Um dos reflexos óbvios e imediatos da chegada do surto do coronavírus em solo sul-rio-grandense é o cancelamento de espetáculos que impliquem em grandes aglomerações. Todos foram – ou estão prestes a ser – cancelados ou adiados. É curioso que o drama universal vá ser responsável por evitar o mico da falta de uma casa para a apresentação do Metallica em Porto Alegre, fruto de desorganização somada à estupidez local. Mais peculiar ainda é ver que, após tamanha disputa grenalizada entre o futebol e o show, não haverá nem um nem outro. Nem na data estipulada nem tão cedo em qualquer outra. O tour da banda no Brasil, aliás, está por ser oficialmente adiado de abril para dezembro.
Pega-ratão
Outros tantos espetáculos já foram para o vinagre, como o show de Sammy Hagar (ex-Van Halen) e um negócio chamado Dire Straits Legacy, uma banda de oito caras, dos quais apenas três passaram pelo Dire Straits original – o mais notável deles é o tecladista Alan Clark, desconhecido do grande público que foi o primeiro a cuidar das teclas na banda e o único ao lado de Mark Knopfler a permanecer nela até o final. Há boas referências musicais ao show e eles até já passaram noutra vez pelo Brasil. Os comerciais, em especial no rádio, induzem o fã a pensar que se trata do próprio grupo de Sultans of Swinge Brothers in Arms. Parece tudo até muito bom, mas falta algo – justamente o essencial.
Legacy Revisited Tribute
Afinal, o problema é que o Dire Straits é o tipo de banda extremamente centrado em uma pessoa – neste caso, o supracitado Knopfler, seu vocalista e guitarrista principal. É mais legítimo ver um show solo deste do que de qualquer de seus antigos comparsas, sempre destinados a não mais do que escoltar o mentor musical dos grandes hits do grupo. Ver Dire Straits sem Mark Knopfler é como assistir ao Creedence Clearwater Revival sem John Fogerty – o que, não por acaso, já aconteceu no passado, quando ex-membros do grupo sessentista saíram por aí tocando num tributo a eles mesmos, chamado Creedence Clearwater Revisited.
Gato por lebre
Imagine você como um sujeito que viveu sua juventude em solo venusiano em meados da década de 80 e se depara com o anúncio de um show chamado Sapo de Plástico Revival. Ao chegar empolgadíssimo ao bar, olha para o palco e reconhece Sandoval Wildner e seu baixo, mas ao lado, nas seis cordas, está este escriba – ou qualquer outro Zé Palheta – no lugar de Renato “Tuta” Santos e suas indefectíveis guitarras à lá Eddie Van Halen. Não tem cabimento. Por mais que as coisas sejam bem feitas e entreguem o que se chama hoje de boa experiência a quem for aos shows, é preciso cautela redobrada para não comprar gato por lebre.
Três acordes
# A epidemia do coronavírus vai adiar, por certo, até a impensada inauguração, até poucas semanas atrás, da primeira unidade oficial da Heilige em Sebastianfield.
# O admirável bar e cervejaria santa-cruzense havia planejado abrir neste mês, na esquina das ruas Félix da Cunha e 13 de Maio, a primeira de suas casas do tipo pocket, mais compactas do que as tradicionais existentes, por exemplo, em Santa Cruz do Sul e Lajeado.
# Com o vírus à solta, que cancelou nesta semana até o St. Patrick’s Day – do Celta Pub à própria Irlanda –, não faz nenhum sentido abrir ou começar nada. As únicas coisas que realmente importam são bom senso e autoisolamento para superar uma crise não bélica sem precedentes.