O sábado, 27, marcou a vida de Adelaide Beatris Scheibler, 30 anos, como a data em que ela precisou se despedir do marido, Anderlei João Stoll, 43 anos, mais conhecido como Lei. Isso aconteceu depois de o morador de Mato Leitão ter ficado mais de um mês internado no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) lutando contra a Covid-19. “Ele era uma pessoa muito alegre e que ajudava todo mundo. Eu, às vezes, até brigava com ele, porque parecia que se importava mais com os outros do que com nós”, relembra, emocionada, Adelaide.
De acordo com ela, o marido também gostava muito de jogar bocha e se reunir com os amigos. “Ele também era um grande pai”, acrescenta. E é justamente nos dois filhos que a moradora da Linha Hillesheim, no interior de Mato Leitão, tem encontrado forças para superar a perda do marido. “É muito difícil, a gente quase não acredita que isso aconteceu. Falar dele é só lembrar de coisas boas. Ele era uma pessoa de muitos amigos, sempre participava de tudo, principalmente quando envolvia a bocha”, ressalta.
Sintomas e internação
Adelaide recorda que os sintomas do marido começaram no sábado, 13 de fevereiro, quando ele começou a reclamar de dor no corpo. No domingo, o quadro piorou e ele decidiu fazer um teste para diagnóstico da Covid-19 em uma farmácia de Venâncio Aires, que teve resultado positivo. Na quarta-feira, 17, ele procurou atendimento médico no posto de saúde de Mato Leitão e recebeu o tratamento para a doença.
Depois disso, ele teve uma melhora, mas ainda tinha dor no corpo, tosse e dor de cabeça. Contudo, na sexta-feira, 19, ele voltou a se sentir mal e precisou procurar atendimento novamente. Como a saturação havia baixado, ele foi internado no Hospital São Sebastião Mártir. Antes, ligou para a esposa para avisar sobre a situação. A última vez que Adelaide conversou com o marido foi quando ele já estava hospitalizado na casa de saúde venâncio-airense e havia sido informado que os pulmões tinham sido atingidos pela doença. No sábado, 20, ele foi encaminhado para a UTI e intubado. O comprometimento pulmonar já era de 70%.
Apesar da internação, Adelaide relata que, com o passar dos dias, Lei apresentou melhoras, o que dava esperança para a família de que ele se recuperaria e receberia alta. Inclusive, houve um momento que a equipe médica diminuiu a quantidade de sedativo e Adelaide conseguiu conversar com ele. “Ele estava semiacordado, mas quando eu chamava o nome dele, ele abria os olhos. Eu tinha muita esperança, achava que ia dar tudo certo”, compartilha.
Uma semana antes de falecer, Lei chegou a ser extubado (retirada da intubação) e fez uma traqueostomia. “Nós rezávamos muito, fazíamos correntes de oração. Eu deitava de noite e pensava que a única coisa que eu queria era que ele voltasse para casa. Mas, por fim, isso não se realizou. Me despedir dele foi a pior coisa que eu já fiz na vida”, destaca.
Adelaide, que também positivou para a doença, mas teve sintomas leves, salienta que o marido foi muito guerreiro, pois lutou quase 40 dias para vencer a Covid-19. Ela também observa que ele não tinha comorbidades.
Para a comunidade, ela deixa como alerta que todos se cuidem. “Esse vírus não está de brincadeira. Ele ataca mesmo.” Anderlei era natural de Cruzeiro do Sul e tinha três filhos: Niele, de 13 anos, do primeiro casamento, Mathias, 8 anos, e Manuela, 7 meses, do relacionamento com Adelaide. Ele é a vítima mais jovem do coronavírus em Mato Leitão.