Nós falamos muito mais do que escrevemos. É fato! No entanto, escrever pode
ser uma forma muito interessante e gratificante de se expressar. Nesta
edição, apresentamos um projeto bacana de incentivo à escrita, de uma
estudante de Venâncio Aires, e convidamos você a colocar as ideias no papel
e também fazer, da escrita, uma atividade diária.
Como explica a professora Joseline Tatiana Both, a escrita é uma habilidade que deve ser valorizada, estimulada e aperfeiçoada. Assim como há quem se destaque por saber cantar, tocar, pintar, encenar ou mesmo editar um vídeo, na hora de escrever não é diferente. Alguns têm mais habilidade do que os outros, mas todos têm capacidade de escrever. Basta exercitar.
A seguir, você confere dicas de como incluir a escrita no seu dia a dia e exemplos para se inspirar. Pegue papel e caneta – ou celular e computador – e mãos à obra!
Escrever para a mente entreter
A falta de ir para a escola e ter atividades rotineiras, por conta da pandemia do coronavírus, fez a estudante Larissa Parkert, 15 anos, criar um
blog para publicar textos. Poemas, contos, crônicas e outros gêneros são
escritos pela adolescente e por pessoas do seu grupo de amizade e publicados
no blog Escrever para a mente entreter.
Tudo começou há cerca de duas semanas, em um sábado, quando a aluna do
Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) estava entediada e sem nada para
fazer. “Assistimos a muitas séries e filmes nesses últimos meses e tinha uma
série que falava sobre escrever em uma plataforma digital. Eu achei
interessante e depois fui ver como funcionava”, conta a menina, que reside
em Linha Isabel, no interior de Venâncio Aires.
No primeiro momento, ela ficou na dúvida sobre qual tema seria o blog, mas depois decidiu publicar seus textos e convidar outras pessoas para escrever. “Quem tiver interesse pode mandar texto para publicar, não importa o assunto, tamanho ou gênero”, convida a guria, que resume sua atitude como um entretenimento.
Larissa também lembra que aceita textos de todas as idades e, se for preciso, edita antes de serem postados. “Não precisa escrever perfeitamente, eu arrumo a pontuação e, se precisar, peço ajuda de uma professora. O
importante é praticar a escrita e colocar para fora o que sente”, reforça.
Depois de iniciar o blog, ela também criou um perfil no Instagram, para falar sobre seus textos, e divulgou entre amigos. “Todos me apoiaram, até minha avó compartilhou entre as amigas dela, foi muito inspirador”, comenta, feliz. Posteriormente, ela começou a receber textos de outras pessoas. “No início, a maioria queria colocar autor anônimo, mas na segunda vez que mandaram já pediam para colocar assinatura.”
Para conseguir controlar as publicações, a adolescente tem um cronograma de
postagens e divulga um texto por dia. “Tenho arquivos prontos para mais uns
dez dias, deixo para publicar um de cada vez, por isso, anoto tudo com data
e título que será compartilhado no blog”, esclarece.
Incentivo à leitura e à escrita
Desde criança Larissa foi incentivada pela mãe Clédia Bohn Parkert, 45 anos,
que é professora. “A mãe conta que já lia para mim quando eu estava na
barriga”, diz Larissa. Por isso, quando criança, já tinha acesso a muitos
livrinhos. “Lembro que eu comi um livro, literalmente, quando era pequena.”
Na escola, a guria sempre preferiu as disciplinas de humanas, especialmente
Inglês e Português. “Sempre fui incentivada pelos professores a ler e escrever.” Ela acredita que isso traz mais conhecimento geral para a vida. “Quando alguém lê ou escreve algo, sempre aprende mais um pouco sobre algum assunto”, ressalta a estudante.
Por ter recebido o estímulo à leitura desde a infância, Larissa faz o mesmo com o irmão Murilo Parkert, 9 anos. Ele é um dos autores que publicam no blog. “A mana me ajuda, eu gosto muito de escrever sobre animais”, expõem o garoto.
Ele acredita que isso irá ajudar no desenvolvimento escolar. “Além das atividades que eu tenho para fazer da aula, eu pratico mais ainda a escrita e leitura, por isso acho que vai ser bom, já vou saber mais quando voltar para a escola”, considera Murilo.
