A preocupação com os reflexos da estiagem não é mais um assunto isolado e que vem à tona somente nos meses de calor, quando o problema se torna mais visível. Buscar alternativas para que se tenha outras formas de captação de água para abastecer a população é algo que vem sendo feito com frequência.
Secretário Municipal de Meio Ambiente, Nelsoir Battisti afirma que está sendo feito um planejamento a médio e longo prazo, por meio de um projeto liderado pelo Executivo Municipal, com o intuito da busca de soluções por meio de diferentes frentes.
Técnicos da Secretaria do Meio Ambiente, representantes da Companhia Riograndense de Abastecimento (Corsan), produtores de arroz e parlamentares participam das discussões. “É um trabalho que precisa ser construído com muitas pessoas, em conjunto, e feito a longo prazo para resolver o problema”, salienta o secretário.
Na semana passada, representantes visitaram barragens nos municípios de Camaquã e Santa Maria. A intenção foi conhecer mais sobre o funcionamento das estruturas feitas em outros municípios para tratar a viabilidade de sistemas semelhantes em Venâncio Aires. “Novos loteamentos estão surgindo, o município aumenta e o abastecimento também, precisamos garantir a água no futuro”, completa. Atualmente, Venâncio Aires tem um consumo médio de 10 mil metros cúbicos de água por dia, na área abastecida pela Corsan.
POSSIBILIDADES
Battisti destaca que existe a possibilidade de captação no rio Taquari, na localidade de Vila Mariante, porém, o investimento necessário seria muito alto e isso se torna inviável. Com isso, as estratégias analisadas atualmente giram em quatro possibilidades. Uma delas é a implantação de uma barragem móvel na parte baixa do Castelhano. A estrutura seria feita de modo que fique um vão regulável, no qual seja possível abrir e fechar de acordo com o acúmulo de água e necessidade. Outra opção é a construção de microbarragens, estruturas simples que serviriam para reservar a água em localidades mais altas.
É também uma ideia a implantação de pequenas barragens públicas. Em áreas menores, seriam feitos pequenos reservatórios em áreas de 10 hectares. “Tudo isso poderia ser feito em conjunto. Se fizermos um a cada dois anos, por exemplo, já estaremos aproveitando muita água que hoje perdemos”, completa. A Prefeitura trabalha com a ideia de permutas e negociações para que seja possível o acesso a áreas ideais para a construção dos reservatórios.
Nessa ideia, produtores de arroz também entram como peça-chave. Com a destinação de um espaço na propriedade para a manutenção de um reservatório, isso possibilita o abastecimento na época auge da produção, nos meses de dezembro e janeiro, e para suprir a demanda da população em geral nos demais meses, se necessário. “Se não fosse os arrozeiros não teríamos água no Castelhano. Quem mantém é justamente esse alagamento de arroz. Ao todo, são 400 hectares de água inundada, que fica infiltrando e auxilia”, observa o secretário de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo.
Outra opção é a construção de uma grande barragem com espaço de lazer. Além da reserva de água, a área também contemplaria um espaço de lazer. Essa ideia já foi apresentada em outros momentos, mas é vista a longo prazo em virtude de custos e da necessidade de um local amplo para isso.
“Novos loteamentos estão surgindo, o município aumenta e o abastecimento também, precisamos garantir a água no futuro.”
NELSOIR BATTISTI
Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo
Produtores de arroz participam de ações
José Duarte, 66 anos, e Abedriel Duarte, 41, são produtores de arroz em Linha Arroio Grande. Vindos de Santa Catarina, pai e filho estão em Venâncio Aires há 15 anos e, nos próximos meses, devem colher a 16ª safra no município. Eles fazem parte do grupo de arrozeiros de Venâncio Aires que acompanha de perto as tratativas e encontros para a busca de soluções do problema de água.
Uma das alternativas previstas é firmar com os produtores uma parceria na qual a Prefeitura contribua com horas-máquina para a construção de reservatórios de água nas propriedades. Além de garantir o recurso hídrico para a produção, os reservatórios poderiam contribuir para abastecimento da população no caso de reflexos críticos em virtude da estiagem. “A ideia é que cada produtor faça um reservatório, as áreas são de tamanhos diferentes, então cada um vai auxiliar de acordo com o que pode”, afirma Abedriel.
Vistos muitas vezes como os ‘vilões’ pela população em geral, por necessitarem de um grande volume de água para a lavoura, eles garantem que a maior parte da água utilizada é coletada das chuvas, sendo necessária a utilização das bombas para captação da água do Castelhano somente quando não se tem o nível desejado, o que acontece normalmente em dias de calor e próximo ao período de colheita. “A água do arroio é só para preencher o nível, para fazer um complemento nas canchas”, explica José.
Essa forma de trabalho é feita pela grande maioria dos arrozeiros, que utilizam taipas para auxiliar no nivelamento do açude, que deve ficar plano para a produção. José explica que mais do que para o desenvolvimento dos grãos, o acúmulo de água é primordial para evitar o crescimento de inço. “Temos que manter água durante todo o ano no espaço, porque se seca já nasce o inço”, diz.
PARCERIA
A parceria com a equipe da Companhia Riograndense de Abastecimento (Corsan) é essencial para a utilização da água da melhor forma sem prejuízos. “Muitas vezes as pessoas pensam que os arrozeiros são os culpados pela estiagem, mas nós armazenamos a água da chuva e só ligamos as bombas do Castelhano quando é muito necessário”, defende Abedriel.
Ele comenta ainda que o contato com a Corsan é indispensável e tem dado muito certo, pois quando há acumulo de água na estação de captação, eles são avisados que podem ligar as bombas para captar a água.
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