Por Cassiane Rodrigues, Eduarda Wenzel e Juliana Bencke
O aumento natural do consumo de erva-mate, registrado todos os anos, quando as temperaturas começam a ficar mais amenas, teve um incremento em 2020. O isolamento social, por conta da pandemia do coronavírus, e a orientação para que o tradicional chimarrão não seja compartilhado fizeram com que o consumo de erva-mate aumentasse no Rio Grande do Sul.
Diretor da Ervateira Elacy e vice-presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate/RS), Gilberto Heck estima um incremento de 12% a 14% na quantidade de quilos de erva vendidos em abril. “A disponibilidade de tempo, o isolamento social e a individualização do chimarrão são os fatores que levaram a esse aumento”, considera.
De acordo com ele, na segunda quinzena de março, logo que foram anunciadas as primeiras medidas de isolamento social e houve fechamento do comércio, muitas pessoas “limparam as prateleiras dos supermercados e fizeram estoque de produtos em casa”, o que levou a um aumento substancial nas vendas de erva-mate.
Paralelamente, Heck observa que a venda do mercado externo também aumentou. “Houve um aquecimento do mercado externo, especialmente na erva vendida para o Uruguai, onde as pessoas também estão em quarentena”, comenta.
Segundo ele, diferentemente das viagens de passageiros, o transporte internacional de alimentos não sofreu nenhuma restrição e tem fluído normalmente. “De forma geral, o setor da erva-mate ainda não sofreu contratempos com a questão do coronavírus, mas é possível, que no futuro, possa ocorrer alguma dificuldade no fornecimento.”
CHÁ
O diretor da Madrugada Alimentos, Lúcio Metzdorf, diz que foi possível notar um incremento de cerca de 5% nas vendas de erva-mate no último mês. A empresa também se destaca pela produção de chás, que teve um acréscimo de 5% a 10% nas vendas no período. Ele ressalta que o aumento de vendas se deu, principalmente, em municípios que tiveram um período maior de isolamento e fechamento dos estabelecimentos, o que fez com que as pessoas ficassem mais em casa.
Com a chegada do inverno e as temperaturas mais baixas, a empresa espera que a venda de chás aumente, como é habitual. Para a erva-mate, as perspectivas são de estabilidade nas vendas, mesmo com os dias mais frios. “Acredito que, na questão da erva-mate, as vendas devem se manter nos próximos meses, também pela diminuição de restrição social”, avalia.
Três pessoas, três cuias
Na família de Lurdes Lourenço, 42 anos, o chimarrão começou a se multiplicar, pois ela faz três cuias todos os dias. Ela, a filha Jóice Daiane da Silva , 22 anos, e o marido Vilson da Silva, 45 anos, continuam tomando chimarrão juntos, mas agora, cada um prepara o seu.
A agente de saúde explica que essa atitude foi tomada para evitar o contágio do vírus, porque ela trabalha em uma área que tem contato com muitas pessoas e o marido é caminhoneiro. “Antes tínhamos o costume de tomar mais vezes ao dia, agora que temos que fazer três cuias tomamos só à tardinha”, explica Lurdes.
Assim eles podem continuar com esse momento que acham importante no cotidiano. “Seria praticamente impossível deixar de tomar chimarrão, isso faz parte da nossa rotina. Além de que, mesmo nessa situação ainda é momento de união da família e essa bebida simboliza isso.”
Eles já tinham mais cuias em casa, então não precisaram comprar. Esta é a segunda vez que a família precisou fazer dessa forma. “Quando a Jóice teve caxumba fizemos duas cuias, porque ela tomava separado, mas foi a única vez”, comenta Lurdes, que também lembra que agora o consumo da erva aumentou.
Os três também estão cuidando no preparo do chimarrão. “Cada um faz o seu, de maneira diferente e para manter segurança de higiene”, cita Jóice. Para se tornar mais próximo de uma ‘roda de chimarrão’ eles fazem um rodízio. “É engraçado, quando a mãe toma, eu e o pai deixamos nossas cuias paradas, assim vamos fazendo para cada um encher e tomar de uma vez”, exemplifica a filha.
Jóice ressalta que essa atitude da família leva em conta dois aspectos importantes: um é proteger a família e evitar o vírus, por meio da higiene pessoal, o outro é ter “consciência que a saúde pública não tem suporte para atender todos.”
Cada um com a sua cuia
• Não compartilhar objetos de uso pessoal, como copos, talheres e toalhas é uma das medidas de prevenção para evitar o contágio do coronavírus. Da mesma forma, a recomendação dos órgãos de saúde é que cada pessoa tome o próprio chimarrão – medida que também tem sido incentivada pelo Sindimate.