Mais do que se referir a um item de proteção individual essencial para a prevenção do coronavírus, a palavra máscara também se tornou uma importante ferramenta para que mulheres vítimas de violência doméstica denunciem os agressores. Lançada na quarta-feira, 10, a campanha ‘Máscara roxa’ possibilita que as vítimas desse tipo de crime façam denúncias em farmácias. A iniciativa, que já está em funcionamento em todo o estado, será realizada durante o período de pandemia.
De acordo com a coordenadora-executiva do Comitê Gaúcho ElesPorElas, entidade vinculada à ONU Mulheres, Karen Lose, a campanha foi criada porque a entidade percebeu que o número de registros de violência contra as mulheres caiu no Rio Grande do Sul. “No entanto, sabemos que a violência tem aumentado durante o período da pandemia. Temos certeza disso porque os dados de feminicídio nos mostram que muitas mulheres têm morrido nesse período. Tivemos um aumento de 64% de feminicídio comparado com o mesmo período do ano passado”, explica.
Karen também relata que a Organização das Nações Unidas (ONU) orientou que todos os países – membros criassem políticas que facilitem o acesso das mulheres ao socorro nos casos de violência doméstica. Nesse sentido, no estado foi criada a campanha ‘Máscara roxa’ em parceria com as farmácias. Esses estabelecimentos foram escolhidos porque são considerados essenciais e permanecem abertos mesmo durante o lockdown. “Como elas passam praticamente 24 horas ao lado do agressor, não conseguem fazer chamadas de áudio para ligar para o disque 180 ou para o próprio 190 da Brigada Militar”, comenta.
Ampliação
Segundo a coordenadora-executiva do Comitê Gaúcho ElesPorElas, inicialmente apenas a rede de farmácias Associadas era parceira da ação. Agora, houve ampliação da adesão, e as redes Agafarma, Preço Mais Popular e Vida Farmácias, além de outros estabelecimentos do segmento, também aderiram à campanha. Karen ainda reforça que qualquer farmácia pode colaborar com a iniciativa. Contato pode ser feito pelo telefone (WhatsApp) 51 99199-3641 e pelo e-mail [email protected].
Os atendentes das farmácias que aceitam ser parceiras da campanha recebem orientações de como proceder e estarão preparados para acolher as mulheres que procurarem por atendimento. Além disso, Karen esclarece que a mulher não precisa preencher nenhum formulário ou repassar informações sobre a violência que sofreu. “É uma forma discreta de ela pedir ajuda. O atendente não vai perguntar nada para ela. Ele só vai coletar os dados e enviar para a polícia, que vai entrar em contato e ver qual a melhor maneira de ajudar”, explica.
Venâncio Aires
Em Venâncio Aires, a Célia Farmácia – Rede Associadas está participando da campanha. Segundo a proprietária, Célia Rehbein, o local ainda não está identificado com o adesivo, mas já é autorizado a fazer os atendimentos e os profissionais estão preparados para acolher as mulheres que precisarem fazer a denúncia.
Ela ressalta que o acolhimento será feito de forma discreta e sem expor a vítima. “O pedido por uma máscara roxa é a senha para um pedido de socorro”, salienta. Célia também avalia essa é uma ação muito boa e ressaltou a importância da empatia, do se colocar no lugar do outro.
Como funciona a campanha Máscara roxa
- A mulher vai até a farmácia identificada com o selo ‘Farmácia Amiga das Mulheres’ e pede uma máscara roxa. Essa é a senha para que o atendente saiba que essa pessoa é uma vítima de violência e que ela precisa de ajuda.
- O atendente vai responder que a máscara está em falta, mas que vai anotar os dados da mulher para avisá-la assim que o produto estiver disponível. As informações pedidas são nome, endereço, telefone e o contato de algum amigo ou familiar
- Depois disso, o atendente da farmácia envia dos dados fornecidos pela mulher para o número de WhatsApp da Polícia Civil, que fará os encaminhamentos necessários. Esse contato é específico para casos de violência doméstica e funciona 24 horas. Os dados fornecidos e a identidade da mulher estarão protegidos.
- A orientação é que as mulheres procurem por farmácias identificadas com o selo ‘Farmácia Amiga das Mulheres’, que estará exposto na vitrine. Nestes locais, os atendentes estarão preparados para fazer o acolhimento.
- A campanha foi idealizada pelo comitê junto do Governo do Estado, Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, ONG Themis e o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero (Cladem), com o apoio da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. Brigada Militar e Polícia Civil também são parceiras.
-
Sobre o comitê
O Comitê Gaúcho ElesPorElas é coordenado pelo deputado estadual Edegar Pretto, foi criado em 2017 e tem sede junto à Assembleia Legislativa, em Porto Alegre. O HeForShe é um movimento mundial que visa sensibilizar homens e meninos para o tema da igualdade de gênero e o enfrentamento da violência contra as mulheres.