Após inúmeras perdas com a estiagem que assolou os venâncio-airenses, principalmente os produtores rurais, a agricultura volta a sofrer impactos, desta vez, com a enchente que ocorreu nos dias 8 e 9 deste mês. O escritório da Emater de Venâncio Aires realizou uma pesquisa e divulgou, por meio de um laudo técnico, os prejuízos decorrentes das enchentes. De acordo com o levantamento, o prejuízo na área rural foi de R$ 813.805,00. Com a soma das perdas da estiagem, que foi de R$ 108.678.151,43, a agricultura de Venâncio Aires registra prejuízo milionário: são R$ 109.491.956,43 nos últimos oito meses.
Do total de perdas em função da enchente, o milho verde representa 90%, somando um prejuízo de R$ 243 mil. Foram perdidos 33 hectares desta cultura. Também foram afetados peixes em açudes, gado leiteiro e de corte, suínos, aves, hortaliças, pastagens, ervilhas, lenha de eucalipto e grãos armazenados.
O laudo técnico emitido pela Emater também mostra que 154 hectares de lavouras de tabaco foram perdidos. Vários produtores da área atingida pela enchente ainda contabilizam os danos. O chefe do escritório local da entidade, Vicente Fin, realizou entrevista com agricultores e percorreu as áreas atingidas. “O número de prejuízos está computando todas as perdas comerciais e de subsistência”, salienta o engenheiro agrônomo.
Milho verde
Dos 30 hectares de milho verde contabilizados pela Emater, três são de Pedro Ismael Daniel, 60 anos e a esposa Maria Inês Daniel, 62 anos, moradores de Linha Itaipava das Flores. O casal tem na frente de casa as lavouras ‘lavadas’ e tomadas pelo lodo. “O sentimento é de tristeza. Perdemos a nossa principal renda”, lamenta Daniel.
Desde que o produtor se recorda, sempre plantou o milho verde para comercialização na Ceasa em Porto Alegre. “Já perdemos outras vezes, mas agora foi pior.” O agricultor enfatiza que a estiagem já castigou a produção e agora com a enchente a família perdeu o restante. “O milho estava prontinho para ser vendido. É muito triste.”
Além dos prejuízos na lavoura a família perdeu o aipim que ainda estava na roça, algumas galinhas e todos os materiais de trabalho que estavam no galpão. Na casa, o segundo piso foi atingido pela enchente, mas não foi alta, por isso, conseguiram ‘salvar’ os utensílios domésticos.

Animais
A aposentada Eva Brandão Reis, 77 anos, moradora de Linha Itaipava das Flores, não recorda uma enchente parecida. “Foi tudo muito de repente. Rápido de mais. Era meia-noite e isso começou a subir”, recorda.
Ela, o filho Marco Aurélio Reis e a nora Nilsa Aparecida Reis, perderam 11 animais. Sem contar nos prejuízos com o pasto. “Conseguimos salvar 12 terneiros que largamos dentro do galpão. Mas as novilhas que estavam no campo viram a água subir e se assustaram, com isso, não vieram para o galpão. Essas a gente perdeu. Elas não estavam acostumadas com a enchente”, conta Nilsa.
O azevém também não poderá ser aproveitado para tratar os animais que restaram pois o lodo ficou por cima e pouco sobrou. “Essa é a terceira vez que entra água na nossa terra, mas nunca perdemos os animais. Essa foi a maior aqui, sem dúvidas”, confirma Eva.

Decreto de emergência
O secretário de Desenvolvimento Rural de Venâncio Aires, Gilmar Mohr, salienta que a equipe está realizando visitas nas comunidades atingidas para fazer um levantamento e verificar os acessos à propriedades que precisam ser refeitos. “Esse laudo da Emater vai nos auxiliar para encaminhar o decreto de emergência ao Governo do Estado”, explica.
Mohr também comenta que o governo estadual já encaminhou R$ 130 mil de auxílio para Venâncio Aires em decorrência da estiagem. “Vamos utilizar esse valor para a abertura de poços e serviços de horas-máquina. Esperamos conseguir um valor para os prejuízos da enchente também”, finaliza.