A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina de todas as pessoas no mundo. A obrigatoriedade de ficar em casa e fazer trabalhos à distância trouxe à tona novas realidades. Algumas pessoas usaram a Internet para cumprir obrigações e encurtar distâncias entre amigos e familiares. Mas o isolamento social revelou que os estelionatários se renovaram e criaram um número ímpar de novos golpes, muito lucrativos por sinal. Até as perdas de documentos, sempre as ocorrências mais registradas, tiveram redução.
Prova da alteração causada pelo isolamento social são os números oficiais apresentados pela Delegacia de Polícia. Enquanto que em 2019 foram feitos 6.702 registros, este ano o número vai passar um pouco das 4 mil ocorrências. Até a segunda-feira, 21, eram 3.969 queixas feitas na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) e através da internet. Destas, 841 eram de perdas de documentos.
CRIATIVOS
Pela ordem o estelionato é o terceiro tipo de ocorrência mais registrada na DPPA (ficando atrás da perda de documentos e da violência doméstica). Golpistas são criativos e usam a ‘lábia’ como sua arma principal. Antigamente, o golpe mais conhecido era o velho e sempre atual conto do bilhete premiado. Mas para ele ser aplicado, duas pessoas precisam ter contato direito com a vítima, que é escolhida a dedo e abordada na rua, geralmente na área central da cidade, perto de uma agência bancária.
O conto do bilhete requer algum tempo para ser aplicado, mas depois que a vítima se sensibiliza e passa a acreditar que pode ganhar uma alta quantia em troca de um favor, está prestes a perder suas economias. Recentemente, uma mulher perdeu R$ 70 mil para uma dupla, em Santa cruz do Sul.
Em Venâncio Aires, entre o dia 1º de janeiro e 18 de dezembro, 240 vítimas de estelionato denunciaram o crime na delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Ao contrários de meses anteriores, a maioria das pessoas denuncia que foi vítima do golpe do nudez. “Mas a maior parte das pessoas que caem neste golpe fica no anonimato e não vem na Delegacia”, observa o delegado Vinícius Lourenço de Assunção.
O titular da DPPA acredita que nem a metade das pessoas que caem no golpe do nudez registra o caso. Recentemente, dois homens acabaram se suicidando após serem vítimas de estelionatários. “As pessoas imaginam que estão trocando mensagens e fotos íntimas com uma garota jovem e atraente e, na verdade, estão caindo no golpe. Depois passam a ser ameaçadas e chantageadas e começam a perder dinheiro”, explica o delegado.
Outro golpe bastante aplicado é do falso depósito bancário. As pessoas anunciam veículos e outros objetos para venda, nas redes sociais. Os estelionatários mostram interesse, acertam a compra (geralmente na sexta-feira à noite ou durante o sábado) e fazem o pagamento, simulando um depósito bancário. A vítima confere em sua conta e vê que o depósito foi feito, mas não se dá conta que a transação não foi efetivada e que o dinheiro não está na sua conta.
Neste meio tempo o golpista manda alguém buscar o bem comprado. Depois de feita a entrega, dificilmente o objeto é recuperado.
PERDA DE DOCUMENTOS
No entanto, levantamentos feitos na Polícia Civil mostram que a ocorrência mais registrada em 2020 foi a de perda de documentos. Conforme dados fornecidos pelo escrivão Cássio Oliveira, foram 841 registros de perdas entre 1º de janeiro e 18 de dezembro. Estatisticamente, são mais de 70 registros por mês.
O campeão de registros foi o mês de janeiro, com 118 ocorrências, seguido por setembro, com 88 registros. Os documentos mais perdidos são a carteira de identidade e a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas também há quem perca a carteira de trabalho e o Cadastro da Pessoa Física (CPF), por exemplo. Não raro, as pessoas perdem o próprio registro da perda do documento.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Em segundo lugar como ocorrência mais registrada em 2020 está a violência doméstica. Conforme o delegado Vinícius, a pandemia tem um pouco de culpa nestes índices, já que as pessoas se viram obrigadas a ficar mais tempo em casa. No período analisado foram registradas 290 ocorrências. Isso representa quase um caso por dia.
Em janeiro, por exemplo, quando ainda não havia restrições e a Covid-19 ainda não havia chegado no Rio Grande do Sul, foram registradas 32 ocorrências de violência doméstica. Também foi em janeiro que aconteceu um feminicídio, no interior do município.
Os números se mantiveram estabilizados, entre 21 e 29 casos até o mês de novembro, quando se registraram 30 ocorrências de violência doméstica. Nos 18 dias analisados no mês de dezembro foram registradas 13 casos de violência doméstica.
6702
é o número de ocorrências registradas em todo o 2019 na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Venâncio Aires. Isso representa quase 560 registros por mês. Este ano, por conta da pandemia, a expectativa é que sejam registradas pouco mais de 4 mil ocorrências.