Em outros anos, neste período, era comum ouvir o som da bateria, dos ensaios de fim de semana e o vai e vem da agulha, durante as madrugadas, enquanto Sandra Helena da Rosa, 52 anos, acompanhada da mãe, Cleny da Rosa, 72 anos, passava horas confeccionando as fantasias para os integrantes da Acadêmicos do Samba Négo.
Uma rotina que já se estende há muitos anos e foi interrompida em decorrência da pandemia de coronavírus, já que não haverá Carnaval em 2021. Segundo Sandra, a ideia de não estar presente na avenida em fevereiro foi sendo assimilada aos poucos. Mas o sentimento de cuidar mais do próximo e de se preservar, em meio à pandemia, fez ela enxergar o Carnaval com outros olhos.“Este é o ano para recarregar as baterias. É o momento para fazer uma análise para saber o que queremos para nós e para os outros”, avalia a porta-estandarte, que recorda que a escola de samba já havia ficado sem desfilar por dois anos consecutivos por falta de recursos.
Mesmo que as atividades e o envolvimento com a festa tenham sido temporariamente suspensas, ela afirma que nada a impede de criar e de se renovar para o próximo ano. “Fico pensando em novas ideias e naquilo que podemos fazer de diferente para 2022”, conta.
Desde os 14 anos, Sandra Helena integra o grupo da Acadêmicos do Samba Négo, de Venâncio Aires. Inspirada na família, que sempre esteve envolvida com a festa e a instituição, ela começou a se inserir como integrante das alas e, paralelo a isso, ajudava a mãe, que era costureira e hoje já é aposentada, a confeccionar as fantasias.
Depois de um período, Sandra Helena foi convidada a atuar como coordenadora das alas e a assumir cargos na diretoria da escola de samba, na qual permaneceu por quase 23 anos. Mas, de todas as conquistas, uma das mais especiais para ela foi o convite para ser porta-estandarte oficial do Négo. “Eu sempre me imaginava naquele lugar. Para mim, ser escolhida foi uma glória”, relembra a porta-estandarte, que está há aproximadamente 20 anos na função e tem como madrinha Leonor Pinheiro de Sá Lopes.
Para ela, estar à frente da escola do samba Acadêmicos do Samba Négo no desfile é uma grande responsabilidade. “Tenho muito amor e senso de responsabilidade pela escola quando estou assumindo este papel na avenida. Independente se a escola está competindo ou não, a integridade é a mesma, pois temos que ter muito respeito pelas pessoas que saem às ruas para prestigiar o Carnaval”, afirma.
“Tenho muito amor pela escola e não me vejo fora do Carnaval. Mesmo que não seja dançando, vou estar envolvida até meus últimos dias.”
SANDRA HELENA DA ROSA – Porta-estandarte e costureira da Acadêmicos do Négo
Lembranças do Carnaval
- Nos outros anos, neste mesmo período, Sandra Helena já estaria confeccionando as fantasias para os destaques, para a corte infantil e a dela, de porta-estandarte. Junto da mãe, que foi costureira da escola por muito tempo, ela fazia mais de 20 peças entre janeiro e fevereiro.
- Geralmente, durante este período Sandra, que trabalha como técnico administrativo na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) está em férias, para se dedicar aos festejos. Ela mantém uma rotina agitada desde o início do ano, aliando as costuras com os ensaios.
- Durante a semana, Sandra ‘entrava’ a madrugada costurando. Já nos fins de semana ela ‘virava’ a noite para confeccionar as fantasias que, na maioria das vezes, são bem elaboradas e exigem tempo e dedicação.
- Dos fatos inusitados que ocorreram durante estes quase 40 anos na escola, ela recorda que uma vez, ela estava com dor e, mesmo assim, desfilou do início ao fim da avenida, sem perder o sorriso no rosto e a alegria de estar à frente da escola.
- O Carnaval já é uma tradição na família. Sandra participa da Acadêmicos do Négo há quase 40 anos. Incentivada pela mãe Cleny da Rosa, ela transmite estes valores às filhas, Ana Laura, 25 anos e Ana Carolina, 28 anos e aos netos Pedro Henrique, 7 anos e Vicente Augusto, 7 meses.
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