Domingo eu não quero ver

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Leio que os Titãs (ou o que sobrou deles) se apresentam amanhã, domingo, em Santa Cruz do Sul – e isso me entristece. Ora, são os Titãs, autores de pérolas memoráveis da música nacional dos anos 80 pra cá, vide o seminal Cabeça Dinossauro, clássico absoluto lançado em 1986. Agora, aos 34 anos de carreira, o octeto que virou trio deixa a tela da TV e é relegado a um anúncio de Facebook de um show que não é, vá lá, num ginásio de esportes, mas num teatro para 700 pessoas.

Foto: Divulgação

Andança distraída

Para ilustrar: o Titãs agora é formado apenas e tão somente por Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto. São eles que tocarão amanhã, às 20h, no teatro santa-cruzense do Mauá (rua Cristóvão Colombo, 366, prédio 2). O release fala em show com violões, piano, guitarra acústica e contrabaixo, com participação de mais dois músicos – entre eles Beto Lee, filho de Rita –, com músicas do já vintenário Acústico MTV e outras pra lá de cotidianas e pouco surpreendentes, vide Epitáfio, Isso e Enquanto Houver Sol. Ingressos em blueticket.com.br, com valores de 61 e 168 dinheiros.

Nobre paladar

Não é ruim, longe disso. Impossível, no entanto, deixar de acusar o golpe para quem associa a imagem da banda no palco ainda ao sempre irrequieto Paulo Miklos, cuspindo marimbondos e contorcendo a musculatura de ombros e pescoço, enquanto vocifera ao microfone a letra de Bichos Escrotos– isso para não forçar o saudosismo e invocar os cada vez mais longínquos dias de Nando Reis e Arnaldo Antunes no grupo. Em tempos de Rock In Rio, que Roberto Medina encontre uma forma de transformar uma reunião do grupo num bom negócio – e a proponha para a edição do festival de 2021.

Espírito de porco

Suspeito que tenha escrito esta coluna com forte sentimento de despeito intermunicipal. Santa Cruz inaugura hoje sua Havan enquanto aqui não conseguimos inaugurar sequer o banheiro na praça. Lá, o programa dominical noturno será ver os Titãs, ao passo que aqui os únicos locais lotados serão os auditórios dos homens pró-Bíblia gigante. E enquanto o Ministério Público deles se ocupa de uma operação que coloca um vereador na cadeia, o nosso é procurado para que não se cortem árvores exóticas, em pleno centro da cidade, numa resposta ao nível do argumento pífio de que as mesmas escondem fachadas de lojas.

Três acordes

# Nem tudo são flores – de plástico? – na cidade vizinha e nem trevas aqui – apesar dos pesares –, mas a discrepância de momento em coisas básicas é latente. E a gente ainda acha que os alcançaremos se (também) construirmos paradas de ônibus ultramodernas…

# Perdoe-me o leitor se a coluna de hoje tomou ares de desabafo. A essa altura do ano, em 2020, espero poder estar aqui e escrever sobre algo cotidiano mais tenro e agradável. Que tal os próximos festejos farroupilhas?

# Afinal, não é todo dia que se comemoram os 175 anos de uma guerra perdida, iniciada e encerrada por razões meramente econômicas, travestida por ideias da Revolução Francesa, que culmina na entrega de seus próprios homens (negros, sublinhe-se) ao exército inimigo e fomenta a criação posterior de outra cultura, imposta sob o pseudoargumento de resgate das tradições, praticada por pessoas cujos antepassados jamais viram uma espora, mas manejam equinos em meio ao trânsito urbano como se fossem paladinos do cultivo de hábitos de seu povo, os quais só existiam nas estâncias da campanha, distantes mais de 400 quilômetros daqui. Eu, hein…

    

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