As pequenas propriedades de Venâncio Aires estão se destacando pela aposta na diversificação. A procura e o incentivo na busca de outras culturas faz com que jovens permaneçam no campo e o produtor tenha uma infinidade de opções para trabalhar.
Além de fazer o que gosta, o agricultor de Linha Cerrito, André de Oliveira Pereira, 38 anos, encontrou no gado de corte uma renda extra, além do arroz, que é o carro-chefe da família. “Eu gosto muito do que faço e queria diversificar. Como tenho uma área muito ‘acidentada’, com um relevo ondulado, não teria como apostar em culturas anuais. Decidi que era hora de cuidar do solo também, precisava ter um equilíbrio ecológico na propriedade”, destaca.
Desde 2016, Pereira iniciou o manejo do gado de corte, mas há cerca de dois anos que a propriedade passa por um processo de evolução e acompanhamento técnico. “Agora a gente intensificou com a produção, isso para ter mais rentabilidade. Aquela pecuária antiga não tem mais vez”, enaltece o agricultor. Hoje, nos 10 hectares, Pereira se dedica aos cuidados de 33 animais. A meta é chegar a cinco animais por hectare.
Assistência
O desejo de todo produtor é criar o gado com eficiência, produzir carne de qualidade em um menor espaço de tempo e com menos custo. Conforme o médico veterinário Felipe Kunkel Bülow, que presta assistência na propriedade de Pereira, a partir de um bom manejo é possível a conquista de bons resultados. “Trabalhar com gado de corte é trabalhar com pilares. Eu diria que os fundamentais são a nutrição e sanidade do animal. Com a vacinação em dia e a nutrição adequada, a gente consegue evitar muitas doenças, afinal o animal está com sua defesa em dia”, comenta Bülow.
Há 11 anos atendendo propriedades rurais do município, o veterinário ressalta que a maioria são pequenas propriedades e uma grande parte dos produtores já consegue bons resultados. “Hoje o trabalho se tecnificou. Precisa de técnica para rentabilidade em pequenos espaços”, aconselha.
Produtividade
O engenheiro agrícola do escritório municipal da Emater/RS-Ascar, Diego Barden dos Santos, presta assistência técnica na propriedade de Linha Cerrito há cerca de dois anos, e observa que um dos diferenciais de Pereira é a busca por informação. “Ele é um produtor que busca muita informação e discute ela, adapta de acordo com a realidade aqui”, analisa.
Santos ressalta que o município vem crescendo com a qualidade e produtividade do gado. “A gente não está ampliando área, mas nossa qualidade na produção, isso é um diferencial, pois lá na ponta tem uma carne de extrema qualidade em pequenas propriedades”, diz.
Apesar de ainda ter animais de cria, o foco do produtor de Linha Cerrito, há cerca de seis quilômetros de Vila Palanque, é apostar no gado de terminação e animais com genética para oferecer aos consumidores de carne de qualidade, animais precoces e com excelente acabamento de carcaça.
31 mil
é a quantidade aproximada de bovinos em Venâncio Aires.
Parcerias consolidadas
- O trabalho do produtor, em parceria com o engenheiro agrícola e veterinário, iniciou com análise de solo, projeção de piquetes e aproveitamento de área. “É um grande projeto”, reforça Pereira.
- Após o pontapé inicial e a decisão pela intensificação, foram verificadas as aptidões agrícolas do solo e a decisão de qual semente forrageira seria a ideal para o gado naquele espaço. “Optamos pela braquiária, ela tem como principais características resistência, alta produção de forragem, persistência, boa capacidade de rebrota, tolerância ao frio e à seca. Mas o grande diferencial da propriedade é o manejo correto na rotação do gado nos piquetes, explica Santos.
- Pereira tem cerca de 50 piquetes na propriedade, todos com quase dois mil metros quadrados cada. “A gente coloca o gado no piquete que está em melhor ponto de folha”, complementa o agricultor. As pastagens, segundo ele, tiveram um investimento muito grande, e muitos resultados estão começando a aparecer agora. “Nada é de uma hora para a outra. Demanda tempo, dedicação e paciência. Mas sempre falo, tu só pode criar gado se tu gosta”, conclui.
“Não existe manejo certo, existe manejo adequado. O que funciona na propriedade do André, talvez não vai funcionar em outra. Mas o produtor precisa de assistência técnica e muita informação, ele precisa ir em busca das informações também, ver se aquilo pode dar certo ou se pode ser adaptado.”
DIEGO BARDEN DOS SANTOS
Engenheiro agrícola
Gestão da propriedade é um dos diferenciais para bons resultados
Ao lado da esposa Marinês Arsego, Pereira tem como objetivo seguir inovando e modernizando a propriedade. “Nosso foco vai ser produzir gado gordo de qualidade, sem esquecer do mais importante, que é promover o bem-estar animal, redução de custos e padronização”, afirma. Hoje, mensalmente o casal faz a pesagem dos animais. “Com isso a gente identifica os problemas mas rapidamente”, comenta Pereira. “Nossa meta é melhorar a gestão da nossa pequena propriedade”, completa.
“Não é de um dia para o outro para chegar onde cheguei, isso que tem muito para evoluir ainda.”
ANDRÉ DE OLIVEIRA PEREIRA
Produtor de gado
O gado de Pereira está nos piquetes com pastagem, mas na parte da noite todos vão para o cocho. São dois motivos: quando necessário, os animais ganham uma suplementação alimentar, ou algum remédio. “E a gente precisa cuidar dos nossos animais, fugir do abigeato. Aqui nunca tive problema com o gado, mas meus vizinhos já tiveram grandes prejuízos. Nosso próximo investimento é colocar câmeras de videomonitoramento em toda a pastagem e propriedade”, salienta.
Pereira vende os animais para um frigorífico de Cruzeiro do Sul. Cada animal chega a cerca de 450 quilos quando vai para o abate. “O produtor não define mercado. Ele precisa fazer o dever de casa, ter um manejo adequado e fazer o trabalho dele bem feito”, aconselha Santos.
450 quilos
é o peso aproximado de cada animal quando vai para o abate.
20 mil
é o número de hectares com pastagens para as criações (bovinas, ovinos e caprinas) em Venâncio Aires.
