Um somatório de fatores, atrelados ao aumento de casos de síndrome gripal, tem preocupado a direção do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), na última semana. A instituição registra crescimento no número de internações, na ocupação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e nos pacientes que procuram o plantão e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Paralelamente, o número de profissionais afastados, por suspeita de Covid-19, também tem se elevado.
A ampliação dos atendimentos e das internações, nesta época do ano, é considerada histórica e se repete anualmente. Entretanto, por conta da pandemia do coronavírus, a situação se torna mais complexa e preocupante, neste ano. “No Rio Grande do Sul, o período entre a 22ª e a 26ª semana do ano é sempre o de maior internações, mas, neste ano, além do setor da clínica médica estar lotado, temos a unidade com leitos específicos de Covid-19”, explica o diretor técnico do HSSM, Guilherme Fürst Neto.
De acordo com ele, no momento, cerca de 90 pacientes estão internados. “O que mais preocupa não é a superlotação, em função da estrutura, mas, sim, a redução no número de pessoal. Assim como outras pessoas, funcionários do hospital também tendem a apresentar mais quadros de síndrome gripal neste período”, argumenta.
diretor técnico esclarece que, mesmo quando não são casos de Covid-19, os funcionários são afastados para realização do teste. “São, pelo menos, dois ou três dias até sair o resultado. Se for positivo, a pessoa fica afastada por 14 dias. Se for negativo, passa por uma nova avaliação, para ver se já tem condições de voltar a trabalhar”, explica. “Não se consegue substituir profissionais da saúde com contratações rápidas e temporárias”, acrescenta.
Nessa quarta-feira, 22, 13 funcionários estavam afastados – dois com diagnóstico confirmado para Covid-19, alguns com resultado negativo e outros à espera do diagnóstico. “É uma ginástica diária para realocar os profissionais dentro do hospital e dar conta deste trabalho de linha de frente”, salienta Fürst.
Pronto Atendimento
Segundo ele, o que mais tem chamado atenção da equipe do HSSM tem sido o aumento da procura no Pronto Atendimento e na UPA, por pacientes com sintomas gripais. O diretor técnico do hospital lembra que, até duas semanas atrás, a média era de 20 pessoas com síndrome gripal atendidas, por dia, na UPA, e quatro no plantão.
“Nesta semana, já tivemos um recorde de 50 pacientes com sintomas gripais na UPA e 20 no hospital, em apenas um dia. Essa procura está bem acima da média”, comenta Fürst. Ele observa que a preocupação também contempla o setor de UTI. Ontem, 14 dos 18 leitos disponíveis estavam ocupados. “Estamos no limite, apenas com os quatro leitos que tentamos sempre priorizar para pacientes da região, que possam precisar.”
O que é síndrome gripal?
De acordo com o Ministério da Saúde, o quadro de síndrome gripal é caracterizado por, pelo menos, dois dos seguintes sinais e sintomas: febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos. A síndrome gripal pode levar ao diagnóstico tanto de Covid-19 quanto de outros tipos de gripe.
Suspensão de serviços, no penúltimo estágio do plano de contingenciamento
No fim da semana passada, o Hospital São Sebastião Mártir anunciou a suspensão de todos os procedimentos e cirurgias eletivas, horários de visitas aos pacientes e dos atendimentos do ambulatório de traumatologia, além de regulação especial para internações de saúde mental, a partir desta semana.
De acordo com o diretor técnico do hospital, Guilherme Fürst Neto, este é o penúltimo estágio do plano de contingenciamento que direciona as ações na instituição no enfrentamento ao coronavírus. “Nesta etapa, fechamos leitos de saúde mental, suspendemos as cirurgias eletivas e de traumatologia para realocarmos os recursos humanos e medicamentos para setores essenciais, como UTI, emergência e clínica médica”, detalha o diretor técnico.
“Esperamos que essas semanas historicamente marcadas pelo aumento de internações passem e que se consiga superar isso, com as medidas adotadas. O próximo passo é o fechamento da emergência, para que tudo vire UTI, mas esperamos não ter que chegar neste ponto”, ressalta.
A dificuldade de adquirir medicamentos, como os necessários para pacientes em ventilação mecânica e anestésicos, tem sido outro desafio para o HSSM. A falta dos itens no mercado também é um dos fatores que levou o hospital a suspender procedimentos eletivos.