O dia 11 de dezembro de 2021 era para ser divertido e de lazer. Fazia cerca de três meses que o caminhoneiro Matias Theisen, 25 anos, havia comprado uma motocicleta estilo esportivo para utilizar no tempo livre e, naquele sábado, ele tinha decidido dar um passeio até Guaporé, na Serra Gaúcha, com outros cinco amigos.
Entretanto, no retorno da viagem, na cidade de Dois Lajeados, no Vale do Taquari, o jovem sofreu um grave acidente. Matias foi socorrido e encaminhado para atendimento no Hospital de Guaporé, mas tendo em vista a gravidade dos ferimentos precisou ser transferido para uma instituição de saúde referência em atendimento de traumato-ortopedia de alta complexidade.
Após horas de busca por uma casa de saúde e meios para transferir o jovem – para o deslocamento era necessário uma ambulância com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) -, Matias foi levado para o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. No local, o morador da localidade de Palanque Pequeno, no interior de Mato Leitão, passou por uma cirurgia de urgência.
Em razão do acidente, Matias sofreu uma fratura de T12 na coluna, com colapso de aproximadamente 30% a 40%, com recuo do muro posterior, o que comprimiu o saco dural, ou seja, o canal por onde a medula passa. Além disso, o jovem sofreu fratura da vértebra T2 a T7 e artrodese na parte superior da vértebra T10 a L3 – região torácica e lombar. Em razão disso, perdeu o movimento das pernas e está, temporariamente, sem conseguir caminhar.
“Quando acordei, não lembrava de nada. Em um primeiro momento, achei que o acidente tivesse acontecido em outro dia, e não no mesmo em que saí com meus amigos. Não conseguia mexer as pernas, mas pensei que era porque estava medicado. Tinha dificuldade de me movimentar e muita dor”, recorda. Além da dor causada pelos ferimentos, duas semanas após a primeira cirurgia, Matias precisou passar por um novo procedimento para fazer uma correção nos pinos que já tinham sido colocados.
Superação
Foram 22 dias de internação no hospital em Caxias do Sul e uma semana em Santa Cruz do Sul, para fazer exames. As perspectivas de voltar a andar não eram boas. “Todos os médicos diziam que eu tinha 1% de chance de voltar a caminhar”, conta. Mesmo com essas projeções, o jovem escolheu lutar. “Pensei que ou eu me levantava ou ia piorar. Nunca vou aceitar a cadeira de rodas”, relata.
Ele explica que essa afirmação não é de preconceito em relação à cadeira de rodas, mas sim um impulsionador para que ele continue lutando para se recuperar e alcançar o objetivo de voltar a andar. “O mais legal de tudo é se superar. Muitas pessoas que nunca vi pessoalmente estão me dando força. Recebo muitas mensagens pelo Instagram, que às vezes não consigo responder todas. Isso me motiva também, porque se quem nem me conhece acredita em mim, como eu não vou?”, reflete.
Em casa desde o dia 2 de janeiro deste ano, Matias realiza sessões de fisioterapia quatro vezes por semana. Três vezes são com a fisioterapeuta Ariana Lopes, de Venâncio Aires, que foi contratada pela família, e uma pelo profissional que atua na Clínica Municipal de Fisioterapia de Mato Leitão. Matias conta que ainda depende da ajuda dos familiares para realizar atividades básicas, como tomar banho ou se deslocar pela casa, mas que desde que recebeu alta hospitalar já consegue enxergar avanços no quadro clínico.
“No hospital, eu não tinha muitas informações sobre minha condição. Agora, eu pesquiso e acompanho pessoas com a mesma lesão que eu. Vejo elas tendo progresso e isso me motiva. Em casa, com a fisioterapia, tive evolução, e isso me deixou muito feliz. Tenho muita dificuldade de me levantar, mas estou batalhando. Não quero parar minha luta. Meu foco é voltar a caminhar”, ressalta.
Apesar do sofrimento causado pelo acidente, Matias escolheu encarar a recuperação com otimismo, determinação e fé. “A vida tem muita coisa bonita. Depois que algo assim acontece, começamos a enxergar as coisas de forma diferente e dar mais valor ao que é simples e para coisas que antes não valorizávamos”, diz. Para o jovem, outro importante ensinamento desse período é ter cuidado em tudo que fizer.
Hoje, ele já consegue sentir as pernas, mas ainda não é sensível ao toque. As atividades de fisioterapia são feitas em casa, com muitos equipamentos que foram emprestados. A família também está estruturando uma sala para que os exercícios sejam feitos, inclusive, com a compra de alguns aparelhos específicos e necessários para a recuperação. A partir da indicação de alguns médicos, o jovem também está se organizando para buscar atendimento na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, em Brasília.
Processo de recuperação é compartilhado no Instagram
Foi na pesquisa de informações sobre a lesão medular que sofreu e exemplos de outras pessoas que também estão em recuperação, que o jovem encontrou motivação para enfrentar os desafios da recuperação. Por isso, ele decidiu também inspirar outras pessoas que estão enfrentando situações semelhantes. Para isso, começou a utilizar um perfil do Instagram para divulgar o dia a dia da reabilitação.
Antes do acidente, Matias e a namorada, Carolini Biasibetti, 20 anos, tinham criado uma página na rede social para divulgar o dia a dia das viagens de caminhão e a rotina como motorista. Com a impossibilidade de dirigir, o jovem decidiu utilizar esse meio para compartilhar a rotina de execícios de fisioterapia e o processo de recuperação.
Com novo nome – agora o perfil se chama @lesao_medular_t12 -, o casal publica fotos e vídeos no feed e nos stories sobre o dia a dia de Matias. “Me espelhei em outras pessoas e quero que outras pessoas também se inspirem em mim. Mostro a realidade, o quanto é difícil, mas que dá para lutar”, comenta.
Além da namorada e dos fisioterapeutas, Matias destaca o auxílio da família para a reabilitação, em especial da mãe, Inês Kroth, 43 anos, do pai Jurandir Theisen, 44 anos, e do sogro, Selmar Biasibetti, 50 anos.