Uma cultura muito antiga segue sendo cultivada na propriedade de Flávio Mallmann, 51 anos, em Vila Palanque. Mais do que isso, a produção de uma leguminosa vem desafiando o produtor a investir mais a cada ano. Trata-se da fava, plantada há oito anos nas terras da família.
Com sementes crioulas, em cada safra, Mallmann amplia o plantel de sementes e a produção. “Eu conhecia a fava quando era pequeno. Depois a gente nunca mais plantou. Há uns 10 anos um vizinho me deu algumas sementes e eu testei”, conta o produtor.
No início, a família consumia a leguminosa como salada, um refogado e substituta do feijão. Como já vendiam hortaliças direto para o consumidor, no centro da cidade, foram incluindo a fava na lista de compras e obtiveram sucesso. “Hoje eu poderia plantar bastante pois muita gente gosta e consome”, afirma.
Nesta safra, Mallmann plantou a fava cedo, no fim de maio. Agora, ele explica que a semente leva três meses até começar a produzir. Primeiro vem o ciclo da floração e se o clima de inverno persistir, ela pode ser comercializada por mais semanas. “Se for muito quente daí vai ligeiro. É uma cultura de inverno, algo muito antigo”, explica.
O produtor acredita que a população precisa começar a pensar mais no futuro para evitar um lapso no futuro e ter a falta de alimentos. “Nosso mundo precisa mudar. Por isso que aqui só usamos sementes crioulas. Planto fava pensando na minha saúde e na saúde de todos. Eu não penso só em mim. É um alimento muito saudável.”
Há 15 anos Mallmann mudou a propriedade. “Hoje só planto culturas de sementes crioulas”, enfatiza. Com isso, todas as culturas como milho, feijão e fava passam por melhoramento genético. O agricultor, no fim de cada safra, escolhe as melhores sementes para serem plantadas na safra seguinte. Apesar do carro-chefe na propriedade ser a agroindústria de aipim, o produtor salienta que é preciso buscar outras culturas para agregar valor e investir em outras produções.
Cultura desconhecida
Conforme o escritório local da Emater-RS/Ascar, cerca de 500 famílias cultivam a fava no município para consumo próprio, mas o caso de Mallmann é uma exceção, pois o produtor viu na cultura uma oportunidade de agregar renda. Segundo o técnico agrícola Alexandre Kreibich, poucas pessoas conhecem a leguminosa. “Poucas famílias comercializam a fava. É uma cultura desconhecida por aqui.”
Com o Grupo das Sementes Crioulas mais produtores estão realizando a troca de sementes. “O grupo realiza uma troca de experiências, e com isso, mais pessoas conhecem e produzem a fava.” Kreibich reforça que a fava ainda precisa ser mais divulgada para os produtores investirem nela como uma cultura comercial. “É uma cultura que não é muito expressiva. Antigamente a área comercial era bem maior. Não é uma cultura muito conhecida”, disse.
Saiba Mais
A leguminosa é a planta mais velha cultivada no mundo e seu consumo é muito comum na Itália, Egito, Índia e na China. A fava pode ser consumida como ingredientes de sopas, saladas, guizadas ou em receitas de paellas.
O número aproximado de famílias que cultivam a fava para consumo próprio em Venâncio Aires é 500.
“A gente não vence produzir a fava. É um produto muito procurado. Tanto para consumir como salada, sopa, cremes ou substituição pelo feijão.”
FLÁVIO MALLMANN – Produtor de fava
Segredos do preparo da fava
- A agricultora Neusa Maria Kaufmann, de Linha Santa Eugênia, cultiva a fava há anos na propriedade e conheceu a leguminosa com os sogros.
- Para consumir a fava, Neusa explica que é necessário tirar o amargor. “Ela tem um gosto muito forte, por isso, muitas pessoas não gostam de comer. O segredo é colocar o grão em uma panela com água fria. Assim que começar a ferver tirar essa água e colocar água fria novamente. O ideal é repetir esse processo umas três vezes”, explica.
- Após esse procedimento, Neusa conta que pode-se cozinhar a fava até amolecer. Em uma frigideira pode-se esquentar um pouco de gordura, como óleo ou banha e fritar alho e cebola. “Depois é só misturar, colocar um tempero, sal, pimenta e uma farinha de mandioca para incorporar”.
- Além disso, a agricultora conta que pode-se consumir a fava com a carne moída, ou substituir pelo feijão. “Na minha casa, no mínimo três vezes por semana, a gente consome a fava. Quando acaba a safra eu até congelo para ir consumindo ao longo do ano”, cita.