As manhãs de domingo costumam ser de pouca movimentação no Calçadão de Venâncio Aires, mas esta rotina foi alterada no último dia 20, quando 21 tipuanas – localizadas no lado esquerdo de quem desce a rua Osvaldo Aranha, entre as ruas Jacob Becker e General Osório -, foram cortadas. A partir de alvarás individuais, obtidos junto à Secretaria de Meio Ambiente, 11 proprietários de imóveis ao longo do trecho contrataram uma empresa para retirada das árvores. O trabalho – incluindo remoção de galhos – foi concluído nesta segunda-feira.
A notícia do corte das tipuanas se espalhou rapidamente e surpreendeu a comunidade, que até então estava informada a respeito de um impasse em relação à eliminação das árvores: a Prefeitura tinha o projeto e queria colocar em prática, mas o Ministério Público, a partir de reivindicação comunitária, orientou o Município a não levar a ideia adiante. O próprio MP, no entanto, em reunião realizada no dia 3 de setembro, informou os proprietários de imóveis sobre a possibilidade de corte das tipuanas em caso de obtenção dos alvarás individuais.
“Em outubro completou um ano que comecei a mobilizar os proprietários de imóveis e empresários do Calçadão em relação à supressão das árvores. Em seguida ganhei apoio do Airton Bade e fomos à luta, pois só quem vê o seu prédio rachando tem noção do prejuízo que este tipo de árvore causa”, afirma Volnei Sehn, líder do movimento que culminou com a retirada das tipuanas. Ele acrescenta que “as pessoas que eram contrárias ao corte podem ficar tranquilas, pois vamos plantar neste local espécies mais apropriadas”. Também líder do movimento, Bade prefere não se manifestar a respeito do corte concluído no domingo.
Eram 22 tipuanas no lado esquerdo de quem desce a Osvaldo Aranha. Uma ainda está lá por conta da dificuldade para o corte, pois a árvore está ‘entrelaçada’ à rede de energia. Mas também será cortada.
REVITALIZAÇÃO
Sehn acredita que, com a retirada das árvores consumada, “será bem mais fácil revitalizar a área do Calçadão”. Ele destaca ainda que “agora é o momento das pessoas que são contrárias ao projeto da Prefeitura apresentarem uma alternativa para reavivar a região”. Entusiasta da revitalização, ele diz que “buscar diálogo e elaborar um projeto justo e democrático é importante, mas também é preciso fazer com que fique dentro da realidade financeira dos proprietários de imóveis e empreendedores, que vão bancar a execução”.
Sobre a revitalização, Bade faz coro à manifestação de Sehn: “Vamos aguardar os projetos de quem tentou barrar a renovação, que já poderia estar quase pronta”. O empresário afirma que mais de um projeto pode ser elaborado, para que a população de Venâncio Aires escolha o que é melhor para o Calçadão. Bade ressalta que há muitas salas comerciais fechadas ao longo do trecho onde ocorreu a retirada das tipuanas e que a intenção é buscar investimentos e mais circulação de pessoas no local. “Precisamos de algo futurístico. Vamos esperar ideias de engenheiros, arquitetos e Prefeitura para o coração da cidade”, comenta.
TRABALHO CONJUNTO
O prefeito de Venâncio Aires, Giovane Wickert, argumenta que o corte está relacionado às licenças que o Município forneceu individualmente para cada proprietário, a partir de uma mobilização feita por eles. “Daqui para frente é discutir o modelo da reforma, para podermos executar. Sentar com os empresários e urbanistas. Vou propor ao Ministério Público para fazermos um trabalho em conjunto, definir bem o modelo, aprovar e aí equacionar isso no tempo, até porque agora é fim de ano e temos que evitar transtornos no Natal”, diz.
Fala, cidadão!
• Proprietário de um bar no Calçadão, Rogério Mello, 46 anos, era contra a remoção das tipuanas. “Acho que não tinha necessidade da retirada. Se fizessem uma manutenção adequada, seria suficiente”, salienta. No entanto, na manhã de domingo, 20, ficou surpreso e indignado com a cena que presenciou. Ele, que utilizava a sombra das árvores para colocar mesas e cadeiras do seu estabelecimento, conta que irá enfrentar agora um problema com o sol forte no verão.
• Proprietário de uma loja de roupas, Luís Carlos Stein, 36 anos, salienta que, apesar do seu prédio não ter sido afetado pelas raízes das tipuanas, é a favor da revitalização do Calçadão e do corte das árvores. “Sou a favor para que esse espaço se torne algo melhor”, destaca. Stein pontua que as calçadas estavam ruins, e também destaca que a iluminação é precária. “A árvore era uma consequência”, completa.
• Proprietário de uma sorveteria no Calçadão, Wolney Vian, 55 anos, diz que é a favor da revitalização. Segundo ele, com esse passo se caminha para tornar o local mais seguro, já que nos últimos tempos muitas famílias deixaram de circular no local à noite. “Se fizessem uma boa revitalização no espaço e deixassem as árvores, eu também não teria nada contra”, diz.
• O casal Berci e Sidônia Haupt, de 52 e 48 anos, respectivamente, reside em Linha Esperança. Na tarde de ontem, estavam em Venâncio Aires e destacaram que ficam “em cima do muro” com a retirada das árvores. “Sabemos que elas têm pontos positivos, mas negativos também”, afirma Sidônia.
Parques e avenidas seriam locais adequados, argumenta secretário
Para o secretário de Meio Ambiente, Clóvis Schwertner, Venâncio está vivendo dois momentos importantes em relação ao corte das tipuanas. Um deles é o emocional e tem relação com o aspecto social das árvores, em especial, pelo caráter cultural e histórico que elas têm junto ao Calçadão. O outro é o racional, que diz respeito aos aspectos técnicos de manutenção das tipuanas. “É preciso dividir a emoção do racional”, destaca.
Nessa terça-feira, em entrevista ao programa Terra em Meia Hora, da Rádio Terra FM, Schwertner relatou que há um estudo técnico concluído, que entre outros resultados, apresenta o diagnóstico sobre a saúde das árvores. Ainda enfatizou que, tecnicamente, as tipuanas estavam plantadas em local inadequado. “Não estou dando demérito a nenhuma pessoa do passado, que fez isso com boas intenções, mas as tipuanas, que são árvores de rápido crescimento e muito agressivas, foram plantadas em um local inapropriado. Locais adequados seriam parques, avenidas largas e outros espaços onde elas tenham condições de se desenvolver”, observa.
Outra informação divulgada por Schwertner na entrevista é que Prefeitura e empresários assinarão um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o objetivo de plantar árvores no local onde as tipuanas foram cortadas. “O projeto está sendo feito. Só não podemos falar ainda em qual tipo será usada”, compartilha o titular do Meio Ambiente.
“Se alguém quiser plantar uma tipuana na frente da sua casa, é só me avisar que eu tenho as mudas.”
CLÓVIS SCHWERTNER – Secretário de Meio Ambiente
MEMÓRIA
No dia 11 de outubro de 1994, há mais de 25 anos, a Folha do Mate trazia em sua edição impressa o anúncio do secretário de Indústria e Comércio, José Cassiano Braga, de que as obras no Calçadão seriam iniciadas. O projeto aprovado pelo prefeito Almedo Dettenborn era alargar o passeio público dos dois lados e diminuir a passagem de carros para cinco metros, além de plantar tipuanas, árvores de rápido crescimento para um futuro túnel verde.
*Colaboraram Ana Carolina Becker, Edemar Etges e Taís Fortes