Dia de Finados movimenta a comercialização de flores em Mato Leitão

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A preparação para o Dia de Finados, celebrado na próxima segunda-feira, 2 de novembro, já movimenta os cemitérios de Mato Leitão. Para a moradora de Vila Sampaio, Eloci Terezinha Brandt Scheibler, 60 anos, além de ser um momento para limpar e decorar túmulos de familiares, o período também é dedicado a auxiliar outras pessoas na escolha por flores para enfeitar sepulturas. A produtora de verduras também planta e comercializa flores. Entre elas, estão os gladíolos (conhecidos popularmente como palmas de Santa Rita), que, nesta época do ano, são ainda mais procurados.

A safra de flores de Eloci é o ano inteiro, pois ela também tem rosas e gérberas, que são procuradas para eventos, decorações e até mesmo para presentes. Mas, em datas especiais, principalmente no Dia de Finados, ela tem mais procura. “Sempre tem demanda, mas nesta semana as encomendas aumentam. Só para sábado, tenho 20 arranjos para fazer”, comenta.

Conforme Eloci, este primeiro Dia de Finados vendendo flores, oficialmente, superou as expectativas e teve alta procura. “Não imaginei que teria tanta saída, porque algumas pessoas ainda levam flores artificiais, mas fiquei muito feliz e, no próximo ano, vou me preparar para vender ainda mais.”
Ela sempre teve muitos pés de flores plantados, que ao todo passam de 600, mas não comercializava e não tinha conhecimento técnico. “Meus vizinhos e amigos já compravam, mas comecei realmente a produzir para venda no início deste ano, com incentivo da Emater”, conta.

Desde que começou com a divulgação, a procura aumentou e Eloci teve ajuda técnica da Emater. “Com tanta saída, preciso de um ciclo mais rápido das flores e aprendi isso com técnicos. Eles me ensinaram como cortar uma rosa para que a outra venha logo e assim agora vou aprendendo e produzindo elas”, explica e lembra que as rosas foram as primeiras que plantou.

Por um tempo, a produtora também fez coroas de flores para velórios, porém, como a demanda de flores em arranjos aumentou, ela precisou parar. “É um trabalho mais delicado, mas também muito bonito, mas preferi focar nas flores e nas verduras que também tenho.”

MUDANÇAS

Eloci costuma ir ao cemitério limpar os túmulos dos avós e outros parentes que já faleceram, uma tradição que vem da infância. Ela percebe que os jovens de hoje em dia não fazem mais questão de manter essa cultura. “Quando não tinha nada para fazer, na infância, íamos no cemitério limpar e relembrar as pessoas. Hoje, moro perto e deixo os túmulos organizados. Tento passar isso aos meus filhos, mas temo que um dia a tradição se perca, até porque o tempo dos jovens é cada vez mais curto na vida corrida”, lamenta.

Outra mudanças que ela percebe no comportamento é a escolha das flores, pois na região, antigamente, se via mais procura por gladíolos e flores ditas ‘de cemitério’. Atualmente, ela afirma que diversas flores são utilizadas e deixam o local bonito. “Muitas pessoas pedem buquês de rosas vermelhas para levar, porque o tabu de ser só alguns tipos de flores já passou. E em velórios é o mesmo caso”, observa.

Eloci monta os arranjos e comercializa
Eloci monta os arranjos e comercializa (Foto: Eduarda Wenzel)

“As flores naturais são mais bonitas e vivas para essa data. Mesmo que vão murchar em alguns dias, o importante é levar e demostrar afeto a pessoa, assim como demostramos em vida.”

ELOCI TEREZINHA BRANDT SCHEIBLER
Produtora de flores

Pastora explica a tradição de homenagear os falecidos

A cultura de arrumar túmulos e enfeitá-los com flores vem do século XV, mas só em meados de 1700, a data de 2 de novembro foi consagrada como Dia de Finados, segundo esclarece a pastora Clarise Ilaine Wagner Holzschuh, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana de Venâncio Aires, que também abrange Mato Leitão.
Ela cita que esta é uma data importante, pois relembra quem já faleceu e faz com que continuem sendo parte da vida de quem está vivo, algo que a cultura evangélica incentiva. “Alguns cemitérios mais antigos são ao lado da igreja, porque assim é uma forma religiosa de deixar esse falecido fazendo parte da comunidade. E manter o espaço que ele está limpo e florido também é um forma de repeito e de fazer ele ser lembrado”, explica.
Os cemitérios, segundo a pastora, são locais sagrados feitos para aliviar um pouco a saudade. Mesmo em épocas que não havia locais tão definidos e organizados para o enterro de pessoas, o povo já celebrava a memória dos falecidos e relembrava eles. “É uma cultura de séculos. Cada geração cultivou a cultura com as ferramentas que tinha.”

CELEBRAÇÃO

Com a pandemia de Covid-19, ela acredita que um pouco do movimento nos cemitérios pode diminuir, porque algumas pessoas não vão viajar para visitarem os túmulos. Mas Clarise indica que as pessoas que não forem até os cemitérios podem celebrar a memória do falecido em casa. “É uma data em que a família se reúne para lembrar de quem partiu. Se não conseguir ir até o cemitério, pode se reunir em casa para lembrar de bons momentos com a pessoa e fazer uma oração para ela e para a família, pedindo força para superar a saudade e benção para quem partiu”, sugere a pastora.

“Limpar o túmulo e colocar flores são atos de carinho”, diz o padre Carlos Mueller

Um dia para recordar quem já se foi. É assim que o padre da Paróquia Santa Inês, Carlos Mueller, define o Dia de Finados. Ele observa que as pessoas não estão mais presentes, porém, as lembranças e os ensinamentos delas ficaram e, por isso, devemos relembrá-las. “Continuam fazendo parte da nossa história, então, limpar o túmulo e colocar flores são atos de carinho”, afirma.
O padre ainda compara a data com uma festa. “Quando temos uma festa, limpamos e enfeitamos o salão, para homenagear alguém, assim fizemos nos túmulos, para mostrar que ainda nos importamos.”
O pároco também destaca que este é um dos poucos feriados religiosos que se mantém no Brasil. “Antigamente tinha mais, agora eles estão mais regionalizados”, explica Mueller. Além disso, enfatiza que houve mudança no hábito das famílias cuidarem do cemitério. “Antes iam mais nesta data, mas percebo que, agora, os cemitérios e túmulos ficam sempre bem cuidados. Mas lamento que os jovens não possuem essa tradição, quem cuida são os mais velhos”, comenta.

  • Celebração das igrejas

A missa de Dia de Finados da Igreja Matriz Santa Inês será realizada no domingo, 1º, às 17h30min, em frente ao necrotério. Ela será ao ar livre para proporcionar mais espaço e evitar aglomeração.

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