Xadrez: o jogo da ginástica mental

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Já faz algumas semanas que uma minissérie da Netflix tem despertado a atenção para um esporte que também é considerado uma ciência e uma arte: o xadrez. ‘O gambito da rainha’ conta a história de Elizabeth Harmon, uma menina órfã que aprende a jogar xadrez com o zelador do orfanato onde vive e torna-se um prodígio do esporte, enfrentando xadrinistas consagrados mundialmente.

Em sete episódios, a minissérie envolve o expectador com os desafios e as conquistas de Beth. Ele apresenta a massiva presença masculina no meio do xadrez e permite que, por meio da trama, seja possível conhecer jogadas, as peças e ficar com muita vontade de aprender a jogar xadrez.

Foi exatamente assim, que integrantes da equipe do Na Pilha! se sentiram. Por isso, buscamos conversar com gente que entende – e muito! – do jogo para fazer esta edição especial sobre a temática.

Quando se fala em xadrez em Venâncio, o nome de Arcélio Wenzel, 67 anos, é referência. Ele aprendeu a jogar com 26 anos, quando se recuperava de uma cirurgia da coluna, com auxílio do amigo Lauro Füss. De lá pra cá, venceu diversos campeonatos na região, ensinou xadrez a muita gente e fez muitos se apaixonarem pela prática.

Integrante do Xadrez Clube de Venâncio Aires, ele organiza diversos torneios na cidade. Por ano, geralmente, são duas competições, mas, em 2020, os eventos não aconteceram em virtude da pandemia do coronavírus. “Xadrez é uma ginástica mental”, define, ao lembrar que o desempenho no tabuleiro está diretamente ligado ao raciocínio do jogador. “O objetivo do jogo é capturar o rei. Quem monta a melhor estratégia, certamente obterá a vitória”, explica ele, que, por muito tempo, sabia ‘de cor’ partidas de até 40 lances. “Uma jogada sempre leva a responder de uma forma. É preciso conhecer bem as peças e pensar desde o começo na estratégia”, ressalta.

Um fato peculiar envolvendo xadrez, na vida de Arcélio, é que ele disputou uma partida por correspondência com o amigo Lauro Füss, que mora em Belém, no Pará. A competição funcionou assim: Arcélio enviava uma carta para Lauro, indicando a jogada que desejava fazer. O outro, por sua vez, respondia e indicava qual a movimentação da peça que faria. A cada correspondência recebida, Arcélio marcava a jogada no tabuleiro, indicando a movimentação do jogo. A partida durou dois anos e oito meses. “Pegamos duas greves dos Correios durante o jogo, e ele terminou empatado”, conta Arcélio.

Arcélio organiza campeonatos e já ensinou xadrez a muitos venâncio-airenses (Foto: Juliana Bencke/Folha do Mate)

5 coisas para saber antes de começar:

1 O tabuleiro de xadrez é formado por 64 casas: 32 claras e 32 escuras, que se alternam. A primeira casa no canto direito deve ser uma branca e a do extremo esquerdo do tabuleiro deve ser uma casa preta.

2 O jogo é disputado por dois jogadores. Cada um tem 16 peças, que são dispostas no tabuleiro sempre da mesma forma.

3 Os nomes das peças fazem referência ao universo dos reinados da Idade Média: o rei, a dama, os bispos, os peões (soldados), os cavalos e as torres.

4 Cada peça tem uma jogada específica, uma forma de se mover no tabuleiro.

5 O objetivo do jogo é capturar o ‘rei’ do adversário, impedindo que ele se mova no tabuleiro.

Sobre as peças

Rei – É a peça principal do jogo, já que o objetivo é capturar o rei oposto.

Dama – Fica ao lado do rei. A peça se move em X (diagonal) ou em linha reta. Ela captura peças adversárias.

Bispos – São dois, posicionados ao lado do rei e da dama. Andam em X.

Cavalos – São dois e ficam ao lado dos bispos. Anda em L no tabuleiro: duas casas para a frente e uma para o lado ou uma casa pra frente e duas para o lado. Os cavalos são as únicas peças que pulam por cima de outras peças, sejam elas do oponente ou parceiras.

Torres – São duas, representam os palácios do império e ficam ao lado dos cavalos. Se movem apenas em formato de cruz (+).

Peões – Representam os soldados, que protegem o reino. São oito peças, todas posicionadas na linha de frente das outras peças. Na primeira jogada, os peões podem andar duas casas para a frente. Depois, andam de uma em uma e capturam peças do adversário em forma de Y. Quando chegam na linha de fundo do inimigo, podem ser substituídos por outras peças.

Quer aprender?

Segundo Arcélio Wenzel, que já ministrou oficinas em diversas escolas, junto de outros integrantes do Xadrez Clube de Venâncio Aires, é possível aprender o básico do xadrez em quatro aulas. “Nesse tempo, dá para aprender o ABC. Depois, é possível estudar jogadas em livros, desenvolver armadas e lances.” O aposentado se coloca à disposição para ensinar de forma voluntária grupos de quatro pessoas. Interessados podem fazer contato pelo telefone (51) 99839-8750.