Larissa lembra que sempre auxiliou o irmão na aprendizagem. “Antes de ele ir para a escola, eu ensinei o alfabeto para ele.” Há alguns anos, quando ele ainda não sabia escrever, ajudou a mana a fazer um livro caseiro. “Nós imaginamos juntos uma história de um menino e a poluição, daí eu escrevi e ele desenhou”, relembra a irmã.
Como participar
Larissa quer engajar mais pessoas para escrever e ocupar a mente com bom hábitos. Para participar, basta fazer contato pelo Instagram @escreverparaa e combinar o envio do texto. Pode ser publicado qualquer tipo de texto: crônica, conto, poesia e por aí vai. Larissa também pretende publicar textos em Alemão e Inglês, pois a plataforma oferece tradução para quem precisar.
Confira o texto “Ei, você!”, publicado no blog Escrever para a mente entreter
Forma de se expressar e de (re)conhecer
A professora de Língua Portuguesa e Literatura Joseline Tatiana Both explica que escrever pode ser uma forma de transmitir informações que a gente conhece para outros, mas também um processo de reconhecer nossos sentimentos e pensamentos. Além disso, é uma oportunidade de reformulá-los e dar um novo significado a eles.
Por isso, neste momento de isolamento social, transformação, medos e inseguranças, colocar no papel nossas ideias pode ser uma atividade muito interessante. “A escrita pode ser uma maneira de ajudar a pensar e reconhecer os sentimentos e não apenas expressá-los”, explica a doutora em Letras, que leciona no IFSul Venâncio Aires.
Outro ponto destacado pela professora é que a escrita (assim como outras formas de arte) ajuda a exercitar a alteridade e a empatia. Ou seja: faz com que a gente se coloque no lugar do outro.
“Criar personagens diferentes de nós, por exemplo, exige o exercício de se colocar no lugar do outro, perceber modos de viver diferentes do nosso. Sempre escrevemos para alguém e sempre lemos alguém e isso é de uma riqueza infinita. Por meio desse outro podemos conhecer melhor a nós mesmos e o mundo”, observa.
“A escrita e a leitura se destacam como práticas que nos ajudam a ter empatia. São dois movimentos: escrevemos para nós, mas também escrevemos para os outros.”
Joseline Tatiana Both – Professora
Joseline adianta que uma iniciativa do IFSul, para estimular a escrita neste período de distanciamento social, deve ser lançada em breve. “Ainda estamos definindo os detalhes, mas a ideia é convidarmos alunos, professores e demais pessoas da comunidade para escrever ou compartilhar seus escritos realizados nesse período para reunirmos, inicialmente, em uma página das redes sociais e analisar a viabilidade de publicação posterior.”
Dicas para se dar bem na escrita
- Leia. Para quem quer escrever, é importante ler – e também assistir a
filmes, escutar músicas e pesquisar, que são formas de escutar. Uma leitura
pode provocar a escrever algo. Além disso, é importante ler textos do gênero
que deseja escrever, como poesia, crônica ou conto, por exemplo. - Pratique. A gente não se torna escritor de um dia para o outro. A melhor
forma de começar a escrever é fazer anotações, rascunhar ideias, escrever no
celular, no notebook ou ter um caderninho sempre disponível. Escrever uma
mensagem de aniversário para um amigo ou criar uma frase para compartilhar
no Facebook, em vez de copiá-las, é uma boa forma de exercitar a escrita. - Escreva sobre algo que você viu, leu ou ouviu. A escrita pode surgir como
uma resposta a um texto lido, um filme a qual assistimos ou até uma opinião
sobre um assunto que está sendo discutido. - Tenha um diário. Escrever memórias, falar da própria vida em diários ou
blogs é uma forma bacana de exercitar a escrita. - Não tenha medo de errar. Um dos principais equívocos é achar que a escrita
é para poucos, para alguns letrados. Fazer da escrita um exercício é uma
forma de tornar a linguagem algo que não seja tão distante e, sim, algo que
pode ser incorporado no dia a dia.
Dicas da professora Joseline Both.