Gringa: “Aqui, cada pé de grama, cada árvore é a minha vida”

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“Eu fui, praticamente, a pioneira na formação de três lugares no município”. Depois de Valmira Weber, 72 anos, conhecida por Gringa, diversas moradias se instalaram ao redor de seus estabelecimentos comerciais e, a partir daí, foram formadas a Vila Diettrich (bairro), a Linha Coronel Brito e a Ponte Queimada (bairro Universitário), três localidades de Venâncio Aires. Hoje, a Gringa é ponto de referência e de localização na região do Loteamento Tabalar/Primavera.

Natural de Horizontina, junto com seus dez irmãos, migrou com pai e mãe, Alvino e Santina Miorando Weber, para Venâncio Aires. Durante alguns anos viveram como agricultores na localidade de Linha Sete Léguas. Por lá conta que estudou até o quinto ano nos colégios de Linha Datas e de Marmeleiro, depois disso, ela e os irmãos foram tirados da escola para auxiliar o pai na lavoura. Foi quando a família Weber se instalou na Vila Diettrich. “Na época, não havia morador, era só a nossa família perto do Castelhano. Depois da primeira inundação, o pai comprou as terras mais perto de onde hoje é o asfalto”, conta Gringa que recorda as muitas vezes que chegaram a passar fome e que moravam em um casebre de chão batido.

Na cidade, conta que o pai trabalhou na antiga Motordiesel, ela e as irmãs foram trabalhar de doméstica. Continuou os estudos na escola Monte das Tabocas até a oitava série e foi trabalhar de doméstica em uma família de Porto Alegre. Não deu certo e acabou vivendo nas ruas. “Morei na praça com os mendigos, fui moradora de rua. Comendo os lixos, 22 anos eu tinha. Lembro que um Liebstein que era taxista e tinha familiares em Venâncio me reconheceu na rua e me trouxe de volta. Eu não sabia voltar. Na época nem telefone tinha, eu não tinha como me comunicar”, conta.

“Neste espaço aconteceu tudo de bom na minha vida. Se eu morresse e tivesse que voltar de novo eu quero ser a Gringa outra vez. A época mais feliz foi na boate, isso que tive problemas, mas eu faria tudo de novo. Amo a vida, vivo com meu filho Valdomir (Miro), tenho uma filha de criação a Juliana, que tem 35 anos, mora em Muçum e eu amo isso aqui.”

VALMIRA WEBER

De volta a Venâncio, nos anos 80 abriu um barzinho em Linha Coronel Brito. O bar virou boate e foi denominada de Lojinha. Gringa conta que quando se instalou no local, foi a primeira moradora daquele espaço. “Era tudo mato. Só tinha a escola 11 de Maio. Depois que abri o bar, aí sim, mais moradores vieram se instalar ao redor”.
Em Ponte Queimada na década de 90, hoje Bairro Universitário, recorda: “Me lembro que paguei 150 mil dólares, na época, era mesmo valor do real. Fiz empréstimo no banco para comprar isso aqui, há 31 anos. Aqui não tinha nada, era tudo mato. Só existia o Mano Riedel, meu vizinho e não tinha nada, era estrada de chão”, recorda Gringa, que continua, “daí o Almedo (Dettenborn) entrou como prefeito e fizeram a vila (Loteamento Tabalar/Primavera). Agradeço ao ex-prefeito Almedo e queria que ele pudesse ser prefeito mais 30 anos. Na época, o asfalto não era cobrado, ele nunca explorou ninguém. Sou filiada no PMDB, amo política, já fui convidada a ser candidata, mas não quero ser e não serei, mas gosto e faço de tudo pelo meu partido”, comenta.
Gringa não tem mais a boate faz dez anos e orgulha-se em ser uma das primeiras moradores do local que hoje tem muitas casas, mercados, lancheria, posto de saúde, asfalto e que é um lugar bom de morar. “Neste espaço aconteceu tudo de bom na minha vida. Se eu morresse e tivesse que voltar de novo eu quero ser a Gringa outra vez. A época mais feliz foi na boate, isso que tive problemas, mas eu faria tudo de novo. Amo a vida, vivo com meu filho Valdomir (Miro), tenho uma filha de criação a Juliana, que tem 35 anos, mora em Muçum e eu amo isso aqui”, confessa a empresária. Com a instalação das universidades, Unisc e IF Sul, Gringa diz que notou mudanças como a localidade mais calma, civilizada e a juventude mais tranquila, mas refere que para melhorar ainda mais o espaço poderia ter atividades para as pessoas da terceira idade, como bingo ou jogos na sede comunitária, e ter calçamento nas ruas do loteamento. Segundo ela, seguidamente, a Brigada Militar faz a ronda no bairro o que dá proteção e segurança aos moradores.

O LUGAR

Gringa recorda como era a chácara quando foi residir na localidade. “Era um galinheiro, uma estrebaria e uma casinha. Tinha uma igrejinha de crente, inclusive o banheiro ainda está de pé e não vou desmanchar. De uma igreja de crente virou boate. Este lugar é abençoado. Temporal passa ao redor, mas aqui não. Sou privilegiada de Deus. Sou católica com muita fé. Tem gente que diz mulher da noite é do demônio, que nada, sou católica sempre ajudei muito as pessoas nesta vida. Este lugar caiu do céu pra mim. Sou feliz. Nunca fui de baixar a cabeça. Coisas ruins e boas acontecem, mas a gente precisa ser feliz, sou positiva”, explica.

O espaço que abrigava a boate foi reformado e, em breve, inaugura uma casa de shows administrados pelo filho. “Vai ser uma casa para receber as pessoas porque isso aqui, cada pé de grama, cada arvorezinha e tudo o que eu construí é minha vida. Tudo que fiz de bom nesta vida está aqui”, ressalta Gringa.

    

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