A velocidade com que os casos de coronavírus aumentaram, em Venâncio Aires, nas últimas semanas, tem levado ao esgotamento do sistema de saúde e preocupado profissionais. Nos últimos dez dias, foram cerca de mil novos casos. Na terça-feira, 2, o município chegou ao recorde diário de 203 resultados positivos para a doença.
Para a médica infectologista Sandra Knudsen, uma soma de fatores contribuiu para se chegar ao cenário atual. Entre eles, as aglomerações que ocorreram no fim de ano, nas férias e no Carnaval, além de uma banalização da doença.
“No início, todo mundo se apavorou com imagens que a gente via do exterior. No decorrer do ano passado, teve momentos críticos, mas não a catástrofe que estamos vivendo agora. Os casos aconteciam aos poucos e as pessoas aprenderam a conviver com a situação. Acabaram se acostumando com a presença da Covid, relaxaram com os cuidados e voltaram aos hábitos”, observa. “Além disso, não é possível entender como, mas tem pessoas que até hoje não acreditam”, lamenta.
“Acredito que vamos ter dias ainda muito complicados pela frente, a onda não vai reverter de uma hora pra outra. As mutações vão ficar, e teremos que lidar com isso. Pelo menos os próximos 15 dias serão bem complicados.”
SANDRA KNUDSEN – Infectologista
Com o relaxamento dos cuidados, no entanto, e a demora para ampliar a cobertura de vacinação, o vírus acabou encontrando mais espaço para se multiplicar. Agora, ainda mais agressivo. “Com certeza, estamos enfrentando alguma mutação do vírus”, afirma Sandra.
Segundo ela, dois fatores ligados a essa modificação do coronavírus são responsáveis pelo aumento progressivo de casos e o agravamento deles. Um aspecto é que o vírus é mais transmissível. Se antes, em uma família, havia situações em que apenas uma pessoa se contaminava, agora, é praticamente impossível que isso ocorra. “O coronavírus deve ter sofrido mudanças na sua estrutura, que permitiram uma capacidade ainda maior de entrar no organismo, nas células humanas, e causar a doença”, explica a infectologista.
Vírus mais agressivo
Paralelamente, o que os profissionais têm percebido é que o vírus está mais agressivo. “Antes, acontecia a doença mais grave quando a imunidade do organismo estava prejudicada de alguma forma, especialmente naqueles chamados grupos de risco, idosos e pessoas com comorbidades, que têm imunidade menor”, lembra Sandra.
“A média de idade dos pacientes diminuiu muito. Temos pessoas com 31, 32 anos na UTI com quadros gravíssimos, com pneumonia e insuficiência respiratória. Antes, as pessoas idosas ou com comorbidades eram consideradas grupo de risco, mas agora a preocupação são as pessoas mais jovens.”
“Agora, o vírus está conseguindo invadir e causar doença grave em organismos que têm imunidade normal, pessoas jovens e sem comorbidades estão tendo doença grave, precisando de respirador, de UTI”, completa. Pacientes na faixa dos 30 e 40 anos têm sido frequentes no hospital, nas últimas semanas, com necessidade de UTI.