A Região Covid 28, que tem como cidade-polo Santa Cruz do Sul e que abrange, além de Venâncio Aires, os municípios de Herveiras, Mato Leitão, Pantano Grande, Passo do Sobrado, Sinimbu, Vale do Sol, Rio Pardo, Vale Verde, Vera Cruz, Candelária e Gramado Xavier, tem a segunda menor taxa de mortalidade em decorrência de Covid-19 para cada 100 mil habitantes entre as 21 regiões do Rio Grande do Sul.
Dados disponibilizados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) evidenciam que a Região Covid 28 tinha, até terça-feira, 22 (data da pesquisa feita pela Folha do Mate, pois os números são atualizados diariamente), 8.340 casos confirmados de coronavírus, número que representa incidência de 2.372,8 casos para cada 100 mil habitantes. Até o momento, 92 óbitos foram registrados na região, uma taxa de mortalidade de 26,2 para cada 100 mil habitantes: o índice só é pior que o registrado na região de Cachoeira do Sul (Região Covid 27), onde foram confirmados 46 óbitos – a taxa de mortalidade é de 22,7 para cada 100 mil habitantes.
Segundo o secretário municipal de Saúde, Ramon Schwengber, “estes dados são importantes porque mostram que, mesmo com muitos casos confirmados, o número elevado de pessoas doentes, a gente tem uma taxa pequena de mortalidade”. O titular da pasta ressalta que a ocupação atual dos leitos de UTI “confirma todo este cenário delicado”, mas entende que a rede de saúde da Capital Nacional do Chimarrão está fazendo a sua parte. “Óbvio que a gente lamenta cada morte, cada vida perdida, mas mesmo assim significa que o cuidado dos doentes tem sido muito bem feito aqui na região”, destaca o secretário de Saúde.
Cinco perguntas para a médica infectologista Sandra Knudsen
Qual a sua avaliação para o momento da pandemia que estamos vivendo?
Temos mais casos e, consequentemente, um aumento de internações. Agora vem o fim do ano e a gente sabe que é uma época de encontros. É tradição, tá perto, tá aí, então a gente se preocupa. Devemos ter os reflexos no início de janeiro. Estamos vivendo um momento bem delicado e é preciso que as pessoas mantenham os cuidados e evitem se contaminar.
Como estão os índices de infecção entre os profissionais da saúde?
Estamos muito preocupados com a baixa de profissionais de saúde. Sempre saliento que não basta ter leitos, pois um leito sozinho não faz nada. Precisamos de profissionais que estejam capacitados e treinados para atender os pacientes, principalmente em casos que exigem complexidade maior. As equipes de UTI têm número limitado de profissionais, tanto aqui em Venâncio Aires quanto em outros locais. Estão sobrecarregados há vários meses, principalmente porque colegas se infectaram e houve afastamentos. Também foram acometidos por outras doenças, que vêm do estresse e do cansaço. Não temos peças para substituir. A gente pode até aumentar leitos, mas não temos profissionais para atender as pessoas.
Em relação às vacinas, qual você acha que será a melhor para ser utilizada?
Tenho acompanhado muita conversa, fake news, pessoas assustando os outros, colocando em dúvida. O coronavírus não é novo, há estudos há pelo menos 15 anos sobre esta família de vírus. Vejo as pessoas questionando como conseguiram produzir vacinas tão rapidamente, mas a verdade é que a pesquisa já estava em andamento. O que houve agora foi o aumento da velocidade da pesquisa, por conta da pandemia, mas com utilização das plataformas que já existiam, para acelerar o processo. Nada foi feito do zero para ser testado na população. As vacinas foram daptadas, mas muita coisa já tinha sido descoberta e se aproveitou. Peço encarecidamente à população que não tenha medo de fazer a vacina. O risco de ter uma reação, que existe para qualquer tipo de vacina, é tão pequeno, tão ínfimo, em relação ao risco de ter a doença e complicar com ela, que não se justifica esse medo em não vacinar.
As pessoas, então, devem se sentir segurar para a vacinação?
É a única coisa que pode fazer diferença na nossa situação atual. Pode nos permitir voltar para a nossa vida, para os nossos hábitos sociais, principalmente. É a chance de recuperar, porque senão vamos ficar quanto tempo ainda marchando nesta situação, até atingir uma imunidade de rebanho pra frear este vírus? Quantas pessoas nós ainda vamos ter que perder pra este vírus? No momento que a pessoa se vacina está se protegendo e protegendo as pessoas próximas, que convivem com ela. Há medos difundidos, às vezes, por pessoas que nem são da área. Temos três tecnologias de vacinas diferentes que eu sei que vão ser utilizadas no Brasil. Uma é com o vírus vivo inativado, a outra é usando um vetor viral e a outra é a técnica do RNA, mas as três são seguras. Diferem um pouco na eficácia, mas eu, qualquer uma que vier, eu tô fazendo.
Nos últimos meses, reinfecções pelo vírus têm sido confirmadas no Brasil. Há algum caso em Venâncio?
Não tenho conhecimento de caso de reinfecção confirmado aqui. Pode ser que sim. Estive afastada, tive Covid, talvez a informação não tenha chegado. Tem que ter muito cuidado com esta história de reinfecção. Aqui em Venâncio, a gente testou muito as pessoas lá no início da pandemia com teste sorológico. Ele teve sua utilidade pra gente saber como andava a situação, mas o teste sorológico tem muito falso positivo. Muitas pessoas faziam sorologia, reagia num dos anticorpos e depois não se comprovou, não foi coronavírus. E aí estas pessoas agora fazem coronavírus e estão achando que é reinfecção. Pra ser considerado reinfecção, os critérios são os seguintes: ter dois episódios com diferença de pelo menos 90 dias de sintomas respiratórios diagnosticados por PCR, por técnica de pesquisa viral. Só aí que a gente pode falar em reinfecção.
Reinfecção em dúvida
A reportagem da Folha do Mate conversou com uma profissional de saúde de 26 anos que já teve dois diagnósticos positivos de coronavírus desde o início da pandemia em Venâncio Aires. A primeira confirmação se deu no dia 10 de agosto. “Fiz o teste sorológico, pois no dia 3 a minha mãe tinha testado positivo e eu tenho contato direto com ela. Deu bem no limite, mas indicou o vírus ativo”, recorda.
Na primeira vez, os sintomas foram “bem leves”, segundo a profissional de saúde. Dor no corpo, coriza, cansaço e dor de cabeça são os que ela lembra. Como não teve maiores problemas, a grande preocupação era não transmitir o vírus. O marido e a filha não foram infectados e, depois de 14 dias de isolamento, ela fez um teste rápido, que deu negativo e foi o ‘passaporte’ para que pudesse voltar ao trabalho normal.
Recentemente, ela fez novo teste, desta vez PCR, porque o marido se infectou, provavelmente no trabalho. Testou positivo e foi afastada das atividades. “Na segunda vez os sintomas foram muito fortes, principalmente dor no corpo e tosse. Também perdi o paladar e me cansava de fazer coisas pequenas. A sensação era de uma gripe muito forte”, relata, acrescentando que ficou com a respiração pesada.
Entre os medicamentos que utilizou estão Dipirona, Ibuprofeno e Dexametasona. A filha do casal também não foi infectada na segunda vez. Já recuperada, destaca que o momento é delicado e pede que as pessoas se cuidem. “Não chegamos a precisar de internação, nem eu, nem meu marido. Mas, no caso dele, fiquei bem preocupada, porque teve febre durante dois dias. Espero que isso tudo passe logo”, conclui.