Vítima do médium disse que teve a sua adolescência perdida

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O inquérito que apura as denúncias de importunação sexual e uso ilegal da medicina estão em andamento, na Delegacia de Polícia, e a cada dia surgem novas vítimas do investigado, um médium de 64 anos. Na terça-feira, 19, uma mulher declarou que foi vítima dele, quando tinha apenas 14 anos. Hoje, aos 27 anos e depois de duas tentativas de suicídio, ainda precisa tomar medicamentos para dormir.

Ela tem o mesmo perfil das demais mulheres que denunciaram o médium: boa aparência, cabelos e olhos claros e foi ao centro espírita em busca de respostas. “Na verdade, a primeira vez fui só para acompanhar a minha mãe, que enfrentava problemas com um familiar”, recorda.

Mas bastou ela entrar no centro espírita para começar a ser assediada. “O que ele fez comigo foi exatamente igual aos outros relatos que já foram publicados no jornal. Ele entra na mente da gente, trabalha com o psicológico e faz tu sentir que precisa ser dele. É uma mente diabólica”.

Depois do primeiro contato com o médium, a então adolescente de 14 anos soube que precisava trabalhar sua mediunidade. Voltou mais três vezes ao centro espírita e foi convidada a acompanhá-lo até um local onde fazia atendimento, em Vale Verde. Depois, foi até a casa dele, em Canoas.

Hoje, tentando retomar a vida, a mulher voltou a estudar, mora com a mãe e disse estar pronta, se necessário, a depôr até em juízo. “Comigo não aconteceu o ato sexual, pois eu não permiti, mas tenho certeza que aconteceu com outras garotas. Ele acabou com a minha adolescência”.

ENTREVISTA COM A VÍTIMA

Ao lado da mãe e da avó, a estudante universitária tenta retomar a vida. Ao saber que o médium havia sido denunciado, descobriu que ela foi apenas mais uma vítima e concedeu uma entrevista exclusiva à Folha do Mate.

FOLHA DO MATE – Quantos anos tinha quando foi ao centro espírita pela primeira vez?
Vítima – Eu tinha 14 anos. Fui lá para acompanhar a minha mãe, mas desde o primeiro dia ele me fez acreditar que eu tinha uma mediunidade, mas também que estava com um espírito obsessor.

Depois deste primeiro dia vocês retornou?
Sim , voltei mais três vezes. Ele veio aqui em casa me buscar. Disse que precisava ir com ele até Vale Verde e depois me convidou para ir até a casa onde ele atendia, em Canoas.

E você foi?
Sim. Ele entra na mente da gente e te faz acreditar que precisa dele para se livrar das coisas ruins. Ele se mostra como uma espécie de Deus. É muito influenciador.

E foi sozinha com ele para Vale Verde e Canoas?
Não, a namorada dele na época, que tinha 17 anos, foi junto. Lá em Canoas ele me fez dormir na mesma cama que eles. A todo momento ficava passando a mão em mim e até beijo forçado me deu. Queria manter relações comigo e só não aconteceu por que eu não permiti.

O que mais ele fazia?
Ele me pedia para ficar nua, mas eu nunca fiquei. Ele conversava de uma maneira para tentar me forçar a eu me oferecer para ele, mas eu já tinha notado que aquilo não era normal.

E recorda do uso de medicamentos naquela época?
Sim, na casa dele tinha uma espécie de mini-hospital, com várias macas, onde ele aplicava soro e as vezes deixava as pessoas a noite toda lá. Também fazia acupuntura e receitava remédios. Fiquei quatro dias lá.

E o que aconteceu depois?
Ao chegar em casa, fique quieta e no dia seguinte contei tudo para a minha mãe, mas ela não acreditou e ligou para ele [médium]. Ele negou tudo, disse que eu estava louca e ameaçou processar nossa família e tirar tudo de nós. Então fugi e passei a noite na casa de uma conhecida. No outro dia, meu irmão me levou até o Conselho Tutelar e fiquei dois dias na Casa de Passagem até chamarem a minha mãe. Queria sair de lá e ir direto na Delegacia de Polícia denunciá-lo. Mas a mãe ficou com medo e não fizemos nada.

E depois tu voltou para casa?
Sim, cheguei em casa e tentei me matar. Tomei veneno e fui parar no hospital. No primeiro dia que voltei embora, tomei todos os remédios que a mãe tinha em casa e novamente fui parar no hospital. Eu era uma adolescente que não conseguia conviver com aquilo que estava passando.

Como conseguiu superar esta fase?
Depois da segunda tentativa de suicídio, comecei a tomar ‘faixa preta’ e fiz isso até os 18 anos. Também tinha que tomar remédio para dormir e até hoje preciso desta medicação. Tenho insônia e não consigo ficar sozinha no escuro. Tenho sequelas do que ele fez comigo.

O que mais te perturbou neste episódio?
Ele tem uma mente diabólica e te faz sentir necessidade de se entregar para ele. Mas o pior de tudo é te sentir presa e não poder fazer nada, pois ele é influenciador e ameaçava processar minha família e tomar tudo o que temos. Naquela época tive que ficar quieta, pois não tinha o que fazer. Hoje, se precisar, vou depôr contra ele.

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Alvaro Pegoraro

Alvaro Pegoraro

Atua na redação do jornal Folha do Mate desde 1990, sendo responsável pela editoria de polícia. Participa diariamente no programa Chimarrão com Notícias, com intervenções na área da segurança pública e trânsito.

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