Três anos e meio e uma troca de partido foram necessários para que o vereador Gilberto dos Santos (MDB) protagonizasse uma polêmica na Câmara de Vereadores. Pois o momento – que aliás muitos não esperavam que ocorresse – se concretizou na segunda-feira, 13, no período de comunicações da sessão semanal. Desde que assumiu como vereador, Santos manteve uma postura de tranquilidade e nunca esteve envolvido em ‘confusão’, mas resolveu contra-atacar após ter sido provocado, semana passada, pelo colega Ezequiel Stahl (PTB).
Na sessão anterior, Stahl cutucou Santos ao comentar que o MDB teria definido Izaura Landim para a liderança de bancada do partido no Legislativo, pois ela seria a preferida de Jarbas da Rosa (PDT) para a composição na eleição majoritária. O petebista apostou que o nome para vice estaria definido e que Santos, que já manifestou intenção de ser indicado pelo MDB, teria sido preterido. Ao mesmo tempo, comentou que seria ruim para o colega “bater de porta em porta pedindo voto para vereador, já que disse que Câmara não queria mais”.
Ao repercutir o comentário, Santos afirmou que “em relação a ser ela (Izaura), eu ou outro o vice de Jarbas, não tem nada definido”. Na sequência, não afastou a possibilidade de concorrer à reeleição e citou o projeto das emendas impositivas – de autoria do vereador Sid Ferreira (PDT), que resguarda aos vereadores 1,2% da receita corrente líquida orçamentária e foi aprovado já em segundo turno -, como uma forma de “maior valorizar do parlamentar”. Também disse que, aos 58 anos, “não tenho nada que desabone minha honra, em toda a minha vida”, além de recordar que foi o vereador mais votado de Venâncio na eleição de 2016.
A seguir, passou a falar do PTB, partido ao qual foi filiado até a transição para o MDB. “Eu ajudei muito o PTB. Quando não me senti mais à vontade, quando achei que estava sendo usado e não tive mais respaldo desta Administração para atender às minhas demandas, mudei de grupo político. Sim, estou muito satisfeito, pois fui bem acolhido no MDB”, declarou. Também fez análise de que pedir votos será difícil para todos e, citando o colega que o provocou, disse que acredita na continuidade da sua carreira política. “Pra ti, Ezequiel, tá me chutando, é sinal que ainda tô vivo. Acho que tenho uma chancezinha ainda”, ironizou ele.
Ataque contra o vice
Quando todos achavam que o pronunciamento seria encerrado, Santos veio com um ataque, que tem como alvo o vice-prefeito Celso Krämer. “Ele comenta que sou contra o colono, que não quero que o agricultor tenha eletricidade, só porque eu votei contra o projeto da iluminação pública. Que eu ia ter que jogar bocha com lampião, liquinho ou velinha. Mas não é bem assim, porque sempre ajudei as comunidades”, declarou, para contextualizar sua participação nas comunidades do interior. Na sequência, disparou: “Se fosse depender do Celso Krämer, não tinha cancha de bocha aberta. Ele vai lá, dá uma passadinha, ainda com o carro da Prefeitura, gastando diesel que nós poupamos aqui na Câmara, dando nojo, pagando hora extra pra funcionário sábado e domingo, fazendo campanha, e além de tudo nem uma água não toma. Como que vai pagar a luz? Tem que ser lampião, liquinho e velinha. Pelo amor de Deus, vamos respeitar”.
“Se politicamente eu não sou muito ligeiro como vocês, que guardam qualquer frase para prejudicar uma pessoa, então prefiro mesmo seguir a minha ingenuidade e estar ao lado da verdade.”
GILBERTO DOS SANTOS
Vereador do MDB
Manifestações
• Durante o pronunciamento, Gilberto dos Santos (PDT) concedeu aparte para dois vereadores. A presidente da Câmara e colega de MDB, Helena da Rosa, afirmou que ela e os integrantes da sigla estão muito contentes com a filiação do vereador mais votado de Venâncio Aires. “Lutamos muito para tê-lo conosco”, afirmou, acrescentando que a indicação de Izaura Landim para a liderança de bancada do MDB na Câmara estava decidida antes da chegada de Santos. “Então, fique tranquilo, vereador Gilberto, porque com certeza o nosso partido vai saber reconhecer o seu trabalho”, disse a presidente.
• Em seguida, Tiago Quintana (PDT) também se manifestou. Disse que o posicionamento de Santos era importante, “até para o senhor mostrar que não é água morna, que tem sangue nas veias”. Ele sugeriu ainda que “este tipo de ataque ao senhor deve ser uma injeção de vontade, de mostrar, de vencer, que o senhor tem”. “O senhor até é modesto nas suas palavras, porque o senhor foi o fator decisivo para a eleição do Celso Krämer. Se não fosse o senhor, o Celso Krämer não era vice-prefeito, o Giovane Wickert não era prefeito. É importante o respeito, até porque o senhor foi fiel nos três anos em que esteve no governo”, concluiu.
“Levou para o lado pessoal”
O vereador Ezequiel Sthal (PTB) disse que não respondeu à manifestação de Gilberto dos Santos (MDB) na sessão de segunda-feira, 13, porque o colega deixou o Plenário Vicente Schuck depois de utilizar a tribuna. Stahl afirmou que não vê problema no fato de Santos tê-lo rebatido, mas não aceita a forma como conduziu a resposta. “Enquanto ele estava falando de mim e das questões que me envolvem na política e na Câmara de Vereadores, tudo bem. Só que ele misturou as coisas e deu a entender que eu não tenho vocação pra ser colono, porque minha família vendeu umas cabeças de gado depois que o meu pai faleceu”, comentou.
Ainda durante seu pronunciamento, Santos disse que Stahl tinha “várias profissões”, como vidente, advogado “e até médico, pois andou dizendo que eu estava com depressão. Se não tivesse vendido as vaquinhas que tinha na propriedade, seria agricultor também”. Este parte do discurso, de acordo com o petebista, “foi lamentável, pois mexeu com a minha família, coisa que não se faz”. Ele não descarta responder ao emedebista na próxima sessão, desde que ele esteja presente no plenário. “O que posso garantir é que não vou baixar o nível, como ele fez, mas também não vou permitir mais que ele fale da minha família”, reforçou.
Discurso pronto
- Contatado pela reportagem da Folha do Mate para se manifestar a respeito do pronunciamento de Gilberto dos Santos (MDB), o vice-prefeito Celso Krämer (PTB) afirmou que prefere não se envolver com “fofoca miúda da Câmara de Vereadores”.
- Embora tenha argumentado que não sabia o que Santos tinha dito, sugeriu que o vereador não teria condições de redigir sozinho o texto que leu na tribuna. “Foi um discurso pronto, que alguém escreveu pra ele. Não foi ele que escreveu aquilo”, comentou.
- Sobre os comentários de Santos de que o vice-prefeito teria usado veículo da Prefeitura para ir até canchas de bocha do interior e fazer campanha, Krämer declarou que há quase quatro meses a comunidade está em isolamento por conta da pandemia de coronavírus e, em razão disso, as canchas não estão autorizadas a funcionar.