Pandemia afeta a socialização e rotina na Casa de Acolhimento

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A Casa de Acolhimento de Venâncio Aires acolhe, atualmente, 15 crianças e adolescentes, entre 2 meses e 17 anos. Com a pandemia de Covid-19, os processos de reintrodução nas famílias ou até mesmo de adoção, foram afetados e aos poucos alguns voltam a ocorrer.
Conforme a presidente da entidade, Vera Sueli Wachholz, com essa interrupção os jovens perdem ainda mais os vínculos com as famílias, mesmo com as visitas liberadas no local. “Famílias podem visitar as crianças, com horário agendado para não ter aglomeração, mas mesmo assim, são poucas as que estão vindo e isso faz os sentimentos se romperem”, lamenta.

Já as visitas da comunidade – feitas por voluntários ou representantes de empresas que levam doações, por exemplo – estão suspensas, mas eram importantes para que as crianças e adolescentes socializassem e recebessem ainda mais carinho. “Eles gostam de ter visitas, de conversar com outras pessoas e isso faz falta. Eles estão sempre dentro de casa brincando, só entre eles mesmos”, diz o coordenador da casa Cássio Silva.

As atividades de lazer, como passeios e brincadeiras na rua, também não estão acontecendo. “Os padrinhos, que buscavam as crianças algumas vezes para passear, passar o fim de semana, não podem fazer isso agora. E, infelizmente, não temos previsão de quando irá retornar”, afirma a presidente.

Outra preocupação da Casa de Acolhimento é com a rotina de trabalho das mães sociais, que são mulheres que cuidam das crianças, realizam a limpeza e organização do espaço. Segundo o coordenador, das seis que atuam nesta função, uma está de atestado e, outra também já esteve por um período, o que dificulta o cronograma de horários dessas profissionais. “O nosso orçamento foi feito em 2019, com base no acolhimento de 15 crianças, mas chegamos a ter, até semana passada, 21. Com isso não é possível contratar outras pessoas para fazer esse serviço, nem temporariamente”, relata Silva.

Cada dupla de mães trabalha por 24 horas, dormindo no local. Neste formato, três duplas deveriam se revezar, mas enquanto há somente cinco trabalhando, os horários estão complicados. “É ruim porque a legislação não deixa as mães sociais ganharem horas extras. Devem achar que, por elas serem mães precisam fazer tudo, sem ganhar a mais e assim desvaloriza o trabalho”, opina Vera.

Aulas on-line

O coordenador explica que a maioria dos acolhidos já frequenta a escola, com isso estão sendo realizadas atividades on-line durante a pandemia, o que exige ainda mais dedicação dele e das mães sociais. “Eles revezam para usar os computadores, mas é difícil, são conteúdos diferentes, modos de aprender diferentes e nós temos que sempre auxiliar. Tentamos ajudar eles, mas nem sempre sabemos”, expõe.

Nesse processo, Vera conta que foi necessário contratar uma pedagoga, que no momento da aula ajuda as crianças. “Se em uma casa com três crianças já está difícil na pandemia, imagina nós, que temos 15. A maioria precisa fazer atividades escolares e ainda ter algum lazer dentro da casa, é complicado.”

A saudade das atividades escolares, de ter contatos com os amigos e professores, também afeta a rotina das crianças. “Percebemos que elas sentem falta de ir ao colégio, porque é um ambiente que elas gostam, que elas brincam com outras crianças e se divertem”, relata.

“A paralisação e lentidão dos processos afeta as crianças na reintrodução com as famílias. O pior é que não temos uma previsão de retorno, isso me preocupa.”

VERA SUELI WACHHOLZ – Presidente da Casa de Acolhimento

No município, mais de 80 famílias estão na lista de espera para adotar

O sonho de adotar uma criança faz parte da vida de 84 pessoas em Venâncio Aires. Conforme a juíza titular da 2ª Vara Judicial de Venâncio Aires e Juizado da Infância e Juventude, Cristina Margarete Junqueira, com a pandemia os processos podem sofrer atraso, mas desde julho, quando o Fórum voltou a funcionar, os pedidos de adoção também voltaram a tramitar.

Para a juíza, no geral, a demora desses processos não tem ligação direta com a pandemia, mas sim com o perfil de crianças que é selecionado nas fichas. “Na maioria das vezes, crianças recém-nascidas, sem doenças e brancas. Porém, o perfil de crianças e adolescente aptos à adoção não é esse”, afirma.

A magistrada também observa que para adotar é necessário ser maior de idade, independente do estado civil. O pré-cadastro pode ser feito em através deste site, deve ser encaminhado ao Juizado da Infância e Juventude para protocolar o pedido.

Os desafios da adoção quando o acolhido chega na adolescência

A presidente da Casa de Acolhimento, Vera Sueli Wachholz, comenta que muitas pessoas procuram a casa com a intenção de adotar as crianças, porém esse processo não é com a entidade. Ela destaca que quando uma pessoa é encaminhada para o lar, passa por várias etapas de reintegração à família biológica, processo que, às vezes, para ela, deveria ser mais rápido. “O processo judiciário faz isso acontecer, mas têm casos que uma ou duas tentativas estaria ótimo e se não deu, se a criança também não querem essa reaproximação, deveriam logo ser encaminhadas para uma nova família, pois com o passar dos anos fica mais difícil.”

Um exemplo disso é de um jovem, hoje com 17 anos, que está na casa há mais de 10 anos, entre idas e vindas da família biológica. “Se ao tentar duas vezes e não ter sucesso, ele deveria ter sido adotado. Se isso já tivesse acontecido, hoje ele poderia estar em uma ótima família, sendo mais amado ainda. Agora, com a idade que ele tem já é mais complicado, já criou vínculos com a gente”, observa.

Por outro lado, Vera já viu muitas adoções com sucesso ao longo dos últimos anos. Ela cita casos de crianças e jovens que encontraram ótimos lares, construíram lindas famílias e visitam a Casa de Acolhimento para agradecer o carinho que tiveram ao residir ali. “Também formamos uma família aqui, por isso, quanto mais tempo alguém fica, mais difícil é a adoção.”

A chegada dos 18 anos

Quando completam 17 anos, os jovens são preparados para uma nova etapa da vida, que é a saída da Casa de Acolhimento. Para isso, começam a ser inseridos no mercado de trabalho e conciliam escola e emprego. “Todos salários recebidos durante esse tempo que trabalham é guardado para que, quando completarem 18 anos, tenham algum dinheiro para começarem uma vida. A maioria não quer voltar para a casa de origem”, observa o coordenador Cássio Silva.

Porém, explica Silva, os jovens não precisam sair logo do acolhimento, podem com calma organizar a vida. “Preparamos muito eles para esse momento, a questão financeira é muito trabalhada. Aqui eles têm tudo, comida, roupas, cama, casa, mas quando saírem vão ter que correr atrás de tudo, por isso buscamos logo inserir eles no mercado de trabalho, é uma oportunidade”, acrescenta.

Características das crianças que esperam pela adoção no país

No Brasil, conforme do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNAA), são 5.176 crianças que integram o cadastro de adoção. Dessas, 42% são pardas, 23,2%, branca e 11,3% preta, 3,9% amarelas e o restante, 19,7%, não possuem a informação de etnia no cadastro.

A maioria (53,3%) é do sexo masculino e 46,7% do sexo feminino.

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