Curiosidades sobre a minissérie
– O título ‘O gambito da rainha’ faz referência a uma jogada do xadrez, abertura na qual o jogador sacrifica um peão para acelerar o desenvolvimento das peças na partida. No Brasil, a estratégia é conhecida como ‘O gambito da dama’, já que a peça é chamada dama e não rainha.
– Ao longo dos episódios, são apresentados vários movimentos consagrados no tabuleiro. O melhor jogador de xadrez da história, Garry Kasparov, foi um dos conselheiros da minissérie.

“O principal do xadrez é aprender jogando”

Gabriel Miranda Gusson, 19 anos, aprendeu a jogar xadrez com 8 anos, com o pai e o irmão. Um padrinho, que também jogava, foi outra inspiração para ele. “Logo que aprendi, ia com um primo em campeonatos. Participei de muitos. Por uns dois anos, participava de um por mês. Posso dizer que aprendi a jogar xadrez de verdade perdendo, porque joguei muitos campeonatos e aprendia depois analisando as jogadas.”

Quando ingressou no Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) Venâncio Aires, ele voltou a jogar e participar de competições. Atualmente, com a pandemia, joga quase que diariamente, de forma on-line. “Jogo praticamente todos os dias e é muito interessante porque jogam pessoas de todo o mundo”, conta.

Para Gabriel, um dos aspectos que faz o xadrez ser um jogo especial é que ele envolve muita técnica, raciocínio e história. “É um jogo muito antigo e muito documentado, tem muita história por trás. Não é só um jogo de tabuleiro, tem uma história de centenas de anos, têm teorias e jogadores memoráveis. Acho que isso torna ele um jogo tão famoso e é por isso que gosto”, destaca.

Ele também observa que, apesar de existir há tantos anos, as regras permanecem iguais e há incontáveis combinações de jogadas. “É um jogo mágico. Mesmo jogando contra máquinas, que calculam inúmeras probabilidades, de forma muito mais rápida, grandes mestres de xadrez podem vencê-las. Isso é incrível.”

A dica do estudante para quem quer aprender xadrez é buscar aproveitar conteúdos disponíveis no YouTube ou sites específicos e começar a praticar. “O principal do xadrez é aprender jogando, aplicando a teoria. Depois, aos poucos, dá para ir estudando e se aprimorando.” Ele, que assistiu à série ‘O gambito da rainha’, também indica a obra tanto para quem já sabe xadrez, quanto para quem não conhece, já que ela enfoca vários aspectos do universo enxadrista.

Estudante do IFSul, Gabriel já participou de diversos campeonatos e pratica xadrez quase todos os dias (Foto; Arquivo Pessoal)

Um jogo de estratégias

Larissa de Quadros Bohn, 17 anos, aprendeu a jogar xadrez quando estava no 6º ano do Ensino Fundamental e, hoje, já carrega medalhas de competições da modalidade. Formanda do Ensino Médio do Colégio Gaspar da Silveira Martins, ela estudava na Escola Estadual de Ensino Médio Monte das Tabocas quando o xadrez foi proposto pela professora Liciane Martins, em uma aula de Educação Física. “No início tive dificuldade, é um jogo complexo. Mas aos poucos fui conhecendo as estratégias”, comenta.

Larissa guarda medalhas e troféus de competições (Foto: Cassiane Rodrigues/Folha do Mate)

A guria conta que sempre gostou de jogos de tabuleiro, acredita que tem cerca de 20 jogos em casa. “Minha mãe é professora, ela sempre me incentivou e presenteou com jogos. Perfil é um dos meus preferidos”, diz.

Sobre o xadrez, ela diz que curte por ser um jogo que faz pensar e desenvolve o raciocínio lógico. “Tem também as estratégias que podem ser usadas. Muitas pessoas acham que é um jogo demorado, mas é possível terminar uma partida com apenas duas jogadas”, relata.

A primeira participação em campeonato foi no Jogos Escolares de Venâncio Aires (Jeva), em 2014, que levou 1º lugar na modalidade xadrez. Com a colocação, ela representou o município nos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs), que naquele ano foi realizado em Rio Pardo, e alcançou o 2º lugar na competição.

Depois disso, foram mais seis medalhas. No 2º lugar do Jeva em 2016 e 2017 e 1º lugar no Jeva em 2018 e 2019. Em 2018, ficou no 4º lugar no Campeonato Municipal de Xadrez, realizado na sede da Paresp, e 1º lugar na mesma competição em 2019.

Quando trocou de escola, Larissa contou com o auxílio do professor de Educação Física Lucas Marmitt, o Turco. “Ele me apresentou outros campeonatos e comecei a participar”, afirma. Larissa treina muito pelo computador, com jogos de xadrez on-line. Além do esporte de mesa, ela também curte handebol, futsal, basquete e vôlei.

    

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