Máscara, ok. Temperatura, ok. Calçados no tapete sanitizante, ok. Álcool gel nas mãos, ok. Distanciamento na sala, ok. Brinquedo separado, ok. É num passo a passo detalhista, criterioso, mas igualmente necessário, que centenas de crianças venâncio-airenses são submetidas ao que, por enquanto, virou o ‘novo normal’ das escolas.
Mas, como dizem que os pequenos são ‘esponjas’ e absorvem rapidamente o que lhes é mostrado, tão logo eles têm condições de ensinar também. Assim foi com um garotinho de cabelo longo e cacheado, que mostrou a esta repórter como se deve fazer para entrar na escolinha. Usando máscara, deixou a ‘profe’ verificar a temperatura, bateu os pés no tapete molhado com água sanitária, depois secou em outro pano e passou álcool gel mas mãos. “Deu”, simplificou Benjamin Bouvie, de 3 anos, validando a entrada.
O menino é um dos mais de 200 estudantes da rede privada de Educação Infantil do município que voltaram para as respectivas escolas na terça-feira, 8, data que marcou o reinício das atividades presenciais no Rio Grande do Sul. Essa retomada aconteceu após quase seis meses de paralisação devido à pandemia do coronavírus, o qual bagunçou o mundo e vem exigindo medidas extremas de cuidados sanitários. E reabrir escolas será um teste e tanto.
Em Venâncio Aires, pelo menos 12 instituições voltaram ao atendimento presencial nesta semana e, quem esteve na rua, deve ter reparado em crianças que, além da mochila, agora têm na máscara peça fundamental do uniforme.
Do preparo à efetivação
Uma das escolas que retomou as atividades é a Criança Feliz. Quando teve que fechar, em março, eram 76 matrículas. Agora, com a determinação estadual de atender apenas a metade da capacidade, 31 crianças tiveram o aval dos pais para voltar.
Mas, antes de os responsáveis confiarem seus pequenos à instituição, houve uma pesquisa, feita em julho. “Enviamos uma enquete, para ter ideia de quantos precisavam do atendimento, já que teríamos de adequar a quantidade de crianças por sala. Também encaminhamos o plano de contingência, já aprovado pelos órgãos municipais, para que todos entendessem a nova rotina”, explicou a diretora Daniela Monteiro.
Com o número de estudantes confirmados, a preocupação foi fazer as adequações físicas, de recursos humanos e pedagógicas necessárias. Elas passaram por reuniões on-line entre os profissionais e pela aquisição de termômetros para cada sala de aula, aumento no estoque (já existente) de álcool gel e álcool 70%, mais caixas de luvas de vinil e capas de chuva para proteção de professores e funcionários. “A limpeza e higienização sempre foi uma preocupação e primamos por isso. Estamos sempre atentos às determinações municipais”, ressaltou Daniela.
Opção
O Benjamin, de 3 anos, citado no início da matéria, foi uma das 31 crianças que voltaram para a escolinha. A mãe dele, Paula Fernanda Jantsch, que é enfermeira, junto com o marido, entendeu que o filho poderia voltar: “Ele já vinha frequentando outras atividades extras, praticando esportes, e tinha contato com outras crianças ou adultos. Ele não costuma ficar doente. Além disso, achamos que o plano de contingência é seguro e vamos confiar.”
Antes de voltar para a escola, o menino ficava aos cuidados dos próprios pais (que alternavam seus horários de trabalho) e do avô materno. Por enquanto, essa ainda será a rotina da filha mais velha, que tem 6 anos, e da caçula, de apenas 7 meses.
Colega de turma do Benjamin, Vinícius Henrique Civiero, de 2 anos e 10 meses, também voltou na terça. “Eu trabalho fora e ele ficava com meus pais. Mas conversei com outros pais, li os protocolos e entendi que posso confiar. E vamos confiar em Deus também, né?”, indagou a mãe de Vinícius, Lilian Beatriz da Silva Civiero, que é vendedora no comércio local.
Mudanças
- Na Criança Feliz, os pais não entram mais na escola e deixam os filhos no portão. Antes de verificar a temperatura da criança, que deve estar de máscara, o funcionário confere a do responsável. Isso porque, caso o adulto esteja febril, o filho nem entra.
- Na sequência, os pequenos limpam os calçados em um tapete molhado com água sanitária e os secam em outro pano. Depois, passam álcool gel nas mãos.
- Nas salas de aula, houve adequação nos espaços e, por enquanto, não ocorrem atividades em mesas e cadeiras. A turma do Nível 2 (de 2 a 3 anos incompletos), por exemplo, que agora poderia atender até oito crianças, conta atualmente com seis matrículas.
- Os pequenos ficam em colchonetes, separados por 1,5 metro, e brincam cada um com seu brinquedo. Os objetos, aliás, são constantemente higienizados com álcool 70%. Se forem na pracinha, ocorre o mesmo. Ou seja, uma no escorregador, uma no ‘gira-gira’ e assim por diante.
- O horário do atendimento também mudou e agora ocorre entre 7h e 18h. “Para evitar fluxo de mais pessoas, determinamos que para os pais que optaram em deixar as crianças em casa, a retirada das atividades deve acontecer depois das 18h e somente nas terças-feiras”, explicou a diretora Daniela Monteiro. Essas famílias continuam contribuindo financeiramente, mas foi dado um desconto de 70% na taxa de matrícula.
Temperatura
Além da entrada, a verificação da temperatura ocorre mais cinco vezes ao dia. Em todos os momentos, as mãos são higienizadas e é preciso trocar a máscara. Ou seja, as crianças precisam levar mais cinco máscaras e todas diferentes.
“Seis meses distante e agora retornando com um novo olhar no processo pedagógico. É uma readaptação para começarmos um 2021 totalmente diferente.”
DANIELA MONTEIRO – Diretora da Criança Feliz
De biblioteca a sala de isolamento
Além das escolas particulares, a maioria das instituições que oferecem turno oposto no município também abriu. Entre elas, o Turno Oposto Arte do Saber, que voltou exatamente com a metade das 30 matrículas existentes. No local, também houve mudanças físicas. O bufê do refeitório e o bebedouro estão lacrados. “Cada criança precisa trazer sua garrafinha de água e travesseiro”, explicou a proprietária e coordenadora pedagógica, Patrícia Alexandra da Silva.
Mas o que chama atenção é a biblioteca, que virou a “Sala de isolamento Covid-19”. Na prática, o local está fechado e será usado caso algum aluno fique febril durante o turno. Nesse caso, a criança permanece na sala até um responsável buscá-la.
Tranquilidade
Passados dois dias do reinício, a primeira impressão da retomada é de tranquilidade no atendimento. “Confessamos que estávamos receosos com a volta da rotina, agora diferente, depois de tanto tempo. Mas se a criança é respeitada e orientada, ela responde rápido. E está dando certo”, relatou Stefana Weiss, que é representante das escolas particulares de Educação Infantil junto ao Centro de Operações Emergenciais de Saúde para a Educação (COE-E) Municipal.
Quem já voltou
Hello Kids, Arte do Saber, Nuvem de Algodão e Alçando Voo (turno oposto). Balão Mágico, Meu Cantinho, Educare, Criança Feliz, Reino Encantado, Cantinho dos Pimpolhos e Ursinho Pympão (escolas de Educação Infantil). Entre os colégios, o Gaspar Silveira Martins voltou apenas com o turno inverso e as aulas regulares seguem on-line.
Quanto às escolas municipais, a Secretaria de Educação de Venâncio Aires reafirmou que, em setembro, o atendimento presencial não será retomado e não há nova tratativa sobre o assunto.