo.

Depois de ter passado uma tarde descontraída ao lado dos adolescentes, Talita e Joceli tiveram que se despedir. No momento do abraço, Talita teve que conter a emoção quando Tony perguntou se ela tinha mesmo que ir e perguntou: “Se tu pudesse me adotava tia?”. Talita recorda que foi difícil reagir diante da situação, mas como foi instruída desde o início, não confirmou ao garoto e respondeu de forma sutil, para que ele não criasse expectativas.

Tony e Luiz vieram de uma família de 11 irmãos, sendo que, oito deles eram gêmeos. Para a surpresa de Talita, três dos irmãos estavam acolhidos em casas lares. “Como os outros irmãos não viviam na mesma casa lar, Tony e Luiz foram separados dos demais para adoção. Quando descobrimos isso, nem pensamos duas vezes, visto que, se tivéssemos que adotar os cinco adolescentes teríamos que nos planejar”, afirma.

Antes da mudança para a casa da família, Luiz e Tony vieram a Venâncio comemorar o Dia dos Pais. (Créditos da foto: Divulgação/ Folha do Mate)

Dentro das próximas 48 horas o casal retornou para manifestar o interesse e, após retorno do Tribunal de Justiça, eles tiveram a oportunidade de se reencontrar com os garotos. “No primeiro fim de semana fomos a Porto Alegre ficar com eles. Já no segundo e terceiro, trouxemos eles para nossa casa”, recorda.

Como houve acordo entre as duas partes, pais e filhos, o processo foi concluído e no quarto encontro, no dia 23 de agosto, os gêmeos vieram para casa definitivamente.

“Eles são atenciosos e muito carentes, vivem nos beijando e dando abraços. Eles só precisam de amor e um lugar para chamar de casa”, afirma Talita.

A CHEGADA AO NOVO LAR

A chegada à casa nova foi no dia 23 de agosto, mas a comemoração foi em dose dupla porque no dia 26, os meninos completaram 16 anos. Para marcar este momento, eles foram recepcionados com uma festa, promovida pelo casal para amigos e familiares. “Estamos muito felizes, afinal, em nenhum momento perdemos as esperanças de que este dia chegaria. Estava tão ansioso para vir para Venâncio Aires que na noite anterior nem dormi direito”, afirma Tony ao olhar para o irmão. “Quando encontrei eles pela primeira vez, logo percebi que seriam nossos pais”, relembra Luiz.

O Rio Grande do Sul tem hoje 5.560 pretendentes habilitados aguardando na fila de adoção. Na outra ponta, 625 crianças e adolescentes estão em abrigos, à espera de um novo lar. Por trás dessa conta desproporcional está um dos principais problemas envolvendo o tema: o perfil procurado. São 566 jovens com 10 anos de idade ou mais, 430 que pertencem a grupos de irmãos, 36 que têm deficiência física, 96 que possuem deficiência mental e 30 com HIV. As informações são do site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

    

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