Nos últimos dias, me juntei à lista de pessoas que são contatadas por golpistas, pelo celular, na tentativa de conseguir uma grana de forma fácil. Depois de clonar um número, eles costumam se passar por familiares ou amigos para pedir um ‘favorzinho’: uma transferência bancária. O golpe é aplicado pelo WhatsApp.
Não caí no golpe, mas fiz questão de ter uma prosa para entender melhor até onde os golpistas conseguem levar a conversa e de que forma tentam convencer a vítima da vez a fazer uma transferência.
Como o meu familiar – que teve o número clonado – logo buscou avisar amigos e familiares por uma rede social, já iniciei a conversa sabendo que o número dele estava sob o comando de golpistas.
A conversa
Depois do ‘boa tarde’ e do ‘tudo bem primo’, forma que eu escolhi cumprimentá-lo no WhatsApp, justamente para mostrar que nos conhecemos, o golpista começou a aplicar a conversa fiada e sem muitos rodeios pediu a transferência.
Ele disse que estava sem graça em pedir um favor, mas que precisava fazer uma transferência bancária, pois o aplicativo do banco estava fora do ar. Perguntei quanto precisava e ele me retornou informando que seriam R$ 1.245,89. Logo retornei dizendo que não tinha tudo isso em conta, também com intuito de saber como ele reagiria. “Eu não tenho nem a metade disso kkkkkk”, escrevi.
Ele me perguntou com “quantos eu conseguia ajudar” e informei que eu teria apenas R$ 300 e, mesmo assim, o golpista pediu para eu transferir essa quantia. Em seguida pergunto qual é a conta e ele me informa que precisa transferir o valor para outra pessoa, caso eu viesse a estranhar. Ele informa que o depósito é para uma conta do Santander, para uma cliente dele.
Para dificultar, comento que para fazer uma transferência para esse banco eu teria que pagar uma taxa e pergunto se não teria uma outra conta. Ele me pergunta qual aplicativo estou usado e informo o nome da Caixa [apenas para verificar a reação]. No mesmo instante ele diz que vai ver com a tal cliente se tem outra conta. Um minuto depois, os dados da tal ‘Ana Paula’ são repassados. Números da agência, da conta e do CPF da pessoa, tudo prontamente enviado para a transferência via aplicativo.
Objetivos
Em alguns momentos da conversa demonstro dúvidas e certa ingenuidade, como quem não tem muita habilidade no que está fazendo e está apenas querendo ajudar o parente. O golpista ignora e logo pede que eu envie o comprovante do depósito, logo após a transferência.
Pergunto de onde é a cidade da agência bancária e ele retorna apenas com um “seria daqui mesmo.” Insisto na pergunta e afirmo que o número da agência é diferente da agência daqui (sem dizer o nome do município que moro) e alerto o ‘primo falso’ de que a cliente pode ter passado o número errado, com intuito de verificar. “Está certo, é porque ela fez essa conta em outro estado e veio para cá. Semana passada eu fiz nela”, diz o golpista.
Por fim, digo que perguntei “só para não entrar na conta errada.” Também usei a brecha para dizer que temos que cuidar, pois “tem muitos golpes hoje em dia”.
Ele simplesmente ignora essa parte do diálogo e pergunta, quatro minutos depois, se deu certo o depósito. Deixei o golpista esperando por 25 minutos até eu retornar com um “simmmm”. Ele me pede o comprovante de depósito e eu digo que não sei como enviar pelo celular. Até orientação de fazer um print na tela o golpista deu. Depois disso, não respondi mais nada. O último contato foi apenas um ponto de de interrogação dele, esperando meu sinal ou melhor, o comprovante.
Do primeiro boa tarde até eu parar de responder, se passou um pouco mais de uma hora de ‘diálogo’. Compartilho essa informação para se ter ideia do tempo que ele ou eles têm para o golpe. Se esta foi uma tentativa aplicada de dentro de uma penitenciária, como muitos golpes deste gênero são, de fato, estes criminosos estão tendo bastante tempo para navegar pela internet, enquanto nem poderiam ter acesso a telefone, muito menos ao sinal de internet. Esta tentativa de golpe falhou, mas quantas outras seguem sendo feitas e com ‘êxito’?
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