Às vezes, quando vê os olhos dos alunos brilhando, a professora Gabriela Vedoy Flores, 27 anos, viaja no tempo: vê os olhos atentos da avó Maria, tentando entendê-la, enquanto, ainda criança e com um quadro negro de brinquedo, já ensaiava as aulas, empenhada na missão de ensinar a avó a ler e escrever. “Ela não resistiu muito mais, mas, antes de falecer, conseguiu escrever seu nome”, conta Gabriela.
A menina que, aos 8 anos, ficou intrigada ao ver que a avó, com seus 80 anos, só reconhecia algumas letras e que o avô enfrentava dificuldades ao ir ao supermercado, queria salvar o mundo com seu pequeno quadro com giz. “Desejava que nenhuma pessoa fosse analfabeta e tivesse que passar pelo que meus avós passaram. Assim, a cada dia, alimentava essa paixão em ensinar.”
Quando está jundo à turma do 4º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Odila Rosa Scherer, Gabriela não apenas realiza seu sonho de ensinar. Ela fomenta sonhos nos estudantes, quando instiga a curiosidade, estimula a buscar por informações e incentiva a participação das famílias no processo de ensino.
“Isso desperta o interesse e eles se envolvem, sentem-se entusiasmados. Por meio dos projetos, vamos trabalhando vários assuntos”, explica a professora. Neste ano, os estudantes estão empenhados em aprender sobre o Aedes aegypti – mosquito transmissor de doenças como a dengue, o zika vírus e a febre chikungunya.
Basta conversar poucos minutos com as crianças para confirmar que não é decoreba, é aprendizado: conhecimento obtido por meio de livros, mas também de notícias de jornal, pesquisas na internet e documentários. Do ciclo de desenvolvimento do mosquito à estrutura do corpo do inseto, os alunos têm tudo na ponta da língua.
A ‘mascote’ do projeto, Umayma, tem nome egípcio, por conta da origem do mosquito. Na tradução, o nome significa ‘pequena mãe’ e foi escolhido, justamente, porque é a fêmea do Aedes que pica o ser humano. O mosquito de pano, confeccionado pela professora Gabriela, passa o fim de semana na casa dos estudantes e ajuda as crianças a mostrarem, para as famílias, quais os ambientes propícios para a proliferação do inseto.
FAMÍLIA
Segundo Gabriela, o trabalho sempre visa engajar os pais nas atividades da sala de aula. “Acredito ser uma prática positiva, é um momento que os pais tem a oportunidade de conversar com seus filhos e avaliar sua aprendizagem, onde há um diálogo entre a família. Vejo o comprometimento das famílias e o quanto se sentem importantes em ajudar.”
A professora ressalta, também, que a aposta nos projetos ocorre pois eles vão além de uma simples atividade. “São atividades que podem levar os alunos a muito mais, se bem executadas, pois são grandes experiências, que acrescentam na vida deles. Nossos alunos são muito inteligentes, por isso instigo cada um e me surpreendo a cada dia.”
“Vejo os alunos muito envolvidos em querer ajudar. Quando assistem a uma reportagem na televisão, leem algo no jornal ou escutam uma notícia no rádio, chegam muito empolgados para me contar e percebo o resultado, vejo o quanto estão envolvidos no projeto.”
GABRIELA VEDOY FLORES – Professora
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PERFIL
Licenciada em Pedagogia, Gabriela Vedoy Flores tem especialização em Alfabetização e cursa pós-graduação em Supervisão.
Além de atuar na Emef Odila Rosa Scherer, Gabriela também é professora na Emef Otto Gustavo Daniel Brands, onde leciona para a turma de 3º ano.
De acordo com a diretora da Emef Odila, Márcia Hinterholz Hickmann, Gabriela tem uma metodologia diferenciada. “É uma ótima professora. Ela faz as crianças pensarem, buscarem, não entrega as coisas prontas. Faz os alunos serem autores da construção do conhecimento”, elogia.
SÉRIE DE MATÉRIAS
Desde a semana passada, a Folha do Mate divulga as matérias sobre os finalistas do prêmio ‘Adiante, professor’. Amanhã, será publicada a história da professora Karine Wessling, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Brígida do Nascimento. Ela concorre na categoria Ensino Fundamental – Anos Iniciais. A série de matérias se estende até dia 22, véspera da cerimônia de premiação.
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