Setembro amarelo é uma campanha existente desde 2014, organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria e Conselho Federal de Medicina. A finalidade: combater o suicídio. Todos os anos, no Brasil, cerca de 12 mil pessoas acabam com as próprias vidas. No mundo, o número chega a um milhão. Mais de 95% dos casos, conforme o site da campanha, estão relacionados a transtornos mentais. A depressão está no topo desta lista, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias. É um tema da máxima seriedade e complexidade, que ganha um contorno de preocupação e dramaticidade especial neste recanto do mundo.
Atenção II
No universo da música, o assunto é lamentavelmente recorrente. Foram significativas as perdas por atentados contra a vida ocorridas ao longo da história. Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, é um exemplo célebre. Em outro caso conhecido e mais recente, em maio de 2017, a história se repetiu com Chris Cornell, ex-Soundgarden e Audioslave. Apenas dois meses depois, a tragédia voltou à tona, desta vez com Chester Bennington, vocalista do Linkin Park. Afora a considerável lista de mortes de quem já sofria de transtornos psicológicos e/ou abusava do consumo de substâncias ilícitas.
Atenção III
É salutar perceber que haja movimento a respeito em nossa cidade. Leio que haverá a realização de uma Semana de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio, a partir de terça-feira. No geral, entretanto, o silêncio sobre o assunto na cidade ainda é significante. Reportagem da Folha no último dia 7 dá conta de que Venâncio Aires é o sexto município com mais suicídios no Estado no ano: foram 17 até agora, pouco atrás dos 23 de Santa Maria e Passo Fundo e dos 18 em Caxias do Sul, cidades com mais do que o dobro de nossa população.
Atenção IV
O pago carrega um incômodo rótulo chegou a virar nome de banda punk por aqui, no fim dos anos 2000, quando surgiu o grupo Capital Nacional do Suicídio, nome por vezes abreviado para CNS. Uma incrível manobra de autoflagelação e deboche daquele que, tristemente, fora um dos raros motivos para que esta cidade ficasse conhecida. Cerca de uma década se passou desde o fim das atividades daquele trio e, seja o elevado volume de suicídios motivado pelo uso de agrotóxicos, questões culturais ou outras explicações, o tema segue um tabu.
Três acordes
# O fato é: enquanto a cidade está uma baderna e perdemos nosso precioso tempo com uma porção de tolices, a população padece.
# Um assunto estigmatizado por si só, num lugar especialmente estigmatizado sobre o tema. E a gente aqui, com assuntos inacreditáveis como a já famigerada e bisonha bíblia gigante.
# Quando o que está em jogo é a vida – e quaisquer fatores que a colocam em risco –, o silêncio ensurdecedor hoje em voga não pode mais imperar.