O dia era 23 de abril. Assim que chegou em casa, depois de um dia normal de trabalho, Maicon Acosta Escalante, de 30 anos, sentiu que “não estava 100%”. Como ia para o serviço de moto e a temperatura tinha dado uma oscilada, pensou que o desconforto era “porque tinha pegado o vento na rua”. No dia seguinte, encarou novamente a rotina de trabalho, embora incomodado com algo que não sabia o que era. “Vi que não estava legal, mas como tinha esfriado, eu achei que era normal”, recorda.
O mal-estar aumentou e, na sequência, ele sentiu que os batimentos cardíacos aceleraram. Na dúvida, procurou o Pronto Atendimento 24 Horas do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Foi acolhido e, logo após, encaminhado ao setor Covid-19, onde permanecem em monitoramento os pacientes com suspeita de infecção pelo coronavírus. No dia 26 de abril, um domingo, ele já estava sendo transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI): a dificuldade para respirar tinha se intensificado.
“Do setor de isolamento, me levaram direto para a UTI. Soube que seria entubado, pois minha condição era delicada. Já estava confirmada a infecção pelo coronavírus. O pouco que eu ouvi na UTI foi muito ruim. A gente escuta de tudo, pois é um setor onde as pessoas estão correndo riscos. Tudo te puxa para baixo”, comenta. E foi na UTI que Escalante ficou até quarta-feira, 6, quando teve melhora significativa. A recuperação foi tão surpreendente que, no dia seguinte, teve alta e foi para casa, embora a liberação estivesse prevista apenas para sexta-feira, 8.
Após quase duas semanas de internação, ele se tornou o primeiro venâncio-airense a superar a Covid-19 depois de ter ido para a UTI, com quadro de saúde considerado grave. Um vídeo do momento em que Escalante deixa o setor, sob palmas de integrantes da equipe médica, além de emocionar quem o assiste, será para sempre o símbolo de que a luta contra o coronavírus é dura, mas possível de vencer. À equipe médica, aliás, ele é só agradecimento: “O atendimento foi excelente. Fiquei alguns dias inconsciente, mas sei que os profissionais estavam cuidando muito bem de mim. Não fosse a dedicação deles, talvez eu não tivesse esta segunda chance na vida”, afirma o paciente.
“Quando acordei lá na UTI, não vi as pessoas nos outros leitos, pois fica tudo separado. Era só a equipe médica falando comigo. Só que a gente escuta os sons e imagina, mais ou menos, o que está acontecendo com as outras pessoas. Ao mesmo tempo que me sentia melhor, sabia que tinha gente lá passando por momentos muito delicados. Só queria arrancar aqueles tubos e sair daquela cama.”
MAICON ACOSTA ESCALANTE
Paciente recuperado após contaminação pelo coronavírus
“Os planos seguem os
mesmos, só vão atrasar um pouco”
Aos 30 anos, Maicon Acosta Escalante não imaginava que seria uma vítima da pandemia de coronavírus. Quando tomou consciência de que a doença estava se alastrando pelo mundo, passou a respeitar as orientações divulgadas pelas autoridades de saúde. Mesmo assim, o técnico júnior industrial acabou sendo infectado pela Covid-19. Depois dos riscos, ele quer retomar a vida, e avisa: “Os planos seguem os mesmos, só vão atrasar um pouco”.
Folha do Mate – O que pretende fazer de agora em diante, a partir da recuperação completa?
Maicon Acosta Escalante – Quero aproveitar ainda mais a minha família, conviver com todos. O momento é de dificuldades, mas assim como passou para mim, vai passar para todo mundo. Sou acadêmico de Engenharia Mecânica na Unisc e quero dar atenção à minha formação. Agora é momento de tomarmos os cuidados necessários, pois no futuro vamos poder celebrar com as pessoas que amamos.
Você foi um paciente com quadro grave de saúde por conta do coronavírus. O que pensa em relação ao debate sobre restrições e flexibilização das atividades em Venâncio Aires?
Não sei como peguei a doença, mas o pessoal tem que se cuidar. Por um lado, tem o fato da necessidade do isolamento e proibições de atividades, mas, do outro, muitos autônomos que estão em situação delicada por não poderem trabalhar. Eu aconselho que se cuidem, limpem bem as mãos e usem máscaras. Tudo que puder ser feito para minimizar os riscos de contágio deve ser levado em consideração.
Quem foi te buscar no hospital, na quinta-feira? O que sentiu ao ver as pessoas do seu convívio, já que a UTI é um setor restrito?
Minha namorada foi me buscar, mas sei que muitas pessoas queriam estar comigo naquele momento. Eu teria alta somente na sexta-feira, mas como estava bem e não tinha mais necessidade de ficar no hospital, fui liberado. A melhor coisa que acontece depois de uma situação dessas é chegar em casa e poder fazer as suas coisas. Parece simples, mas por tudo que passei, foi muito emocionante.
E os seus familiares? Alguém foi infectado ou tem suspeita da doença? Quais foram as orientações repassadas a vocês para os próximos dias?
Graças a Deus ninguém da minha família teve sintomas. Mas, como tiveram contato comigo, tiveram que permanecer em isolamento. Acho que voltam a trabalhar na segunda-feira. No meu caso, vou ter que ficar um tempo isolado ainda, para não ter risco de transmissão. Também vou administrar uma medicação pelo período de um mês. Não tenho mais nada de sintomas. Me sinto muito bem.
Esta situação toda te fez repensar algo para a vida? Por ter sido o primeiro paciente de UTI que conseguiu vencer o coronavírus, vai ser para sempre um símbolo de superação em Venâncio Aires. O que representa pra vocês ter superado esta doença grave, que já ceifou tantas vidas no mundo inteiro?
Nunca fui muito religioso, mas sempre acreditei em Deus. Penso que, naquela situação de UTI que eu estava, tem que ter alguma coisa maior que te dá força para sobreviver. Fico muito feliz em ser um exemplo de que a doença pode ser superada, mas reforço meus agradecimentos à equipe do hospital, pois sem a atenção daqueles profissionais, provavelmente o desfecho teria sido outro. Serei eternamente grato a todos que cuidaram de mim. Dar esta entrevista também é uma forma de reconhecer pessoas que, talvez, eu nem saiba que foram essenciais para a preservação da minha vida.
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