Quando vamos ao supermercado, antes mesmo de entrar, nos deparamos com as promoções do dia estampadas em painéis e cartazes. Letras curvadas, garrafais, com diferentes cores e tamanhos informam que há promoções de frutas e verduras. O profissional que tem a responsabilidade de divulgar esses preços é o cartazista. É ele que, com suas canetas, tintas e folhas – e com seu talento – chega mais cedo ao supermercado para garantir a divulgação dos valores de produtos.
A jovem Amanda Taís Richter 21 anos é a cartazista do supermercado Rede Vivo de Venâncio Aires. Ela iniciou no local como jovem aprendiz. Após, a função passou a ser operadora de caixa e agora está há pouco mais de um ano como cartazista. Amanda revela que foi uma surpresa se desenvolver tão bem na área. “Sou canhota, nunca achei que tinha uma letra boa para fazer isso. Demorei um pouquinho para pegar a prática”.
Dia de promoções
Nos dias com mais promoções, Amanda chega ao supermercado uma hora e meia antes de abrir, toma conhecimento dos preços do dia e vai para o local onde faz os cartazes. Ela usa um kit com canetas especiais para fazer os cartazes internos e, para a exposição externa, são usados canetões normais. Uma solução especial, chamada Metiq, é usada para limpar os painéis da rua, para que todos os dias os preços sejam modificados. “As folhas já vêm da gráfica prontas, tem modelos de destaque de preços e ofertas, também são diferentes as que vão dentro e fora do mercado. Cores, usamos duas, o preto para descrição do produto e vermelho para o valor”, explica Amanda.
A cartazista confessa que um dos números mais difíceis de fazer é o dois. “Olha que tem bastante ofertas com esse número”, observa. Também é esse número, segundo Amanda, que traz o estilo próprio do profissional. “O número dois é o principal. É nele que cada cartazista traz sua personalidade”, revela. Para Amanda, a profissão é uma das responsáveis por atrair o cliente para o supermercado. “Tem dias que são bem corridos, os preços variam muito e temos que acompanhar”, completa. Para controlar os locais onde estão os cartazes com cada preço, Amanda guarda tudo na memória. Às vezes, são mais de três lugares em que um único preço está exposto, e toda vez que o valor muda, tem que ter o cuidado de modificar em todos os lugares.

Importância do cartazista
O gerente da unidade, Juliano Morais de Lima, destaca que o processo antigo é a essência do ramo. “Se, do nada, trouxéssemos cartazes impressos, ficaria muito mecânico”, considera. O supermercado existe há 16 anos no município e sempre teve um profissional cartazista para expor os preços dentro e fora do local.
Para Morais, a profissão é indispensável para uma boa divulgação dos produtos. “É a Amanda que geralmente me passa se falta algum produto da promoção, tem todo um controle. Ela é uma das primeiras a chegar para já fazer os preços”, destaca.
Uma responsabilidade do profissional cartazista é destacar bem o preço e atrair os clientes. “A Amanda usa o recurso de chamar atenção também com desenhos quando temos datas especiais, como foi na Páscoa. Costumo dizer que, ou a pessoa tem vocação ou gosta muito do que faz”, afirma. Morais ressalta que a empresa não pretende trocar o método, que funciona há tanto tempo e é a ‘cara do mercado’.
“Pretendo permanecer por muito tempo nessa profissão, não me vejo em outra função. Nunca tinha me arriscado, e agora vejo como gosto de trabalhar com isso.”
AMANDA TAÍS RICHTER
Cartazista
“O recurso antigo ainda é mais rápido e acessível”, analisa professor
O professor dos cursos de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Rudinei Kopp, explica que, mesmo que existam tecnologias e sistemas de impressão que poderiam ser utilizados para a divulgação dos preços promocionais nos supermercados, há motivos para manter a escrita manual. Dentre eles, a velocidade. Não é preciso ligar nenhum computador e escolher um software para imprimir. “O varejo necessita dessa velocidade, as demandas são muitos imediatas. Em pouco tempo os preços devem estar nas gôndolas e as promoções mudam rapidamente”, observa o publicitário, que é mestre e doutor em Comunicação Social.
Outro motivo é o custo. “Trabalhar com sistemas de impressão não é barato, dependendo ainda é preciso recorrer para um fornecedor externo, gerando mais custos”, comenta. Kopp ainda destaca que, nesses casos, a agilidade seria diminuída, com processos de encaminhamento de arquivos e busca do material impresso.
Kopp defende o uso dos cartazes como uma linguagem visual que está incorporado ao cotidiano. “As pessoas estão habituadas a ver sendo feito dessa forma. Cria uma familiaridade e os profissionais acabam criando também o próprio jeito e particularidade”, reforça. O professor considera que não existe mais a mesma quantidade de profissionais neste ramo, que trabalhavam há 30 anos, mas a profissão ainda se mostra interessante e com sentido.
Aliás, ele mesmo já atuou como cartazista, quando tinha 16 anos. “Na época não tinha muitas opções, eram feitos somente cartazes à mão”, revela. A oportunidade também era porta de entrada para quem tinha o objetivo de trabalhar com design.
Lettering
A técnica mais usada pelos cartazistas, segundo o professor Rudinei Kopp, é a de lettering, quando a letra desce mais grossa e forma voltas em cima, de forma mais fina. “Imita um pincel”, compara. Cada estabelecimento acaba criando seu estilo de letra: algumas mais complexas, outras mais objetivas. Kopp explica que esse processo de criação própria pelo indivíduo com certo vínculo local é chamado de design vernacular. “Acaba se tornando um jeito muito próprio de um lugar se expressar. Cria uma forte identidade, é um diferencial de comunicação e humanização”, afirma.
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