Hoje, a realidade dos atendimentos médicos em Venâncio Aires é bem diferente de quatro décadas atrás. Médico cardiologista, Moacir Emílio Ferreira, 70 anos, fala sobre as mudanças na saúde pública com o passar dos anos.
O profissional começou a atender no município em 1976 e, na época, eram 10 médicos na cidade. Todos atendiam em mais de uma especialidade. “Eu atendia cardiologia e na área de medicina interna. Era comum que os médicos atuassem em mais de uma especialidade, éramos poucos e fazíamos de tudo”, lembra.
Na época, o município contava com três unidades de saúde principais: hospital, posto de higiene e atendimento médico pelo Instituto Nacional da Previdência Social (INPS). O posto de higiene ficava na rua Osvaldo Aranha, na esquina com a Reynaldo Schmaedecke. “Era um atendimento limitado, feito por um médico e frequentado por pessoas geralmente muito pobres”, conta. No local, além do atendimento médico, eram disponibilizados alguns medicamentos para vermes.
O Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) contava com uma sala de ambulatório para emergências. Ferreira recorda que não se tinha sala de observação como hoje no plantão. Após o atendimento, o paciente ia para casa ou era internado no hospital. “Os médicos não ficavam todo o tempo lá, eram chamados para os atendimentos”, diz.
Outra forma de obter consulta médica era pelo antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), ligado ao INPS, órgão que tratava de aposentadoria e pensões. No local, só tinham direito a atendimento pessoas com vínculo empregatício com carteira assinada ou aposentados. “A maioria da população da época, que trabalhava com agricultura, não tinha direito ao atendimento”, lamenta o médico.
Fora isso, as consultas particulares eram procuradas por pessoas que tinham condições financeiras para bancar os atendimentos, que eram normalmente realizados nas próprias residências dos profissionais.
EXPANSÃO
Ferreira também relata que foi realizado um grande movimento para que fosse implantada uma agência do INPS em Venâncio. Os atendimentos começaram a serem feitos no município em 1980, em um espaço alugado e pago pelos médicos. “Os profissionais era concursados pelo INPS e precisavam ir até a sede de Santa Cruz do Sul para realizar os atendimentos. O espaço aqui auxiliou muito”, afirma.
No início dos anos 90, a saúde do município começou a se modificar com a criação dos postos de saúde na cidade e no interior. “Tivemos uma grande conquista que foi o Sistema Único de Saúde (SUS), assim toda a população estava englobada com direito à assistência médica”, enfatiza.
No mesmo período, foi criada a Associação Médica de Venâncio Aires (Amva), em 1990, e o cardiologista fazia parte do grupo de fundadores. “De lá pra cá, a realidade da medicina como um todo teve diversas modificações e o número de médicos no município aumentou muito”, destaca.
Curiosidades
Com o passar do tempo, algumas doenças passaram a ter nomenclaturas diferentes.
– Antigamente, transtorno bipolar era chamado de psicose maníaca depressiva.
– Fibromialgia era neurose de ansiedade.
– Depressão era chamada de melancolia.
Médicos em Venâncio
– 115 médicos atendem em Venâncio Aires, segundo registro do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (CRM/RS).
– Na rede pública municipal, são 42 profissionais, desde clínico gerais e médicos comunitários até ginecologistas, oftalmologistas, psiquiatras e pediatras, entre outros.
– Venâncio Aires tem 14 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e sete Estratégias de Saúde da Família (ESFs), na cidade e no interior.
– Além disso, a rede pública de saúde ainda abrange a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o Centro de Atendimento de Doenças Infectocontagiosas (Cadi), os Centros de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (Caps II, Álcool e Drogas e Infantil) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), entre outras unidades.
Avanços e fortalecimento da medicina preventiva
Moacir Emílio Ferreira relata que, anos atrás, não existia um trabalho tão forte de prevenção na medicina, como é visto nos dias de hoje. “A pessoa só procurava o médico porque adoecia”, lembra.
O médico também afirma que as especialidades na área de saúde auxiliaram para a questão da prevenção. “Quando uma pessoa tem um AVC e perde os sentidos, não existe um remédio para recuperação dos movimentos, é necessário fisioterapia. Por muitos anos, não tivemos fisioterapeuta na cidade, depois de um tempo tivemos um só. Tudo evoluiu”, declara.
O profissional recorda que, décadas atrás, equipamentos para procedimentos e exames eram raros. O município também contava com apenas um laboratório de análises clínicas, que ficava junto ao hospital. Quando era necessário exame de imagem podia ser feito no hospital, porém o equipamento era precário. “Não tinha médico radiologista. Quem solicitava o exame mesmo que fazia a avaliação”, afirma. Nos casos em que os pacientes precisavam exames mais detalhados, era necessário se deslocar para outros municípios.
Em 1976, também havia apenas um aparelho de eletrocardiograma no hospital, mas estava estragado. “Os primeiros eletros foram feitos com um equipamento que eu tinha que era portátil. Todos os dias à tardinha, a secretária levava para o hospital para que pudesse ser feito o exame nos pacientes internados”, recorda o cardiologista.
Outro item essencial que na época não se tinha era desfibrilador, equipamento utilizado em pessoas com parada cardíaca. “Era muito caro na época, o equipamento depois foi adquirido por doação de um fundo do governo”. Da mesma forma, o aparelho para aferição de pressão arterial ficava disponível apenas nos consultórios médicos e no hospital.
“A prevenção é uma realidade não só pelo número de consultas, mas com relação à mentalidade dos médicos de, além de tratar doenças, orientar para evitar problemas futuros.”
MOACIR EMÍLIO FERREIRA
Médico cardiologista